Folia de Reis
Verdadeiro desenvolvimento é aquele que se alcança nos campos social e econômico, mas sem prejuízo da cultura popular. Cuiabá é cidade em transformação e se prepara para chegar ao tricentenário em 2019 com boa qualidade de vida e sem os problemas que ora enfrenta com transporte, trânsito, habitação, segurança e saúde. Mas, nesse contexto não há praticamente nenhum espaço para a atividade cultural.
Mato Grosso é rico em tradição cultural e sempre foi palco da musicalidade e da dança pontificando o Cururu e o Siriri, mas sua diversificação no campo da cultura é bem maior e inclui a Folia ou Terno de Reis, manifestação de âmbito quase universal entre cristãos como parte dos festejos pelo nascimento do Menino Jesus.
Hoje, é seis de janeiro, “Dia de Reis”, data consagrada aos Reis Magos pela tradição cristã, pois nesta data Belchior ou Melchior, Baltazar e Gaspar, que seriam magos teriam visitado Jesus e sua mãe, Maria, no estábulo onde o Menino nasceu. Nessa visita o teriam presenteado.
Mais que simples visita ao Menino, os três reis magos teriam evitado que o rei Herodes o matasse. Daí, tempo depois surgiu a comemoração pela preservação da vida de Jesus. Para tanto, cristãos saem pelas ruas e caminhos em blocos, trajando roupas de época, com instrumentos musicais e cantorias louvando Baltazar, Gaspar e Belchior.
Em Mato Grosso a tradição da Folia de Reis atravessou séculos. Até recentemente era um dos pontos altos do calendário cultural popular e, nessa condição, contava com apoio oficial e da igreja católica. Porém, nos últimos anos, tal manifestação perdeu intensidade, murchou e ora está muito próxima da extinção.
A Folia de Reis morre. Com ela também se apaga parte da cultura mato-grossense. Se ações de governo não forem adotadas essa e tantas outras manifestações desaparecerão, porque atividade cultural exige permanente renovação, o que ora lamentavelmente não acontece.
Excelente é saber que Cuiabá tem bom planejamento urbanístico, que recebe investimentos empresariais e cresce. De igual modo é gratificante observar que o mesmo ocorre em relação a Mato Grosso. Mesmo assim é altamente preocupante que paralelamente ao curso desenvolvimentista não haja espaço para a preservação dos valores culturais, como a Folia de Reis.
Tomara que ao conjunto de obras previsto para a realização da Copa do Pantanal em Cuiabá e Várzea Grande haja espaço para o setor cultural. Tomara também que todas as manifestações nessa área encontrem acolhida na vastidão territorial mato-grossense, para que os previsíveis avanços sejam completos e não meros bolsões de desenvolvimento econômico e social numa terra árida de Cultura.
Que a rica, bonita e plural cultura desta terra ocupe o lugar que lhe está reservado no contexto mato-grossense, porque além de preservar tradições e memória, toda manifestação cultural gera emprego, distribui renda, contribui para o aumento do fluxo turístico e movimenta vários segmentos econômicos.
“A Folia de Reis morre. Com ela também se apaga parte da cultura mato-grossense”
Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.
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