Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Molhando as raízes - Leonardo Boff

A cansada existência vem molhar as raízes naqueles começos de antanho para ainda tentar se rejuvenescer e chegar bem à travessia final
Leonardo Boff
 
 
Na vida experimentamos um paradoxo curioso: quanto mais avançamos em idade, mais regredimos para os tempos da infância. Parece que a vida nos convida a unir as duas pontas e começar a fazer uma síntese final. Ou, quem sabe, o ocaso da vida com a perda inevitável da vitalidade, com os ritmos mais calmos e os limites incontornáveis desta última fase inconscientemente nos levam a buscar fortalecimento lá onde tudo começou. A cansada existência vem molhar as raízes naqueles começos de antanho para ainda tentar se rejuvenescer e chegar bem à travessia final.
Pois foi o que me ocorreu nesta primeira semana de fevereiro. Voltei à terra, às velhas terras ("terre vecchie”, como dizemos entre os familiares): Concórdia, no interior de Santa Catarina. A cidade e as vizinhas são conhecidas em todo Brasil por seus produtos: quem não comprou frangos Sadia de Concórdia; presunto da Perdigão de Herval do Oeste; salames de Aurora de Chapecó e linguiças de Seara? Pois todos estes frigoríficos distam poucos quilômetros uns dos outros. É uma região rica, de colonos italianos, alemães e poloneses, lugares onde o Brasil parece ter dado certo. Tudo é praticamente integrado; as casas são elegantes e coloridas; o bem-estar generalizado e não se conhecem favelas como as tantas que cercam a maioria das cidades do país.
Primeiramente, visitamos os sobreviventes da família. Do lado de minha mãe, apenas uma tia carregada de anos e de dores; do lado do meu pai, ninguém mais. Só restam primos e primas. A maioria foi para as cidades, um trabalha em Montreal, como criador de jogos da internet; outro, é diplomata; os demais, em profissões liberais. Alguns ficaram na terra.
Em seguida, os lugares queridos da infância: cada morro, cada curva do caminho, cada subida ou descida e os vastos horizontes por todos os lados, vislumbrando-se montanhas do Rio Grande do Sul e os elevados dos Campos Gerais de Santa Catarina. O olhar infantil exagera nas proporções. O que considerávamos uma subida penosa e íngreme, não passa de singela descida ou subida. Os montes imensos são apenas coxilhas. Mas ficaram iguais as profundas canhadas, as pedras por todo canto que tornavam penosa a lavoura dos colonos: o cultivo do trigo e do milho. Os parreirais tão abundantes, um para cada casa, praticamente, despareceram, pois o vinho de qualidade se tornou acessível.
Aqui nos sentimos parte daquela paisagem, aqui estão nossas raízes, o lugar a partir de onde começamos a alimentar sonhos, a contemplar as estrelas nas frias noites de inverno e a nos situar no mundo. Curiosamente, quando tenho que falar em lugares tidos importantes como na Assembleia Geral da ONU ou em Harvard, remeto-me ao tempo da pedra lascada de onde vim; lembro o piá de pés descalços e cheios de bichos do pé que fui, alimentado com muita polenta e a leitura temporã de livros. Por mais esplêndidas paisagens que tenha tido ocasião de contemplar, nenhuma é interiormente mais bela do que aquela de minha infância. Porque ela é única no mudo. Tudo o que é único no universo nunca mais volta a ocorrer e por isso é intrinsecamente belo.
Mas, o que me marca cada vez que visito os parentes são as festas que improvisam: come-se muito, a comida regional, os "radicci”, os vários tipos de "biscotti” e "cucas alemães”, a "fortaia”, as massas, os queijos e salames caseiros e, naturalmente, o churrasco. A maioria que ficou na terra teve pouca escolarização: falam um mistura deliciosa de dialeto vêneto e de português. A cantilena é a mesma, com forte sotaque italiano, do qual eu mesmo nunca me libertei. As mãos rudes do trabalho e os rostos vincados da luta pela vida causam forte impressão. E vigora entre todos uma benquerença e cordialidade de fazer chorar. Os abraços são de vergar as costelas e os beijos das primas mais idosas, da nossa idade, são longos e estalados. De algumas sinto o cheiro de minha própria mãe, o mesmo olhar, a mesma forma de colocar a mão à cintura. Quem resistirá a emoção?
Os tempos voltam ao início misterioso da caminhada da vida. Mas temos que prosseguir. Eles vão junto no coração, agora leve e rejuvenescido porque molhou as raízes na essência da vida que é o sangue, o laço, o afeto e o amor.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor.
 
