Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A ciência em cordel


Ações do documento
 

 
Embrapa lança livro em cordel enfocando o avanço da ciência para crianças

A evolução da pesquisa de reprodução animal no Brasil, desde a época do descobrimento, até o nascimento do primeiro animal clonado no país, a bezerra Vitória, é o tema do livro "Brasil – do descobrimento à Vitória", que está sendo lançado pela EmbrapaRecursos Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Informação Tecnológica, unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O livro que é dirigido ao público infanto-juvenil, tem como autor o técnico da Empresa, Edvalson Bezerra Silva. Escrito em versos, a obra procura divulgar a ciência em uma linguagem simples, para facilitar a compreensão do público em geral, especialmente de estudantes do ensino médio e fundamental.

O livro é ilustrado, com textos curtos e letras grandes para facilitar ainda mais a compreensão da leitura e, assim, possibilitar que o público "mergulhe na ciência", como afirma o autor. A idéia de divulgar a evolução da ciência no Brasil na linguagem e musicalidade do cordel, inédita no Brasil, partiu da vontade de Edvalson de que o livro alcance um público maior, incluindo aqueles que não sabem ou que não gostam de ler, já que o conteúdo permite que ele seja cantado. Ele cita como exemplo a história de Lampião e Maria Bonita, que é conhecida por todo o povo do Nordeste, mesmo os iletrados, pela forte influência do cordel naquela região.

Para explicar a clonagem, que deu origem à bezerra Vitória daEmbrapa, um marco para a ciência brasileira como o primeiro animal clonado no Brasil e na América Latina, o autor lançou mão, além do cordel e desenhos, de fotos e esquemas explicativos, diante da complexidade do tema. "Várias dessas técnicas já estão à disposição dos pecuaristas brasileiros para o melhoramento genético animal, e todas podem ser utilizadas para a preservação de raças de animais domésticos ameaçadas de extinção. No futuro, quem sabe, possam ser usadas também para a conservação de espécies silvestres", afirma Edvalson.

Por mais que tentasse fugir da aridez do linguajar científico, o autor explica que muitas vezes algumas palavras e expressões técnicas tiveram que ser mantidas e, por isso, o livro contém também um glossário, que explica o seu significado em uma linguagem acessível.

Esse livro é a primeira iniciativa de divulgação científica em cordel, mas Edvalson já tem planos para outros na mesma linha. "A pesquisa com animais é apenas uma pequena parcela do trabalho da Embrapa. Existem outras pesquisas de importância para a agricultura brasileira que precisam ser divulgadas, especialmente para as crianças, já que serão os futuros condutores da pesquisa científica no Brasil. E essa série poderá complementar o currículo escolar que não acompanha o ritmo dos avanços científicos", finaliza o autor. O livro, que tem 86 páginas, pode ser adquirido através do endereço eletrônico:vendas@cenargen.embrapa.br.


Fernanda Diniz - MTb 4685/89/DF
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Contatos: (61) 448-4769 e 448-4770 - fernanda@cenargen.embrapa.br

Cordel e ciência – a ciência em versos populares


Cordel e ciência – a ciência em versos populares












Cordel e ciência – a ciência em versos populares
Organizadores: Ildeu de Castro Moreira, Luisa Massarani e Carla Almeida
Editora Vieira & Lent
256p. R$ 23,00













 
 
Cordel e ciência é uma coletânea de 22 folhetos escritos por cinco nordestinos que elegeram como mote questões e fatos relacionados à ciência. Estes versos populares oferecem uma leitura prazerosa sobre relatos de descobertas científicas, questões relacionadas à saúde (dengue, vacinação, transplante, diabetes), ao meio ambiente (fauna e flora), episódios da vida de cientistas (Newton, Einstein, Sabin, Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Galileu, Hipócrates, Arquimedes e Kepler) e descrições de acontecimentos astronômicos (a conquista da Lua, o cometa Halley e outras).
O livro mostra que grandes nomes da literatura de cordel têm aberto espaço para discutir a ciência em seus folhetos. Alguns deles, como Gonçalo Ferreira da Silva, que é presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, vêm se dedicando nos últimos anos a escrever biografias de cientistas e filósofos que marcaram a história da ciência e do pensamento humano. Já Manoel Monteiro assumiu a tarefa de informar e alertar seus leitores sobre temas relacionados à saúde. Outros cordelistas usaram também a criatividade para explorar temas importantes relacionados à ciência e à saúde, como Raimundo Santa Helena, Eugênio Dantas de Medeiros e Edmilson Santini.
O objetivo do livro é, além de proporcionar maior alcance ao trabalho imaginativo desses poetas, sugerir que o cordel e outras formas de expressão populares podem ser tomados como interessantes pontos de partida para se analisar determinados aspectos da relação entre ciência e sociedade e que podem mesmo ser utilizados como um instrumento adicional de divulgação científica, especialmente junto aos setores populares. Os organizadores da coletânea - Ildeu de Castro Moreira (do Instituto de Física da UFRJ), Luisa Massarani e Carla Almeida (ambas do Museu da Vida da Fiocruz) - esperam que esta ferramenta poética estimule a reflexão e o uso mais amplo de formas alternativas de popularização da ciência. O livro, publicado pela editora Vieira & Lent, será lançado nesta segunda-feira (12/12), a partir das 19h, no Museu da República (Rua do Catete 153), no Rio de Janeiro.

Os cordelistas
Os autores que participam de Cordel e ciência são cinco: Edmilson Santini, pernambucano, nasceu em 1955. Mora no Rio de Janeiro e se dedica ao teatro em cordel; Eugênio Dantas de Medeiros nasceu em 1939, no Rio Grande do Norte. É formado em filosofia e pedagogia. Ocupa a cadeira número 10 da Academia dos Cordelistas do Crato; Gonçalo Ferreira da Silva nasceu em 1937, no Ceará. Vive no Rio e é presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC); Manoel Monteiro, pernambucano, nasceu 1937. É um dos mais importantes cordelistas brasileiros em atividade; Raimundo Santa Helena nasceu no Ceará, em 1926. Tem cerca de 300 títulos em circulação. Foi criador da Feira de São Cristóvão.




http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=181&infoid=21&sid=10

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Encontro Marcado de Fernando Sabino


O livro de Fernando Sabino sobre trajetória de um jovem surpreendeu a crítica na época por sua aderência ao real e por retratar as desilusões de uma geração em crise


11/07/2011 19:41
Texto Daniel Schneider e Thiago Minani
Bravo
Foto: Ricardo Chaves
Foto: Mestre das crônicas, Fernando Sabino esteve ligado a grandes escritores desde sua juventude
Mestre das crônicas, Fernando Sabino esteve ligado a grandes escritores desde sua juventude
Segundo o escritor Tristão de Athayde, O Encontro Marcado (1956), de Fernando Sabino, constituiria o "drama de uma geração". Embora a afirmação esteja correta, é preciso explicá-la melhor: o romance se afirma como sinal de uma época, mas de uma época plasmada pelos olhos de um único personagem, o do escritor Eduardo Marciano. Há dezenas de outras figuras na história, entre amigos, namoradas, a esposa, mas todos servem para esclarecer a trajetória do protagonista. Como bem disse o crítico Wilson Martins: "Os demais personagens do romance, mesmo os que se criou com maior felicidade, se confundem numa espécie de segundo plano brumoso e vago. Eles não têm fisionomia: são corpos fluidos, flutuando na neblina (...) O drama de Eduardo não é o de viver um destino comum com sua geração, mas o de viver uma solidão que o separa irremediavelmente dos homens".

