Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

domingo, 2 de janeiro de 2011

CULTURA POPULAR

domingo, 2 de janeiro de 2011


A importância da cultura popular

Cultura Popular, Festas e Folclore podem estar em uma mesma base conceitual porque esta tríade apóia-se nos legados culturais de indivíduos, nos mitos e lendas que são repassados e são verídicos ou não-verídicos, mas que encontram suas principais matrizes no empirismo ou conhecimento popular.

Esta reunião de saberes e viveres do povo trazido pelo Folclore e utilizada basicamente para determinar a cultura das classes menos favorecidas está diretamente associada ao próprio conceito de Cultura Popular, como define Edison Carneiro:

Entende-se por Folclore um corpo orgânico de modos de sentir, pensar, agir peculiares as camadas populares as sociedades civilizadas. Alguns folcloristas entendem que o campo do folclore a todas as sociedades até mesmo as primitivas, entretanto a existência de graus diferentes da mesma cultura é necessária para caracterizar o fenômeno, embora peculiares esses modos de sentir, pensar e agir não são exclusivos do povo. Se as camadas populares integram, em conjunto a sua vida cotidiana, toda sociedade se serve deles, fragmentariamente, sob esta ou aquela forma.

Com o crescimento das sociedades evoluídas graças ao avanço das tecnologias, as tradições populares aos poucos foram se perdendo. Isto se deve ao novo modo de vida urbano, que não tem por costume cultivar ou cultuar esses legados que são considerados vulgares pelas classes de maior prestigio econômico em nossa sociedade, e que atualmente ditam as regras da nossa cultura, e que de modo geral acabam não valorizando os costumes que são adquiridos por meio de conversas, hábitos, crenças e costumes e representados com o auxílio de diversas modalidades de expressão (artesanato, dança, culinária, crendices, formas de se vestir, brincadeiras, jogos, mitos, lendas, utensílios diversos, etc.). Todos esses valores têm um ponto em comum: são transmitidos de geração em geração.
Este cuidado é uma maneira de manter o passado, dando continuidade as suas tradições e gerando oportunidades para que outros povos conheçam a nossa própria cultura por meio do que apresentamos como parte de nossa história. Essa cultura pautada na vivência e observação, mas que nem sempre é registrada em livros. É o que cometa Edison Carneiro:

A experiência humana que se disciplina em cultura, constitui um continuum de que participar tanto o conhecimento empírico do povo como o conhecimento cientifico dos letrados. A sua existência na mesma sociedade faz com que ambos os tipos de conhecimento se vivifiquem mutuamente. O fato de terem uma origem comum – a cultura universal sintetizada na civilização greco-romana propicia a circulação dessa corrente vivificadora.

Com a diversidade cultural do Brasil, oriunda da nossa colonização miscigenada entre índios, brancos e negros, os patrimônios imateriais de nossa Cultura tornaram-se vastos. Esta junção de etnias fortaleceu todos os produtos culturais existentes em nossas tradições, permitindo uma fusão única e bastante expressiva. Na Bahia, pode-se observar que estas manifestações adquirem um caráter diferenciado das manifestações populares existente em todo o país.


Estudantes com Zilda paim, historiadora do Recôncavo Baiano
A diversidade cultural, no entanto, pode ser denominada como tradição, folclore ou cultura popular, e seu conceito é muito mais amplo, já que estas manifestações constroem o legado cultural de uma sociedade e, por que não dizer, da própria nação. Além disso, a diversidade de cultura valoriza determinadas localidades, como a Bahia, um dos Estados de maior representatividade cultural do país.

As sociedades atuais, contudo, perderam o lastro que as tradições dos povos dão, porém uma preocupação mais maciça acerca da manutenção dos bens intangíveis de nossa cultura passou a ter visibilidade devido à necessidade de se conservar o patrimônio histórico-cultural para a preservação da identidade dos povos. Os legados passaram a ter proteção fundamentada, a exemplo do que já é feito desde o ano 2000 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O processo de tombamentos e registros no Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) viabiliza a identificação e o reconhecimento e salvaguarda a dimensão do patrimônio imaterial da cultura.
Este programa é um estatuto que avalia o bem e o registra segundo sua característica e categoria. Desde a criação do PNPI, alguns registros já foram feitos em patrimônios existentes no país, a exemplo do Círio de Nazaré, O Oficio das Baianas de Acarajé, O Samba de Roda do Recôncavo e O Frevo. Em alguns casos, estas expressões culturais são tombadas e reconhecidas como Patrimônio Imaterial e esta ação torna evidente que uma preocupação estética passou a ocupar espaço nas mesas de discussão governamental; como consequência disso permitirá que  as tradições sejam mantidas e os legados culturais eternizados e as tradições culturais superem os capitalismos, as evoluções sociais e globalizações, que nem sempre favorecem para que a cultura popular se perpetue e seja e repassada às novas gerações.


* Texto e fotos de Ana Carla Nunes (acnpereira@hotmail.com)
Revisão Textual: Beatriz Badim (biacampos@globo.com)


CARNEIRO, Edson. Dinâmica do Folclore. São Paulo: Civilização Brasileira, 1965.
ARANTES, Antônio Augusto. O que é Cultura Popular? São Paulo: Brasiliense, 2004.

FONTE: 

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