fonte:

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"Ser cidadão é discutir menos e fazer mais..."

foto: Jonas Banhos

Esta pérola encontrei no muro de um certo Jardim de Infância em Brasília!

Boa leitura!
Boa ação!

Jonas Banhos

No Maracatu: A BONECA É DE CERA



Calungas do maracatu Foto: Pio Figueiroa
A BONECA É DE CERA

Um dos elementos sagrados do maracatu é a Calunga, também chamada de boneca, sempre presente ao cortejo das nações africanas, do qual se originou o nosso maracatu. Segundo esclarece Alberto da Costa e Silva 1: "Mantendo-se em segredo, os vínculos entre grupos ambundos, num segredo auxiliado pela ignorância dos senhores de escravos, tinham os chefes vendidos [escravos] de mostrar a fonte do seu poder - e já agora também penhor de unidade do grupo ao Brasil -, a calunga".

Até os nossos dias a Calunga faz parte do ritual do maracatu, encarnando nos seus axés a força dos antepassados do grupo. Em sua honra são cantadas, ainda dentro da sede, as primeiras loas, quando a Calunga é retirada do altar pela dama-do- paço e passa às mãos da rainha, que a entrega à baiana mais próxima e assim se sucede, de mão em mão até retornar novamente às mãos da soberana.

No Maracatu Elefante, pesquisado entre1949-52 pelo musicólogo Guerra Peixe, três calungas se destacavam: Dona Emília, Dom Luís e Dona Leopoldina.

A boneca é de cera
É de cera e madeira
A boneca é de cera
É de cera e madeira


Para a calunga "Dona Emília" eram dedicadas as maiores atenções. A ela era entoada a primeira toada, referida acima, na cerimônia também denominada de "a dança da boneca". A ela também eram consagrados os cânticos mais fortes: é essa principal boneca levada à porta da igreja de Nossa Senhora do Rosário; com ela o Maracatu Elefante dança diante dos terreiros (de xangô) visitados. É nas canções oferecidas a Dona Emília que os músicos executam o ritmo de Luanda - o toque "para salvar os mortos" ou eguns. 2

"Dom Luís", segundo Guerra Peixe, representa "um rei africano", sendo por isso considerado como "Rei do Congo" pelos membros do grupo, bem de acordo com a interpretação recente de Alberto da Costa e Silva (op. cit.); numa clara referência aos primórdios do folguedo, coincidindo com a crença de que os poderes da Calunga estariam ligados aos seus ancestrais africanos, como bem enfoca esta loa: "A bandêra é brasilêra/ Nosso reis veio de Luanda / Ôi, viva Dona Emília / Princesa Pernambucana".


1 SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança - A África antes dos portugueses. Rio: Nova Fronteira, 1992.
2 GUERRA-PEIXE, César. in Maracatus do Recife. Prefácio de Leonardo Dantas Silva. Recife: Fundação de Cultura, 1981. 172 p. il.(Coleção Recife, v. 14).


fonte:
http://www.recife.pe.gov.br/especiais/brincantes/1c.html

Dr. Josinaldo da Silva Atikum é o primeiro médico indígena do Brasíl

 
foto Correio Braziliense
Da Aldeia de Salgueiro para Brasília. Dr. Josinaldo da Silva acaba de se tornar o primeiro médico indígena do Brasil. Superando adversidades como a fome, ele acaba de colar grau na Universidade de Brasília - UnB, fundada por Darcy Ribeiro. O integrante da tribo Atikum, de Pernambuco, veste jaleco e estetoscópio, mas sem dispensar o cocar: diploma recebido das mãos de um pajé!!
 
Que maravilha!!! Que venham muitos outros parentes a misturar os saberes tradicionais e científicos!!!
 