A época de Eduardo Marciano, sua biografia enfim, confunde-se bastante com a do autor, a ponto de muitos acreditarem que se trata de um romance semi-autobiográfico. Nas confusões do grupo escolar em Belo Horizonte; nos papos posteriores com os amigos, em que a boemia se mistura a discussões literárias; na busca por um emprego por meio do qual pudesse se sustentar para levar adiante a vocação para a escrita; no matrimônio em crise — em cada um desses momentos, pode-se imaginar se Sabino não estava descrevendo situações pelas quais passou. Na verdade são situações pelas quais o autor poderia ter passado, tal o nível de aderência ao real que caracteriza o texto.

Encontro Marcado mostra, principalmente, a angústia de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Nesse sentido, é, sim, o drama de uma geração; uma geração dilacerada entre os altos anseios e o muro de uma realidade turva, que teima em quebrar-lhe as expectativas. "De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar", diz o narrador sobre Eduardo. A geração de Sabino bebeu em Jean-Paul Sartre e em Albert Camus, e o existencialismo dos dois filósofos franceses foi seu néctar amargo. Por isso, é precisa a definição do também escritor mineiro Lúcio Cardoso ao dizer que o livro é "a violenta história de uma náusea", referindo ao título de um romance de Sartre.

Nascido em 1923 em Belo Horizonte, Sabino uniu-se na juventude a Hélio Pelegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos em intensa convivência que perduraria a vida inteira. Chamou a atenção dos críticos com a novela A Marca, de 1944, ano em que se casou com Helena Valadares, filha do então governador de Minas. No Rio de Janeiro, para onde se mudou, se liga à roda de escritores, da qual faziam parte Aníbal Machado e Carlos Drummond de Andrade.

Sabino foi um mestre também nas narrativas curtas e nas crônicas, publicando nesses gêneros O Homem Nu, A Mulher do Vizinho, A Inglesa Deslumbrada e Deixa o Alfredo Falar!. Em 1979 lançou seu segundo romance, O Grande Mentecapto, retomando uma história iniciada 33 anos antes. Morreu em outubro de 2004, no Rio de Janeiro. Encontro Marcado, seu maior êxito, hoje se encontra na 67ª edição.

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/encontro-marcado-402981.shtml?utm_source=redesabril_educar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_educar&utm_content=fds

Portal só para crianças


Um portal só para as crianças :

http://www.ebc.com.br/infantil

Livro grátis: Título: Quilombos - Espaço de resistência de homens e mulheres negros




Título: Quilombos - Espaço de resistência de homens e mulheres negros

LINK PARA DOWNLOAND: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002193.pdf

sábado, 6 de outubro de 2012

Pobreza e grossura


Pobreza e grossura

Olavo de Carvalho
Bravo!, julho de 2000



Neste país você não pode pedir emprego e muito menos dinheiro emprestado a um conhecido sem que ele instantaneamente assuma ares paternais e comece a lhe dar conselhos, a ralhar com você chamando-o de irresponsável, leviano e miolo-mole. E dê graças a Deus de que ele o faça em tom bonachão e não transforme a humilhação sutil em massacre ostensivo. Finda a cena, ele sai todo satisfeito com a consciência do dever cumprido e considera-se dispensado de lhe arranjar o emprego ou o dinheiro. E você? Bem, você sai duro, desempregado... e culpado.

Esse mesmo sujeito é capaz de, na mesma noite, oferecer um jantar tomando o máximo cuidado para que a arrumação da mesa e a distribuição dos convidados obedeçam estritamente às regras da mais fina etiqueta.

Um indício seguro de barbarismo num povo é a atenção excessiva concedida aos sinais convencionais de boa educação e o desprezo ou ignorância dos princípios básicos da convivência que constituem a essência mesma da boa educação.

O bárbaro, o selvagem, pode decorar as regras e imitá-las na frente de quem ele acha que liga para elas. Mas não capta o espírito delas, não percebe que são apenas uma cartilha de solicitude, de atenção, de bondade, que pode ser abandonada tão logo a gente aprendeu o verdadeiro sentido do que é ser solícito, atencioso e bom.

Meu pai era um sujeito relaxado, que às vezes ia de pijama receber as visitas. Mas ele chamava de "senhor" cada mendigo que o abordava na rua, e sem que ele me dissesse uma palavra aprendi que o homem em dificuldades necessitava de mais demonstrações de respeito do que as pessoas em situação normal. Quanto mais respeitoso, mais cuidadoso, mais escrupuloso cada um não deveria ser então com um amigo que, vencendo a natural resistência de mostrar inferioridade, vem lhe pedir ajuda! Esta regra elementar é sistematicamente ignorada entre as nossas classes médias e altas, principalmente por aquelas pessoas que se imaginam as mais cultas, as mais civilizadas e – valha-me Deus! – as mais amigas dos pobres.

Fico horrorizado quando vejo alguém enxotar um flanelinha como se fosse um cachorro, e nunca vi alguém fazê-lo com a desenvoltura, o aplomb, a consciência tranqüila de um intelectual de esquerda! Nos anos 60, corria o dito de que ajudar os pobres individualmente era "alienação burguesa", ópio sentimental, sucedâneo da revolução salvadora. Passaram-se quarenta anos, a revolução salvadora não veio (onde veio, os pobres ficaram mais pobres ainda) e duas gerações de necessitados apertaram ainda mais os cintos em homenagem à prioridade da revolução. Mas não conheço um só militante comunista do meu tempo e do meu meio que não esteja com a vida ganha, que não ostente como um sinal de maturidade triunfante a segurança financeira adquirida graças ao apadrinhamento da máfia política que, até hoje, domina o mercado de empregos na imprensa, na publicidade, no ensino superior e no mundo editorial.

Hoje não precisam mais do pretexto revolucionário para enxotar flanelinhas. Seu discurso tornou-se palavra oficial, as prefeituras e governos estaduais nos advertem, em cartazes piedosos, para não dar esmolas. Sim, a caridade individual está em baixa. Os frutos da bondade humana não devem ir direto para o bolso do necessitado: devem ir para as ONGs e os órgãos públicos, sustentando funcionários e diretores, financiando movimentos políticos, pagando despesas de aluguel, administração, publicidade e transporte, para no fim, bem no fim, se sobrar alguma coisa, virar sopa dos pobres, diante das câmeras, para a glória de São Betinho.

