Há décadas se embrenhando na Amazônia, o peruano Marc Dourojeanni já comandou o setor de florestas de seu país e há mais de 15 anos escolheu o Brasil como lar. Virou sumidade quando o assunto é a maior floresta tropical do planeta. Do alto de seus cabelos brancos e de seus incontáveis artigos científicos, Dourojeanni faz contraste com a festa brasileira em cima da queda do desmatamento.
Para ele, os problemas que a região enfrenta continuam par a par com a grandeza de sua área. Até porque, além dos 4,2 milhões de quilômetros quadrados de Amazônia brasileira, ainda há 2,7 milhões de quilômetros quadrados de floresta espalhados por outros oito países sul-americanos.
Se no Brasil 18% da mata original já foi para o chão, quando se fala de toda a Amazônia a conta aumenta: cerca de 40% foram derrubados. E mais de 80% da floresta já sofreu algum tipo de degradação. São esses dados que Dourojeanni apresenta em entrevista ao site O Eco.
Conhecedor da região, o peruano mostra que a dinâmica da devastação segue linhas semelhantes aqui e lá fora. As leis existem, são boas, mas são ignoradas, além de serem a todo momento modificadas – quase sempre enfraquecidas. As áreas protegidas seguem sofrendo pressões em suas bordas. E a dinheirama que chega de outros países para auxiliar na conservação das matas nem se compara com os investimentos para explorar a região de forma predatória.
Enquanto o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) brasileiro anuncia obras faraônicas em sua porção amazônica, no Peru 80 bilhões de dólares já estão separados para fazer o mesmo: plantar estradas e hidrelétricas no meio de rios e matas. Tudo isso com a bênção – e a grana – de governo e empresas brasileiras.
Apesar de ser uma grande conquista, a queda do desmatamento no Brasil não acabou com os problemas da Amazônia. E como prevê Dourojeanni, se não mudar a lógica do desenvolvimento a qualquer preço, um novo ciclo de destruição pode cair sobre a região.
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