Leia a linda reportagem de Ariadne Sakkis no jornal Correio Braziliense de 4/02/2013:

Território das comunidades tradicionais: uma disputa histórica

Tradução, do latim, traditio onis, que significa ação de dar; entrega. De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, a palavra se traduz pelo ato ou efeito de transmitir ou entregar; ou comunicação oral de fatos, lendas, ritos, usos, costumes de geração para geração. Para o decreto nº 6040/07 , que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades, os grupos tradicionais são aqueles culturalmente diferenciados, que se reconhecem como tais, ‘que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição'. Já os gestores dos grandes empreendimentos e grandes construções definem esses grupos como um entrave para o desenvolvimento do local em que estão construindo suas obras.
A reportagem é de Viviane Tavares e publicada pela EPSJV-Fiocruz, 17-01-2013.

Aldeia Maracanã e pescadores artesanais da Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro; os Guaranis Kaoiwás, no Mato Grosso do Sul; os índios Juruna, e Yawalapiti, além de outras tantas tribos em Belo Monte, os quilombolas do Maranhão e também os de Minas Gerais, todos esses, além de serem considerados e se autoreconhecerem como comunidades tradicionais compartilham também de outra questão: a luta pela preservação da sua cultura e da sua memória histórica-social.

De acordo com dados da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC), o Brasil, que se caracteriza por sua multiplicidade sociocultural e se vangloria para o mercado externo desta, é composto por 522 etnias com modos e culturas particulares. Na contabilidade feita pela secretaria, são, no total, oito milhões de brasileiros que vivem em comunidades tradicionais.

A coordenadora de Pesquisa e Projetos de Povos e Comunidades Tradicionais da SCDC/Minc, Jô Brandão, lembra que estas comunidades vivem em brigas constantes de direitos, mas que estes não podem ser confundidos com privilégios. Grande exemplo disso é a questão dos territórios, que, para Jô Brandão, deve ser rediscutida de maneira abrangente e considerando diferentes peculiaridades. "A lei de terras (Lei 601/1850) do Brasil, que é muito antiga e teve poucas reformas, estabelece o processo de titulação individual, com demarcação de lotes e de quantidade de hectares por família. Isso pode até servir para determinado campo como o de agricultura familiar, mas não serve para o quilombo, por exemplo. Estas comunidades surgem de modo diferente. Existem 300 famílias e o título é apenas um, que demarca o território para a necessidade de sobrevivência deste grupo. A mesma coisa se passa com os indígenas, não tem como intitular um lote para cada família. As terras indígenas têm um espaço coletivo, no qual, várias famílias moram e produzem. Se for intitular uma aldeia com o nome de cada pessoa, de cada família, isso vai virar um problema, além disso, o que nunca levam em consideração é a questão identitária. Não adianta tirar de suas terras de origem e colocá-las em outra com demarcações. Eles não sobreviveriam em um conceito individualista", explica a coordenadora do SCDC/MinC.

Comunidades tradicionais e seus territórios
"Nós, que somos os ancestrais habitantes da Bacia do Xingu, que navegamos seu curso e seus afluentes para nos encontrarmos; que tiramos dele os peixes que nos alimentam; que dependemos da pureza de suas águas para beber sem temer doenças; que dependemos do regime de cheias e secas para praticar nossa agricultura, colher os produtos da floresta e que reverenciamos e celebramos sua beleza e generosidade a cada dia que nasce; nós temos nossa cultura, nossa espiritualidade e nossa sobrevivência profundamente enraizadas e dependentes de sua existência". A carta produzida no encontro Xingu Vivo para Sempre, realizado em Altamira (PA) em maio de 2008, mostra a dependência material e afetiva dessas comunidades com a terra.

A grande questão a ser discutida, como explica a coordenadora nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Isolete Vichinieski, é o reconhecimento dessas comunidades por parte do Estado como espaço diferenciado e sua devida proteção."As comunidades tradicionais têm uma relação diferente com a terra, com a questão da natureza e com a própria organização social. Esses espaços vão muito além do geográfico porque eles são também culturais. Não adianta levar essas pessoas para outra realidade. Além disso, essas políticas compensatórias que acabam gastando muito mais recursos não resolvem porque são, na verdade, uma maquiagem do desenvolvimento, afinal, acabam gerando apenas dependência dessas comunidades que se autosustentavam, em vez de proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas", analisa.

O professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Alexandre Pessoa, caracteriza esses impasses como empobrecimento da cultura local. "O valor cultural dos povos originários é desconsiderado quando a lógica é do preço e do lucro na perspectiva dos patrocinadores desses grandes empreendimentos. A desterritorialização da Aldeia Maracanã e de tantos outros espaços que vêm sofrendo as mesmas ameaças significa o empobrecimento da cidade. Infelizmente, este não é um caso isolado, pois verificamos que tanto a lógica da Copa do Mundo e de outros megaempreendimentos é a mesma, uma visão de cidade empresa", analisa Alexandre.

Para Jô Brandão, a questão territorial vai além da posse de terras porque é uma questão identitária e ressalta que essas comunidades têm como uma de suas caracteríticas o modo de vida em coletividade. Ela ressalta que o Brasil é signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante o direito aos territórios a esses povos e o respeito ao seu modo de vida. "Não existe um indígena sozinho, em seu próprio espaço, ele faz parte de um contexto coletivo. Da mesma forma são os quilombolas, as comunidades de terreiro, os ciganos e outros grupos que a gente reconhece e que se reconhecem como comunidades tradicionais por manter suas práticas culturais ancestrais. Precisamos regulamentar a Convenção 169, da qual somos signatários há dez anos, para que eles possam de fato fazer valer seus direitos. No entanto, a mobilização tanto das comunidades, quanto da sociedade civil, já conquistou muita coisa nesses últimos anos, mas precisamos lutar mais e ter o direito garantido", diz a coordenadora.

Casos emblemáticos

Um dos casos mais recentes de luta pelo território é o do antigo Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Instalado em um antigo casarão de 1862, o local hoje abriga a Aldeia Maracanã, na qual convivem hoje índios de diversas etnias como Puris, Botocudos, Tapajós, Guajajara, pataxós, tukanos, fulni-o e apurinãs, Potiguaras, Guarani, Kaingáng, Krikati, Pankararu, Xavante, Ashaninkas, entre outras.. O espaço fica nas proximidades do Estádio Mário Filho, o Maracanã - que está em reforma desde 2010 por conta das exigências da Fifa para abrigar jogos da Copa do Mundo a ser realizada em 2014. A proposta do Governo do Estado é que o espaço cultural seja demolido para dar mais mobilidade ao empreendimento e que os indígenas que vivem no local sejam deslocados por meio de programas compensatórios como, por exemplo, o aluguel social. A demolição do prédio pode ser decidida a qualquer momento pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). O Ministério Público da União já apresentou uma ação contrária à demolição e a Defensoria Pública da União, além de ter recorrido da decisão do TRF, acionou a Fifa, que se posicionou contrária à demolição por escrito, e também recorreu à comissão de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos para que o debate tome caráter internacional.

O defensor público federal Daniel Macedo, um dos responsáveis pela ação, defende que o espaço habitado pelos indígenas é inegociável. Além disso, ele explica que as propostas já realizadas não levaram em consideração as particularidades dos grupos afetados. "Para a reinserção desses índios, eles devem ser colocados em local congênere; deve haver um depósito público para a guarda dos bens, a Vara da Infância e Juventude deve ser comunicada por conta das crianças que vivem no local, entre outras coisas. Não dá simplesmente para entregar um aluguel social como forma compensatória", explica.

O professor Alexandre Pessoa lembra também o caso dos pescadores artesanais da Baia de Guanabara e da Baia de Sepetiba, que vêm sofrendo por conta das construções do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). "Os pescadores artesanais, que trazem sua cultura de várias gerações e têm o cordão umbilical diretamente ligado com os ecossistemas também estão sofrendo violações de direitos humanos. Eles estão sendo expulsos dos seus territórios porque as baias estão perdendo a finalidade de ecossistemas e de bens comuns. Dentre as suas reivindicações está o reconhecimento dessas comunidades como tradicionais, o direito à pesca e aos seus territórios, a exemplo do Movimento Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP)", explica Alexandre. E completa: "Eles vêm perdendo a sua fonte de renda por meio da pesca artesanal e de subsistência e, consequentemente, perdendo seu território, sua saúde e habitação. Isso significa que milhares de famílias têm saído de uma condição historicamente constituída. Precisamos fazer uma vigilância ao desenvolvimento".