Há quem neste país tenha nojo da corrupção oficial. Pois eu tenho é da caridade oficial.

Ainda há quem diga: "Mas se você dá dinheiro o sujeito vai beber na primeira esquina!" Pois que beba! Tão logo ele o embolsou, o dinheiro é dele. Vocês querem educar o pobre "para a cidadania" e começam por lhe negar o direito de gastar o próprio dinheiro como bem entenda? Querem educá-lo sem primeiro respeitá-lo como um cidadão livre que atormentado pela miséria tem o direito de encher a cara tanto quanto o faria, mutatis mutandis, um banqueiro falido? Querem educá-lo impingindo-lhe a mentira humilhante de que sua pobreza é uma espécie de menoridade, de inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe deram de esmola? Não! Se querem educá-lo, comecem pelo mais óbvio: sejam educados. Digam "senhor", "senhora", perguntem onde mora, se o dinheiro que lhes deram basta para chegar lá, se precisa de um sanduíche, de um remédio, de uma amizade. Façam isso todos os dias e em três meses verão esse homem, essa mulher, erguer-se da condição miserável, endireitar a espinha, lutar por um emprego, vencer.

Na verdade, a barreira que impede o acesso de pobres e mendicantes brasileiros a uma vida melhor é menos econômica que social. Façam um teste. Quanto custa um frango? Assado, com farofa. Cinco reais no máximo, em geral menos. Quer dizer que um mendigo, pedindo esmola em qualquer das grandes capitais do Brasil, pode comer pelo menos um frango por dia, se não dois, e ainda lhe sobra o dinheiro da condução. Para você fazer uma idéia de quanto um país onde isso é possível é um país rico e generoso, tente esta comparação. Quando Franklin D. Roosevelt lançou o New Deal, um dos objetivos principais do ambicioso plano econômico foi assim anunciado pelo rádio: "Assegurar que cada família deste país tenha em sua mesa um frango por semana." Ouviram bem? Um frango por semana para quatro ou cinco pessoas. Na época pareceu um ideal quase utópico. Pois bem: estamos numa terra onde velhas desamparadas que se arrastam pelas ruas comem um frango por dia, onde os meninos de rua pedem esmola em frente ao MacDonald’s para completar o preço de um BigMac com fritas de três em três horas, onde os bebês famintos exibidos pelas mães em prantos usam fraldas descartáveis, onde as casas dos bairros miseráveis têm antenas parabólicas e os catadores de lixo se comunicam com seus sócios por telefones celulares.

Em contrapartida, façam outro teste: peguem um sujeito sujo e esfarrapado, encham-no de dinheiro e façam-no entrar numa loja de roupas – não digo uma loja elegante, mas qualquer uma -- para comprar um terno. Será enxotado. E, se gritar: "Eu tenho dinheiro!", vai terminar na polícia, com holofote na cara, tendo de se explicar muito bem explicadinho, isto se não for obrigado a escorregar "algum" para a mão do sargento.

O mesmo pobre que pode comer um frango por dia tem de comê-lo na calçada, com os cães, porque não tem acesso aos lugares reservados aos seres humanos. Está certo que você, gerente do restaurante, fique constrangido de botar um sujeito estropiado e fedido no meio dos seus clientes distintos. Mas não vê que mandá-lo comer na rua é mais falta de educação ainda? Pelo menos dê-lhe de comer num cantinho discreto, converse com ele sobre as dificuldades da vida, ofereça-lhe uma camisa, uma calça. Seja educado, caramba! Pois se você, que está bem empregado e bem vestido, tem o direito de ser grosso, que primores de polidez pode esperar do pobre? Se um dia, cansado de levar chutes, ele o manda tomar naquele lugar, não se pode dizer que esteja privado do senso das proporções. E não me venha com aquela história de "Se eu tratar bem um só mendigo, no dia seguinte haverá uma fila deles na minha porta". Isso pode ser verdade em casos isolados, mas não no cômputo final: se todos os restaurantes tratarem bem os mendigos, logo haverá mais restaurantes que mendigos. Conte os mendigos e os restaurantes da Avenida Atlântica e diga se não tenho razão. Isto sem que entrem no cálculo os bares e padarias.

O brasileiro de classe média e alta está virando uma gente estúpida que clama contra a miséria no meio da abundância porque cada um não quer usar seus recursos para aliviar a desgraça de quem está ao seu alcance, e todos ficam esperando a solução mágica que, num relance, mudará o quadro geral. Sofrem de platonismo à outrance: crêem na existência de um geral em si, dotado de substância metafísica própria, independente dos casos particulares que o compõem.

Por isso é que quando a propaganda do Collor inventou aquela coisa de "Não votem em Lula porque ele vai obrigar cada família de classe alta a adotar um menino de rua", eu me disse a mim mesmo: "Raios, se isso fosse verdade eu ficaria satisfeito de votar no Lula." Só acredito é em gente ajudar gente, uma por uma, não na mágica platônica das "mudanças estruturais", pretexto de revoluções e matanças que resultam sempre em mais pobreza ainda.

Na verdade, quem acredita nelas erra até ao dar nome ao problema geral. Quando, revoltados ante a desgraça do povo brasileiro, gritamos: "Fome!", algo está falhando na nossa percepção da realidade social. No mais das vezes, o que falta não é comida, não é dinheiro: é as pessoas compreenderem que a pobreza não é um estigma, não é uma desonra, é uma coisa que pode acontecer a qualquer um e da qual ninguém se liberta só com dinheiro, sem o reforço psicológico de um ambiente que o ajude a sentir-se novamente normal e, em suma, um membro da espécie humana.

Entre as causas culturais da pobreza, a principal não está nos pobres: está na falta de educação dos outros.





fonte 
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3787846971465&set=o.179317965503013&type=1&theater


Hoje é dia de São Francisco

 
Hoje, quatro de Outubro, é dia de São Francisco. O santo dos pássaros, peixes, pobres, o primeiro ser humano que percebeu e leu a natureza como uma irmandade coesa e interdependente

Roberto Malvezzi (Gogó)

Hoje, quatro de Outubro, é dia de São Francisco. O santo dos pássaros, peixes, pobres, o primeiro ser humano que percebeu e leu a natureza como uma irmandade coesa e interdependente.

É o dia também que Américo Vespúcio, em 1501, ao fazer uma viagem de reconhecimento na costa brasileira, chegou à foz de um grande rio. O rio era chamado pelos nativos de Opará, o “rio-mar”.

Então, batizou o rio com o nome do santo.

Esses dias um livro de professores universitários, inclusive da Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), falando da riqueza da biodiversidade da caatinga, fizeram um veredicto fatal sobre nosso rio: está condenado à morte.

Claro, dependerá se o modelo vigente continuará devastando o Velho Chico. Não há nada que indique o contrário, a não ser a luta miúda, mas organizada, de boa parte da população resistente da bacia.

Esses dias, D. Luis Cappio e um grupo de peregrinos vão até suas nascentes, celebrar os 20 anos de sua peregrinação ao longo do rio, de 1992 a 1993. Foi quando saiu a exclamação: “esse rio está morrendo, precisa ser revitalizado”.

O São Francisco, segundo estudos recentes, já correu para o Parnaíba. Por isso o delta do Parnaíba seria muito maior que o próprio delta do São Francisco. Mudanças geológicas teriam alterado o percurso do rio.

Quem sabe forças da vida consigam reverter e vencer as forças da morte que o destroem, mudando não seu percurso, mas seu destino.

Que São Francisco guarde o rio de seu nome.

http://www.brasildefato.com.br/node/10819

A última entrevista de Graciliano Ramos

A última entrevista de Graciliano Ramos
Numa manhã de dezembro de 1948, dez anos após a publicação de “Vidas Secas”, Graciliano Ramos se confessa ao jornalista e escritor Homero Senna, em sua última longa entrevista
Principio por pedir a Graciliano Ramos que me diga alguma coisa sobre os começos de sua vida, no interior de Alagoas, na cidade de Quebrangulo (não Quebrângulo, como geralmente se diz), onde nasceu. “Mas isso tudo está contado em ‘Infância’. Valeria a pena repetir?” E como eu dissesse que sim, resumiu: “De minha cidade natal não guardo a menor lembrança, pois saí de lá com um ano. Criei-me em Buíque, zona de indústria pastoril, no interior de Pernambuco, para onde, a conselho de minha avó, meu pai se transferiu com a família. Em Buíque morei alguns anos e muitos fatos desse tempo estão contados no meu livro de memórias”.

Abro o volume, para conferir, e, entre outras coisas, lá encontro este perfil psicológico do velho Ramos, traçado pelo filho: “Tinha imaginação fraca e era bastante incrédulo. Aborrecia os ateus, mas só acreditava nas contas correntes e nas faturas. Desconfiava dos livros, que papel aguenta muita lorota, e negou obstinadamente os aeroplanos. Em 1934 considerava-os duvidosos”.

De quem o romancista teria herdado, então, o gosto pela literatura? Talvez do avô paterno, cujo retrato desbotado costumava admirar no álbum que se guardava no baú, e de quem admite que tenha recebido em legado “a vocação absurda para as coisas inúteis”. De sua mãe, o espírito infantil recolheu esta impressão: “Uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer-se, várias bossas na cabeça mal protegida por um cabelinho ralo, boca má, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura”, ente difícil que na harmonia conjugal “se amaciava, arredondava as arestas, afrouxava os dedos que batiam no cocuruto, dobrados, e tinham a dureza de martelos”.

De Buíque, onde o romancista frequentou a primeira escola, experimentou os primeiros desânimos diante dos livros didáticos do Barão de Macaúbas e viveu algumas das inesquecíveis aventuras de sua meninice, a família mudou-se para Viçosa, não a de Minas, terra do presidente Bernardes, mas a açucareira do interior de Alagoas. O que foi a extensa caminhada, de dezenas de léguas, desde os campos ralos, povoados de xiquexiques e mandacarus, até uma nova paisagem, de vegetação densa e muito verde, longa viagem feita em lombo de animal, está contada numa das melhores páginas de “Infância”.

De Viçosa, Graciliano passou a Maceió, onde frequentou um colégio mau; voltou e, aos 18 anos, foi morar em Palmeira dos Índios, no interior do Estado. Em Palmeira dos Índios chegaria a prefeito, e foi graças a dois relatórios que escreveu que se tornou conhecido. Mas não precipitemos os acontecimentos.

Estamos ainda em 1914. Nesse ano realiza Graciliano sua primeira viagem ao Rio, tendo trabalhado como foca de revisão. No “Correio da Ma­nhã” e no “O Século”, de Brí­cio Filho, não passou de suplente de revisor, trabalhando apenas quando o revisor efetivo faltava. Em “A Tarde”, porém, um jornal surgido naquela época para defender Pinheiro Ma­chado, chegou a revisor efetivo. Morou em várias pensões, naquele Rio dos princípios do século, que tantos cronistas já têm descrito. Os antigos endereços ficaram-lhe na memória, e sem qualquer esforço o romancista os vai citando: Largo da Lapa 110; Maranguape 11, Riachuelo 19. Todos numa zona então muito pouco recomendável, porque bairros de meretrício, de desordeiros e boêmios.

Nessa sua primeira viagem à Corte procurou aproximar-se de algum escritor, fez camaradagem literária?

Nenhuma. Os escritores daquele tempo eram cidadãos que, nas livrarias e nos cafés, discutiam colocação de pronomes e discorriam sobre Taine. Machado e Euclides já haviam morrido, e os anos de 1914 e 1915, em que estive no Rio, assinalam, na literatura brasileira, uma época cinzenta e anódina, de que é bem representativo um tipo como Osório Duque Estrada, que então pontificava.

Ficou aqui até quando?

Até 1915. Depois de curta e nada sedutora permanência na capital, achei melhor voltar para Palmeira dos Índios, onde já havia deixado um caso sentimental e onde minha família estava toda sendo dizimada pela peste bubônica. Num só dia perdi dois irmãos. Alarmado, e também desgostoso com a vida que levava, tratei de voltar para Alagoas. Em outubro de 1915 casei-me e estabeleci-me com loja de fazendas em Palmeira dos Índios. A mesma loja que fora de meu pai.

Nessa ocasião já tinha preocupações literárias?

Lia muito e escrevia coisas que inutilizava ou publicava com pseudônimos.

Quer revelar alguns desses pseudônimos?

Você é besta.

Fazia versos?

Aprendi isso, para chegar à prosa, que sempre achei muito difícil. Tendo vivido quinze anos completamente isolado sem visitar ninguém, pois nem as visitas recebidas por ocasião da morte de minha mulher eu paguei, tive tempo bastante para leituras. Depois da Re­volução Russa, passei a assinar vários jornais do Rio. Desse modo me mantinha mais ou menos informado, e os livros, pedidos pelos catálogos, iam-me do Alves e do Garnier, e principalmente de Paris, por intermédio do Mercure de France.

Então, se procurava manter-se tão bem informado a respeito do que se passava no Rio e no resto do mundo, deve ter acompanhado, lá de Palmeira dos Índios, o movimento modernista?

Claro que acompanhei. Já não lhe disse que assinava jornais?

E que impressão lhe ficou do modernismo?

Muito ruim. Sempre achei aquilo uma tapeação desonesta. Salvo raríssimas exceções, os modernistas brasileiros eram uns cabotinos. Enquanto outros procuravam estudar alguma coisa, ver, sentir, eles importavam Marinetti.

Não exclui ninguém dessa condenação?