Jô Brandão explica que desde o Decreto 6040/07 as comunidades caiçaras e os pescadores artesanais já são consideradas comunidades tradicionais e também têm representantes na Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), que atua com apoio do Ministério do Desenvolvimento Social no fortalecimento social, econômico, cultural e ambiental dos povos e comunidades tradicionais. "O caso dos caiçaras que vivem de pesca artesanal ainda é mais complicado porque esbarra também na questão ambiental, como é vivido pela comunidade da região da Jureia, em São Paulo, que se encontram agora em uma área de preservação ambiental. Dependendo do formato e do modelo desta área de preservação, ela não permite a presença das pessoas no local, que é o caso de lá, e isso tem gerado muito conflito porque os caiçaras estão ficando desamparados", lembra.

O caso do município de Âlcantara, no Maranhão, onde vivem mais de 100 quilombos também é lembrado por Jô Brandão. Segundo ela, os quilombolas estão sofrendo ameaças pela segunda vez de serem expulsos de suas terras, por conta de obras de ampliação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), do Comando da Aeronáutica, mas por meio da luta e o amparo pela Convenção 169 impediu este novo deslocamento. A primeira vez foi na construção do CLA na década de 80, em que os quilombolas foram vítimas de deslocamentos compulsórios.

A construção da Hidrelétrica de Belo Monte, na barragem do Rio Xingu, no Pará, também é emblemático nessa questão. Considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, a construção além de ter sérios impactos ambientais (ver na matéria publicada no site da EPSJV), deve deslocar 14 diferentes povos indígenas, totalizando milhares de famílias, de suas terras originárias. O estudo de viabilidade técnica vem sendo executado desde 1980, mas foi em 2009, momento em que foi apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e logo após, no início de 2010, quando o Ministério de Meio Ambiente concedeu a licença ambiental prévia para sua construção, que os conflitos ficaram mais tensos. Até agora grande parte das condicionantes propostas no estudo não foram cumpridas, no entanto, o projeto está sendo realizado.

"O Brasil vem caminhando na contramão da preservação de patrimônio histórico e cultural dessas comunidades que chegaram antes da gente. Em nome do capitalismo, do empreendedorismo, estão fulminando culturas como os índios e os quilombolas. Infelizmente, vivemos um momento obscuro na manutenção desses povos indígenas e tantos outros povos. O Brasil que vende a imagem de ter índios e negros está acabando com esses povos. É inimaginável que por conta de um evento ou de uma construção estamos limando nossa história", lamenta o defensor público federal.

Desenvolvimento x tradição?


O desafio se dá por conta da preservação das comunidades tradicionais e o meio em que vivem e o desenvolvimento do país, mas estes dois caminhos são conflitantes? Para Jô Brandão a resposta é não, mas essa é a principal barreira a ser enfrentada. "De um lado você tem uma legislação de amparo e reconhecimento, mas que ainda é falha, e de outro, você tem um projeto de desenvolvimento que não leva em consideração esses povos. A questão é conciliar a proposta de desenvolvimento com a preservação da vida. As comunidades que reivindicam seus direitos não são contrárias ao desenvolvimento", analisa.

Isolete, da CPT, afirma que no Brasil atualmente existe um alto índice de conflito territorial e agrário em função de inúmeras propostas de infraestrutura que estão sendo desenvolvidas ou previstas em áreas que constam como territórios tradicionais. "Quando se assume uma proposta de um modelo de desenvolvimento do país, tem que se pensar a partir das comunidades, das pessoas. Mas o que vemos hoje é diferente. O modelo de desenvolvimento atual é a partir do interesse de grandes corporações nacionais e internacionais, a partir de interesses econômicos". E ressalta: "Essas grandes obras estão sendo colocadas como uma saída econômica para o Brasil, assim como o projeto desenvolvimentista da década de 1970. A gente acaba repetindo o mesmo projeto que teve consequências negativas, como os inchaços das cidades e a precarização das relações de trabalho".