Já disse: salvo raríssimas exceções. Está visto que excluo Ban­deira, por exemplo, que aliás não é propriamente modernista. Fez sonetos, foi parnasiano. E o “Solau do Desamado” é como as “Sex­tilhas de Frei Antão”. Por dever de ofício, pois estou organizando uma antologia de contos brasileiros, antologia que rola há mais de três anos, tive de reler toda a obra de um dos próceres do modernismo. Achei dois contos de cinco ou seis páginas cada um. E pergunto: isso justifica uma glória literária?

(Franze a testa, detém-se um instante, mas logo prossegue.)

Os modernistas brasileiros, confundindo o ambiente literário do país com a Academia, traçaram linhas divisórias rígidas (mas arbitrárias) entre o bom e o mau. E querendo destruir tudo que ficara para trás, condenaram, por ignorância ou safadeza, muita coisa que merecia ser salva. Vendo em Coelho Neto a encarnação da literatura brasileira — o que era um erro — fingiram esquecer tudo quanto havia antes, e nessa condenação maciça cometeram injustiças tremendas. Nas leituras que tenho feito, para a organização da antologia a que me referi, encontrei vários contos, de autores propositadamente esquecidos pelos modernistas e que seriam grandes em qualquer literatura. Lembro-me de alguns: “O Ratinho Tique-Taque”, de Medeiros e Albu­quer­que; “Tílburi de Praça”, de Raul Pompéia; “Só”, de Domício da Gama; “Coração de Velho”, de Mário de Alencar; “Os Brincos de Sara”, de Alberto de Oliveira. Nas antologias que andam por aí essas produções geralmente não aparecem, e de alguns dos autores citados são transcritos contos que não dão a ideia exata do seu talento e do domínio que tinham do gênero. Só posso atribuir isso, como já disse, à desonestidade. Porque se os compararmos aos produtos dos líderes modernistas, estes se achatam completamente.

Quer dizer que não se considera modernista?

Que ideia! Enquanto os rapazes de 22 promoviam seu movimentozinho, achava-me em Palmeira dos Índios, em pleno sertão alagoano, vendendo chita no balcão.

E como foi que chegou a prefeito da cidade?

Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito, naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando (o sistema no Brasil anterior a 1930), e fiquei vinte e sete meses na prefeitura.

Consta que, como prefeito, soltava os presos para que fossem abrir estradas...

Não era bem isso. Prendia os vagabundos, obrigava-os a trabalhar. E consegui fazer, no município de Palmeira dos Índios, um pedaço de estrada e uma terraplenagem difícil.

Em que ano foi isso?

Em 1930.

O ano do relatório...

Os relatórios são dois: há o de 1929 e o de 30.

Relatórios do prefeito ao governador do Estado, dando contas de sua administração, não é?

Justo. Apenas, como a linguagem não era a habitualmente usada em trabalhos dessa natureza, e porque neles eu dava às coisas seus verdadeiros nomes, causaram um escarcéu medonho. O primeiro teve repercussão que me surpreendeu. Foi comentado no Brasil inteiro. Houve jornais que o transcreveram integralmente.

E assim nasceu o escritor...

Não. Nasceu antes. Mas tinha o bom senso de queimar os romances que escrevia. Queimaram-se diversos. “Caetés”, infelizmente, escapou e veio à publicidade.

Numa edição Schmidt...

Exato. Por intermédio de Rômulo de Castro, Schmidt, que aqui no Rio lera os meus relatórios, pediu-me que lhe enviasse artigos para a imprensa. Como não me interessasse fazer carreira no jornalismo, nem construir nome literário, recusei-me. Aliás, nessa ocasião já estava de mudança para Maceió, pois fora nomeado diretor da Imprensa Oficial. Com a revolução, quis demitir-me, mas não pude. E lá fiquei até dezembro de 1931. Não suportando os interventores militares que por lá andaram, larguei o cargo e voltei para Palmeira dos Índios, onde, numa sacristia, fiz “São Ber­nardo”. Estava no capítulo 19, capítulo que escrevi já com febre, quando adoeci gravemente com uma psoíte e tive de ir para o hospital. Do hospital ficaram-me impressões que tentei fixar em dois contos: “Paulo” e “O Relógio do Hospital” — e no último capítulo de “An­gús­tia”. No delírio, julgava-me dois, ou um corpo com duas partes: uma boa, outra ruim. E queria que salvassem a primeira e mandassem a segunda para o necrotério. Estava convalescendo, em janeiro de 1933, quando tive notícia da minha nomeação para diretor da Instrução Pú­blica. Não acreditei.

Qual o interventor que o nomeou?

O capitão Afonso de Car­valho, hoje coronel. Foi disparate. Permaneci no cargo até 3 de março de 1936. Em 1933 Sch­midt lançara “Caetés”, que eu trazia na gaveta desde muito tempo. Naquele dia do mês de março de 1936, porém, sem qualquer explicação, fui preso e remetido para o Recife. onde passei dez dias incomunicável. Depois fui metido no porão do “Manaus” e vim para cá. Tive dez ou doze transferências de cadeia.

Qual o motivo da prisão?

Sei lá! Talvez ligações com a Aliança Nacional Libertadora, ligações que, no entanto, não existiam. De qualquer maneira, acho desnecessário rememorar estas coisas, porque tudo aparecerá nas “Memórias da Prisão”, que estou compondo.

Foi assim, então, que veio para o Rio?

Foi. Arrastado, preso.

Mas valeu a pena, não?

Sinceramente, não sei. Nun­ca tive planos na vida, muito menos planos de sucesso. De­pois daquela experiência da mocidade, o Rio não me atraía. No entanto vim, no porão do Manaus, e aqui vivo.
(Estávamos, portanto, diante de um antipará. Os “parás”, na saborosa classificação de Jaime Ovale, são “esses homenzinhos terríveis que vêm do Norte para vencer na capital da República; são habilíssimos, audaciosos, dinâmicos e visam primeiro que tudo o sucesso material, ou a glória literária, ou o domínio político”. Que pensaria Graciliano dessa fauna? Lanço a pergunta e a resposta não tarda.)
Está claro que existe um “exército do Pará”. Na maioria dos casos, porém, os seus milicianos já chegam feitos do Norte. Aqui vêm apenas colher os louros, ou, mais positivamente, as vantagens. E no Rio em geral definham, tornam-se mofinos. Ignoro se também sou “Pará”. Nunca fiz coisa que prestasse, mas ainda assim o pouco que fiz foi lá e não aqui, onde a vida não nos deixa tempo para nada. Hoje leio apenas jornais, um ou outro ro­mance. De manhã escrevo; à tarde saio para as minhas ocupações (inclusive para o “papo” na livraria); à noite trabalho. Onde iria achar tempo para leituras? E se não tivesse lido um pouco no interior, onde os dias são intermináveis, seria inteiramente analfabeto.

Quer dizer que acha preferível, para o escritor, a vida na província?

No Nordeste não podemos falar em “provincianismo”, luxo dos Estados grandes: São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul. Nós, do Nordeste, temos de ser “municipais” ou “nacionais”. E, a ter de morar em qualquer dos Estados daquela região, acho preferível o interior às capitais, porque estas, seus mexericos, seus grupinhos literários, suas academiazinhas, seus institutos históricos, são sempre muito ruins. Já no interior poderá um homem entrar em contato íntimo com a terra e o povo. É, por exemplo, de onde vem a força de um José Lins do Rego, de uma Raquel de Queirós, de um Jorge Amado.

Sabe que é apontado como um dos nossos escritores modernos que melhor manejam o idioma?

Conversa. Talvez, se houvesse alguma verdade nisso, eu devesse muito aos caboclos do Nordeste, que falam bem. É lá que a língua se conserva mais pura. Num caso de sintaxe de regência, por exemplo, entre a linguagem de um doutor e a do caboclo — não tenha dúvida, vá pelo caboclo, e não erra. Note que me refiro ao caboclo do sertão. O do litoral vai-se estrangeirando.

Mas não me venha dizer que seu aprendizado da língua se fez apenas com os caboclos de Buíque e Palmeira dos Índios.

Claro que não. Muitas coisas não poderiam eles ensinar-me. Está visto que tive de chatear-me lendo gramáticas. E arrepiei-me com a leitura dos frades.

Consta que você, como Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, é grande leitor de dicionários.

Consta e é verdade. Dicio­nário, para mim, nunca foi apenas obra de consulta. Costumo ler e estudar dicionários. Como escritor, sou obrigado a jogar com palavras. Logo, preciso conhecer o seu valor exato.

Acha isso uma qualidade?

Não sei. O que sei é que não há talento que resista à ignorância da língua.

Poderia, hoje, deixar de escrever?

Quem me dera poder deixar.

Sua obra de ficção é autobiográfica?

Não se lembra do que lhe disse a respeito do delírio no hospital? Nunca pude sair de mim mesmo. Só posso escrever o que sou. E se os personagens se comportarem de modos diferente, é porque não sou um só. Em determinadas condições, procederia como esta ou aquela das mi­nhas personagens.

Já se pode viver, no Brasil, da profissão de escritor?

Não creio. A última edição de minhas obras rendeu-me 50 contos. Da edição americana de “Angústia”, recebi 10 contos apenas. Tenho também três livros traduzidos para o espanhol. Mas os negócios na Argentina e no Uruguai andaram mal. Como não tenho o hábito de frequentar os suplementos e as revistas ilustradas, a literatura me rende pouco.

Que outras atividades exerce?

Trabalho no “Correio da Manhã” e sou inspetor de ensino secundário no ginásio São Bento.

Gosta do emprego que tem?

É-me indiferente. Trata-se de uma sinecura como outra qualquer. Em todo caso, nunca tive uma falta nem tirei licença.

E no “Correio da Manhã”, qual o seu serviço?

Corrijo a gramática dos repórteres e noticiaristas.

Gosta de jornalismo?

Não. Nem me considero jornalista.

Com essa vida de jornal, naturalmente dorme tarde.

À uma hora. E me levanto às sete.

Nos seus livros trabalha, portanto, apenas de manhã.

Exato. Até às onze, mais ou menos.

E para trabalhar, exige um bom ambiente ou não liga a isso?

Trabalho em qualquer parte. “Angústia” foi escrito em palácio, quando eu era diretor da Instrução Pública de Alagoas. “São Ber­nardo”, em péssimas condições, numa igreja. Qualquer canto me serve. Mas disponho, hoje, em casa, de uma confortável sala de trabalho: isso que os burgueses costumam chamar “escritório”.

Gosta da casa onde mora?

Em qualquer lugar estou bem. Dei-me bem na cadeia. Tenho até saudades da Colônia Correcional. Deixei lá bons amigos.

(Casado duas vezes, Graciliano tem seis filhos e duas netas. Pergunto-lhe se costuma ajudar a mulher em casa, e ele se espanta.)

Já faço muito em pagar as despesas. Aliás, tenho horror a compras. E quando ouço o telefone, tranco-me.

Aos domingos, o que costuma fazer?

Em geral escrevo pela manhã e à tarde durmo.

(O autor de “Vidas Secas” não faz visitas, não vai a concertos nem a conferências e não gosta de música. Tem, entretanto, um velho hábito: vai diariamente à Livraria José Olympio, na Rua do Ouvidor, e fica lá várias horas, num banco que já é quase propriedade sua, localizado no fundo da loja.)

Muitas vezes vou lá dormir. Mas aparecem amigos, conhecidos, e toca-se a conversar.

(Em virtude desse hábito, muita gente pensa que Graciliano dá a vida por um “papo”. Ele, porém, desfaz-me essa impressão.)

Quase sempre converso forçado, porque chegam pessoas. Mas na verdade muitos dias preferiria ficar quieto, sem trocar palavra. Também é fato que lá aparecem bons amigos, desses que a gente revê com prazer.

(Como Manuel Bandeira, Graciliano recebe inúmeros originais, para ler e dar opinião. A Bandeira dirigem-se sobretudo os jovens poetas ainda incertos quanto à própria vocação. E os que se iniciam na prosa, geralmente procuram mestre Graciliano. Este, assim, tem sempre uma quantidade enorme de originais para ler.)
É maçada. Recebo dezenas de originais. São principiantes, geralmente dos Estados, que desejam, é claro, alguns elogios. Já me aconteceu receber, na mesma semana, originais do Piauí e de Goiás. Eu devia fazer como José Lins: afirmar, sem leitura, que tudo é magnífico.

(Os escritores jovens do Brasil, que dos mais distantes Estados remetem originais para Graciliano Ramos, em busca de uma opinião, e nem sempre recebem resposta, ou a resposta que esperavam, podem, entretanto, considerar-se vingados: na própria casa do romancista surgem originais, e originais que ele tem, forçosamente, de ler, e talvez percorra com olhos mais benignos: os contos de seu filho Ricardo, de 19 anos, e de sua filha Clara, quatro anos mais moça que o irmão. Ambos têm vocação para as letras. Ricardo, jornalista, já tem publicado alguma coisa, naturalmente com a chancela paterna. E, ainda que Graciliano nos afirme o contrário, nos diga que nenhum deles lhe pede opinião, é divertido imaginar o romancista, cansado de emendar o português dos noticiaristas do “Correio da Manhã”, e de ler originais que lhe chegam, às dezenas, de todo o país, ter, em casa, de dar opinião sobre os trabalhos dos filhos.)

(Pergunto qual a sua impressão dos contos de Ricardo Ramos, e ele não se nega a opinar.)

Regulares. Tem jeito e poderá fazer coisa que preste.

E Clara?

É ainda criança. Tem 15 anos apenas e está concluindo o curso secundário.