A coordenadora da CPT indica ainda que o caminho para o desenvolvimento possível deve respeitar essas comunidades e fortalecê-las de forma a levar em conta seus conhecimentos seculares. "Precisamos pensar em um modelo que possa se relacionar com as pessoas, com a natureza e as cidades de forma sustentável. É uma maneira de alavancar um projeto de desenvolvimento do Brasil. O exemplo claro disso é a agroecologia, que hoje é a grande responsável por produzir alimentos consumidos no país", destaca.

fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517120-territorio-das-comunidades-tradicionais-uma-disputa-historica

Os oceanos estão virando plástico

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Os oceanos estão virando plástico



O que acontece com o plástico que não é corretamente descartado e onde ele vai parar

Uma das principais questões relacionadas ao lixo doméstico reside no lugar onde ele vai parar quando sai das nossas casas. Na verdade, grande parte das pessoas não se importa com isso, já que ele vai para “algum lugar” que ninguém sabe onde é, que ninguém vê. E se ninguém vê o lixo, ele “deixa” de ser um problema.

Bem, o lixo está começando a aparecer e, o que antes não parecia ser um problema, chegou à superfície. Mais precisamente à superfície do mar. Um dos lugares mais problemáticos é o Giro do Pacífico Norte.

Em primeiro lugar, um giro oceânico é um termo utilizado por oceanógrafos para descrever grandes correntes marítimas rotativas, que estão diretamente relacionadas com o movimento dos ventos.

O Giro do Pacífico Norte tem se caracterizado pela grande quantidade de detritos plásticos originários da costa oeste dos EUA e da Ásia que formam o que é conhecido entre ambientalistas como plastic patch (remendo plástico, em tradução livre). Em outras palavras, é uma área do oceano com grande concentração de poluentes e que afeta não apenas o ecossistema da região, mas em última análise a vida e a saúde do próprio homem.

De acordo com o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), que faz parte do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (USDC), o nome remendo plástico “faz com que as pessoas acreditem que é uma área contínua e visível formada por garrafas e outros tipos de lixo”.

O lugar, como é mostrado no documentário “Garbage Island: An Ocean Full of Plastic”, é uma parte do oceano com grande concentração de todos tipos de plásticos, desde garrafas e embalagens, até microplásticos, que são partículas pequenas e extremamente tóxicas de plástico.

No filme, que foi produzido pela revista Vice, é mostrado que a grande quantidade de poluentes fez com que a composição da água do mar se alterasse. Amostras de água coletadas durante a expedição chegam a conter 1.000 partes de plástico para cada plâncton. Levando em conta que seis partes de plástico para cada plâncton já caracterizam um ambiente poluído, o que dá o tom da gravidade do problema.

Danos à saúde

O grande problema é que o microplástico é tão abundante que acabou se tornando parte do ecossistema. Plânctons e pequenos crustáceos se alimentam deles, se intoxicam, e, consequentemente, fazem o mesmo ao serem comidos por pequenos peixes. O processo vai se repetindo até chegar aos grandes peixes, como o atum, e, finalmente ao próprio ser humano.

Outro problema é o fato de o microplástico absorver com facilidade outros tipos de poluentes que se encontram no mar, como pesticidas, metais pesados e outros poluentes orgânicos persistentes (POPs). Isso faz com que o nível de contaminação aumente e os danos à saúde sejam ainda maiores. Entre os problemas de saúde causados pelos POPs estão diversos tipos de disfunções hormonais, neurológicas, reprodutivas e neurológicas.

Como colaborar com a diminuição da poluição

De acordo com o NOAA, o giro do Pacífico Norte não é o único a enfrentar esse fenômeno. O mesmo acontece no Oceano Atlântico, no Giro Subtropical do Atlântico Norte, e por todo o mundo. Uma das explicações para o surgimento desse problema é a grande quantidade de plástico usada no nosso dia-a-dia, o que nos leva a refletir sobre nossos hábitos de consumo. Há de se reconhecer a importância deste material em nossa sociedade, conferindo conveniências e contribuindo para o desenvolvimento, mas igualmente cabe a reflexão sobre a parcimônia que devemos incorrer em seu uso.