(Despedindo-me de Graciliano, depois da longa conversa que aqui tentei reproduzir, faço-lhe uma última pergunta: Acredita na permanência de sua obra? E sem qualquer pose, sem nada que deixasse transparecer falsa modéstia, antes dando a impressão de que falava com absoluta sinceridade, esse pessimista seco e amargo respondeu-me.)
Não vale nada; a rigor, até, já desapareceu.
Nota: Entrevista publicada na “Revista do Globo”, edição nº 473, em 18 de dezembro de 1996. E posteriormente no livro “República das Letras”, de Homero Senna, editora Civilização Brasileira.
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

História do Negro no Brasil



De: SHARYSE PIROUPO DO AMARAL

*LINK PARA DOWNLOAD PARTE 1:
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/Elementos%20pre-textuais%20-%20UAB%202%20com%20ISBN.pdf


LINK PARA DOWNLOAD PARTE 2:
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/livro2_HistoriadoNegro-Simples04.08.10.pdf

A elevação da qualidade do ensino público brasileiro é uma condição necessária para
que as metas previstas nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam
alcançadas no Brasil e para que o país consolide o seu papel de liderança no mundo
global. Uma dimensão crucial nesse processo é a valorização da carreira docente e,
em especial, dos professores e professoras que atuam na educação básica.
O Curso a Distância de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras
promovido pelo Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia,
traz uma contribuição relevante à sociedade brasileira ao promover a formação de
profissionais da Educação Básica que atuam no Estada da Bahia. O caráter inovador
desta ação reside, principalmente, na construção de um currículo interdisciplinar no
campo dos estudos africanos e afro-brasileiros incluindo, entre outros, conteúdos sobre
as representações da África, as relações de poder no contexto escravista, as múltiplas
dimensões do racismo, e as formas de resistência e de expressão cultural negras no
Brasil. Ao estimular a pesquisa e a reflexão sobre estes temas, o Curso visa à
implementação da Lei 10.639/03, garantindo aos profissionais da Educação
participantes melhores condições para o trabalho pedagógico e para a produção de
conhecimento nesta área.
Destaca-se, ainda, que a iniciativa de realização do Curso de Formação para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileiras é parte da Rede de Educação para a Diversidade,
composta por instituições de ensino superior que atuam na formação para a
diversidade a distância desde 2008, a partir de uma articulação entre a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e a Universidade
Aberta do Brasil (UAB).

Site PortaCurtas disponibiliza filmes selecionados no Festival do Rio 2012



Do UOL, em São Paulo

Cena do curta Uma Vida Inteira, de Bel Ribeiro e Ricardo Santini, com Alice Braga
  • Cena do curta "Uma Vida Inteira", de Bel Ribeiro e Ricardo Santini, com Alice Braga
Alguns curtas selecionados para a Mostra Première Brasil do Festival do Rio 2012 já estão disponíveis no sitePortaCurtas. Os filmes estão na íntegra e podem ser acessados gratuitamente.
Os curtas incluem “Penas”, de Paulinho Caruso, baseado numa história em quadrinhos do cartunista Laerte Coutinho; “A Cidade”, de Liliana Sulzbach, sobre uma comunidade em Itapuã (RS); “Uma Vida Inteira”, de Bel Ribeiro e Ricardo Santini, sobre a primeira noite de um casal; e “O Colecionador”, de Gunter Sarfert, com a atriz Maria Flor.
O PortaCurtas é um site que possui mais de mil curtas-metragens brasileiros para exibição online gratuita. O site foi pioneiro na difusão de filmes pela web, com quase 15 milhões de acessos a curtas brasileiros como os premiados "Ilha das Flores""Barbosa", do diretor Jorge Furtado.

Festival do Rio 2012

Foto 75 de 109 - Ney Matogrosso e Maitê Proença lançam o filme "Primeiro Dia de um Ano Qualquer", do diretor Domingos Oliveira, no Rio (30/9/12) Felipe Assumpção/AgNews



http://cinema.uol.com.br/ultnot/2012/10/01/site-portacurtas-disponibiliza-filmes-selecionados-para-o-festival-do-rio-2012.jhtm

HISTÓRIA DA ÁFRICA




HISTÓRIA DA ÁFRICA - Volume I
De: FÁBIO BAQUEIRO FIGUEIREDO

LINK PARA DOWNLOAD1:

 http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/Elementos%20pre-textuais%20-%20UAB%201%20com%20ISBN.pdf



LINK PARA DOWNLOAD2: 

http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/livro1_HistoriadaAfrica-03.09.2010.pdf

A elevação da qualidade do ensino público brasileiro é uma condição necessária para
que as metas previstas nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam
alcançadas no Brasil e para que o país consolide o seu papel de liderança no mundo
global. Uma dimensão crucial nesse processo é a valorização da carreira docente e,
em especial, dos professores e professoras que atuam na educação básica.
O Curso a Distância de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras
promovido pelo Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia,
traz uma contribuição relevante à sociedade brasileira ao promover a formação de
profissionais da Educação Básica que atuam no Estada da Bahia. O caráter inovador
desta ação reside, principalmente, na construção de um currículo interdisciplinar no
campo dos estudos africanos e afro-brasileiros incluindo, entre outros, conteúdos sobre
as representações da África, as relações de poder no contexto escravista, as múltiplas
dimensões do racismo, e as formas de resistência e de expressão cultural negras no
Brasil. Ao estimular a pesquisa e a reflexão sobre estes temas, o Curso visa à
implementação da Lei 10.639/03, garantindo aos profissionais da Educação
participantes melhores condições para o trabalho pedagógico e para a produção de
conhecimento nesta área.
Destaca-se, ainda, que a iniciativa de realização do Curso de Formação para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileiras é parte da Rede de Educação para a Diversidade,
composta por instituições de ensino superior que atuam na formação para a
diversidade a distância desde 2008, a partir de uma articulação entre a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e a Universidade
Aberta do Brasil (UAB).

Paula Cristina da Silva Barreto
Diretora do CEAO

TERRA QUILOMBOLA: baixe grátis!





Link para dowload grátis:

 http://www.institutosumauma.org.br/imagem/arquivo/Terra_Qulombola.pdf

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Projeto Carbono Cajari (Reserva Extrativista do Rio Cajari - Amapá)

Educação do Campo/Rural em discussão


Movimentos lançam documento sobre o atual momento da educação do campo

2 de outubro de 2012

Da Página do MST


Diante das inúmeras demandas pelas quais passam as discussões das organizações sociais do campo, a questão da educação no meio rural é sem dúvida uma das frentes mais debatidas entre tais os movimento sociais.
Diante dessa perspectiva, os movimentos sociais do campo haviam realizaram o Fórum Nacional de Educação do Campo (FONEC), entre os dias 15 a 17 de agosto de 2012, com os objetivos de analisar a conjuntura da educação brasileira e definir estratégias de construção e fortalecimento da política de Educação do Campo, realizar intercâmbio de atividades e reflexões entre os estados e entre as diferentes organizações, definir linhas de ação e compromissos políticos de atuação, entre outros.
Como resultado dos debates realizados em torno do tema, as organizções redigiram um Documento Final intitulado "Notas para Análise do Momento atual da educação do campo".
Este documento, resultado das reflexões e aprofundamentos realizados durante o Seminário Nacional do FONEC, tem como finalidade o debate, a crítica e o aprofundamento da discussão, para que se tenha uma real dimensão dos desafios postos à educação do Campo.
Veja o documento completo

Introdução
Este documento pretende-se uma ferramenta de trabalho. Em sua primeira versão visou provocar os debates do Seminário Nacional de Educação do Campo, realizado em Brasília e na versão atual tem o objetivo principal de socializar as discussões ali realizadas, na interface necessária com as deliberações do “Encontro Nacional Unitário de Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo, das Águas e das Florestas”, também realizado em Brasília, de 20 a 22 de agosto de 2012. Este texto está sendo feito, pois, na perspectiva de instrumento auxiliar na orientação da atuação política das organizações e entidades integrantes do Fórum Nacional de Educação do Campo para o próximo período, desde uma mesma compreensão da conjuntura atual.

Há um fato material que motivou os debates do Seminário. Trata-se do lançamento em março de 2012 pelo governo federal do PRONACAMPO (Programa Nacional de Educação do Campo), apresentado como um conjunto de ações articuladas de uma “política de educação do campo”, nos termos do decreto presidencial n. 7352, de 4 de novembro de 2010 (final do governo Lula), fruto de mobilizações de entidades e organizações de trabalhadores, iniciadas, nestes termos, no final da década de 1990.

O formato de programa, a lógica de sua formulação, suas ausências e ênfases nos permitem situar o Pronacampo muito mais próximo a uma política de “educação rural”, no que esse nome encarna historicamente na forma de pensar a política educacional para os trabalhadores do campo em nosso país, do que das ações e dos sujeitos que historicamente constituíram a prática social identificada como Educação do Campo.

O desafio principal que assumimos no Seminário de Brasília, foi de construir uma análise coletiva, não apenas e nem principalmente do Pronacampo, mas das relações que o constituíram nesse momento e que se referem à situação atualmente existente na educação e no conjunto da vida social dos trabalhadores do campo.
A fidelidade à concepção de Educação do Campo que construímos ao longo desta década e meia e ao referencial teórico de análise que nos orienta, exige um esforço prioritário de buscar as conexões dos fatos do momento atual que nos motivam com a materialidade que os determina, identificando as contradições que movem a situação existente e as tendências de sua transformação. Ao mesmo tempo, continua fundamental manter, na análise e na atuação política, a relação entre específico e geral, entre particular e universal.

Os debates do Seminário reforçaram a responsabilidade que temos nesse momento em relação à análise da realidade que nos ocupa, e por isso mesmo o desafio de que ela seja uma produção coletiva. Partimos do entendimento de que a forma assumida até aqui pelo Pronacampo não é arbitrária. Ela indica uma tendência: estamos entrando em um novo ciclo, que é de retorno da “educação rural” ao cenário brasileiro, devidamente atualizada pelas novas demandas de reprodução do capital no campo, e ironicamente chamada pelo nome que representa o polo hoje subordinado (por isso nosso sentimento de conceito “invadido”), mas que também será considerado na reconfiguração da política: a própria educação rural não poderá ser a mesma depois da Educação do Campo. Este ciclo integra um circuito mais amplo, que se refere a uma nova fase do capitalismo brasileiro e as opções que estão sendo feitas em relação ao tipo de inserção do país na economia mundial e o lugar específico que o agronegócio passou a ter nessa estratégia.

No entanto, como nos chamava a atenção no Seminário Gaudêncio Frigotto, desde Florestan Fernandes, a história não se fecha por si mesma e nós podemos ter algum papel na abertura de um novo circuito da história. E é em vista disso que precisamos fazer nossos debates e definir nossa atuação, o quanto possível, unificada.

O foco principal de nossa análise neste Seminário foi o da política pública ou a intervenção do Estado na configuração do projeto dominante de educação, bem como no projeto de desenvolvimento e de agricultura. É importante ter presente, então, que este foco não é toda a análise a ser feita, mas ainda assim ele exige, desde nossa concepção, a busca da totalidade, objetivada pelo menos na apreensão das contradições presentes na realidade que envolve a tríade campo, educação, política pública. Em alguma medida esta tríade, ou a busca das conexões internas entre essas esferas em uma realidade social e histórica determinada, já foi consolidada como categoria de análise em que também vai se constituindo a Educação do Campo (Caldart, 2012).

As discussões apontaram para alguns blocos de conexões (e no processo delas as contradições existentes) que precisamos apreender para análise da situação atual da Educação do Campo, e que passam muito especialmente pela relação entre trabalho e educação no Brasil hoje: - momento atual da economia brasileira, projeto de desenvolvimento, demandas de formação profissional e papel do Estado; lugar do agronegócio na economia brasileira e situação do trabalho dele decorrente; - organizações da classe dominante no campo, empresas transnacionais, Estado, hegemonia do agronegócio, demandas e lógica de formação profissional para os trabalhadores do campo e implicações sobre a educação básica; - lugar da agricultura de base familiar e camponesa na economia brasileira e situação do trabalho no campo; - organizações dos trabalhadores do campo, resistência, relação com o Estado, demandas e lógica de formação profissional para a diversidade contemporânea dos trabalhadores camponeses; - disputa de concepções de educação na relação com a dinâmica da luta de classes no campo.

Não chegamos a desenvolver a análise desse conjunto de conexões no Seminário e também não pretendemos fazê-lo no presente texto, mas gostaríamos de deixar esses blocos de conexões apontados como orientadores de discussões que possam ser desdobradas desse esforço coletivo inicial. Ao longo do texto sinalizaremos alguns elementos centrais dessas relações.

Um dos elementos que gostaríamos de deixar apontado já nessa parte introdutória, diz respeito à compreensão de Estado que adotamos. Entendemos que uma perspectiva crítica de abordagem da relação entre o Estado e os movimentos e as organizações sociais do campo é muito importante para uma reflexão que se pretende avaliativa e projetiva da Educação do Campo no Brasil nesta década e meia de caminhada.

Compreendemos o Estado como condensação da correlação de forças existentes na sociedade de classes. Por esta compreensão, o Estado age, por meio das políticas que adota, com base no movimento da disputa em torno de projetos políticos que acontece na sociedade sendo, pois, território da luta entre as classes sociais em confronto e entre os interesses, por vezes conflitantes, entre frações de uma mesma classe. É desde este parâmetro que se podem identificar contradições e não apenas linearidades e oposições antinômicas nas políticas públicas formuladas a cada período histórico.

Nosso esforço de análise visa definir estratégias de ação entre os sujeitos protagonistas originários da Educação do Campo que possam potencializar as contradições na direção dos interesses sociais do polo que a instituiu como prática social, que é o polo do trabalho.