Utilize menos e sempre recicle, não só o plástico, mas todo tipo de resíduo reciclável que tenha optado por consumir. Pressione as autoridades da sua região e contribua para o desenvolvimento da coleta seletiva. Se informe sobre a nova política de resíduos sólidos e, principalmente, se conscientize sobre o como suas atitudes estão contribuindo, ou não, para a poluição dos nossos oceanos.

A eCycle ajuda você a dar o primeiro passo! Visite nossa seção Recicle Tudo para se informar sobre com reciclar diversos materiais, assim como para saber onde descartar seus objetos sem uso!

Assista ao documentário (em três partes):
Parte 1 - Apresentações dos membros da expedição, preparações e partida para o Giro do Pacífico Norte
Parte 2 - O caminho para o Giro do Pacífico Norte
Parte 3 - A poluição no Giro do Pacífico Norte

no site eCycle, de onde foi retirada essa matéria:
http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35-atitude/1259-os-oceanos-estao-virando-plastico.html

Obras da nossa Tarsila do Amaral


1928 - Abaporu
No link abaio você vivencia várias obras da nossa Tarsila do Amaral:

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.291480264247605.72063.100001569022672&type=1&l=e0297a7efc

A nova Biblioteca do CCBB Rio de Janeiro

Conheça a nova Biblioteca do CCBB Rio de Janeiro.
Foto: ANTES e DEPOIS da reforma.
 
Acervo com exemplares nas áreas de Artes, Ciências Sociais, Filosofia e Literatura, e uma sala de periódicos com publicações especializadas,nacionais e estrangeiras.
• Salão de leitura.
... • Sala de Literatura Infantojuvenil com mais de 4 mil
volumes e ambiente criado para o pequeno leitor.
• Sala de Obras Raras e Edições Especiais.
• Sala Mozart de Araújo, com acervo do maestro
e pesquisador da música e folclore brasileiros,
reunindo livros, periódicos, folhetos, discos
e partituras.
• Sala José Guilherme Merquior, com a
biblioteca do diplomata e ensaísta brasileiro.
• Sala Multimídia, com cerca de 300 jogos
educativos;

Terça a domingo, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2030 - Entrada Franca
Ver mais

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Obras Completas de Rui Barbosa

As Obras Completas de Rui Barbosa(de 1865 a 1922) são oferecidas gratuita e integralmente em versão digital em:



Como envenenar crianças - Frei Betto

Nossas crianças estão sendo silenciosamente envenenadas por ingerirem bebidas e comidas nocivas. Todas amplamente anunciadas na TV e na internet, de modo a criar hábitos perenes de consumo
 Frei Betto
Muito além do peso, documentário de Estela Renner e produção de Marcos Nisti, é obrigatório ser visto em escolas e famílias. Jamais tive conhecimento de um filme tão pedagógico quanto à alimentação infantil.
Nossas crianças estão sendo silenciosamente envenenadas por ingerirem bebidas e comidas nocivas. Todas amplamente anunciadas na TV e na internet, de modo a criar hábitos perenes de consumo.
Embora a legislação de muitos países já proíba publicidade de alimentos prejudiciais à saúde das crianças, como são os casos do Chile, da França e do Reino Unido, o governo brasileiro teima em ficar submisso à pressão das empresas produtoras. Reluta em assegurar qualidade de vida à nossa população. Enquanto a Vigilância Sanitária libera, o Ministério da Saúde arca com os bilhões de reais gastos em doenças evitáveis.
Pesquisas indicam que os produtos expostos à publicidade chegam a ter suas vendas aumentadas em 134%.
No Brasil, 30% das crianças apresentam sobrepeso e 15% delas já são obesas. Cresce de modo alarmante a incidência de obesidade infantil, colesterol alto, distúrbios glandulares, diabetes tipo 2, cânceres, sem que se consiga dar um basta à indústria do envenenamento saboroso.
Há escolas que, inclusive, abrem suas portas aos atrativos de redes de lanchonetes, sem consciência de que a qualidade do alimento oferecido equivale a deixar entrar um assassino portando armas. A diferença é que o alimento nocivo mata lentamente e causa maior e mais longo sofrimento.
Estes dados falam por si: uma embalagem de 300g de sucrilhos contém 120g de açúcar. Ou seja, 40% do produto é puro açúcar. Uma garrafa de 1 litro de bebida láctea contém 165g de açúcar. É como ingerir um copo americano repleto de açúcar.
Uma lata de 350ml de refrigerante cor da roupa do Papai Noel contém 37g de açúcar, o que equivale a 7 saquinhos de açúcar, desses oferecidos nos bares para adoçar o cafezinho. Se a criança toma uma lata por dia, em uma semana serão 259g de açúcar. Em um mês, pouco mais de 1kg de açúcar.
O brasileiro consome 51kg de açúcar por ano. São mais de 4kg por pessoa a cada mês. No mundo, 35 milhões de pessoas morrem por ano devido ao consumo excessivo de açúcar.
Uma caixa de 355ml de suco de uva contém 48g de açúcar, o que equivale a 9 saquinhos de açúcar.
Um pacote de 200g de batatas fritas contém 77g de gordura. Ou seja, 38,5% do produto são pura gordura. É como ingerir meio copo americano de óleo para frituras.
Um pacote de 154g de bolachas contém 30g de gordura e 50g de açúcar. Ou seja, 50% do produto são de substâncias prejudiciais à saúde.
Um tubo de biscoito recheado contém 30g de gordura e 50g de açúcar, o que equivale ao consumo de 8 pãezinhos franceses.
Uma caixa de 200ml de achocolatado e um pacote de 400g de vitamina instantânea contêm, cada um, 29g de açúcar. O que equivale a 6 saquinhos de açúcar.
Um pote de 400g de farinha láctea contém 146g de açúcar. Ou seja, 36,5% são puro açúcar. Uma garrafa de 2 litros de suco de uva contém 270g de açúcar (equivalente a ingerir 1 copo e ½ de açúcar) e apenas 10% de sumo de uva. A caixa de 1 litro do mesmo suco contém 145g de açúcar, equivalente a um copo repleto de açúcar.
Um pacote de 35g de suco em pó contém 28g de açúcar e 1% de fruta. Ou seja, 80% do produto são puro açúcar.
Nas embalagens quase nunca aparece a palavra “açúcar”. É substituída por carboidrato.
Há crianças que consomem, por dia, 250 calorias em produtos açucarados. Basta ingerir 100 calorias para engordar 4 quilos por ano. E é bom lembrar que, hoje em dia, as crianças são mais sedentárias, pulam e brincam menos, o que favorece a engorda.
Nossas escolas ensinam quase tudo, menos educação nutricional. Ninguém recorre todos os dias a seus conhecimentos de história ou química, faz operações algébricas ou fala em idioma estrangeiro. No entanto, todos nós comemos várias vezes ao dia. E, em geral, o fazemos sem critério e noção de como o organismo reage aos alimentos, e em que medida são benéficos ou prejudiciais à nossa saúde.
Em 18 de dezembro, a Assembleia Legislativa de SP aprovou dois importantes projetos de lei: proibir a venda de lanches associados a oferta de brindes ou brinquedos, e a publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis (pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio) em TVs e rádios das 6h às 21h, e em qualquer horário nas escolas públicas e particulares. Espera-se que o governador Geraldo Alckmin sancione os dois projetos pioneiros para o combate à obesidade infantil no Brasil***.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Maria Stella Libanio Christo, de “Saborosa viagem pelo Brasil” (Mercuryo Jovem), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
***Nota da Redação: No dia 30 de janeiro, o governador Geraldo Alckmin vetou o projeto de lei que limitava a publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis. O outro projeto, que proíbe a venda de alimentos associados a ofertas de brindes, ainda não foi apreciado pelo governador.
 
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Referências sobre Sustentabilidade e Educação

Saiba como encontrar referências sobre as áreas da Sustentabilidade e da Educação em:



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