REISADO
´Hoje é o Dia de Santos Reis´
6/1/2011
História ou lenda, os Três Reis Magos, a cada ano, angaria mais fiéis no mundo inteiro. O ritual cristão é repleto de música, cores, orações e, claro, peditório
Aqueles que viveram, ou vivem, nas cidades do interior do Ceará e, com alguma sorte, na Capital, sabem exatamente o significado e a dimensão da festa dedicada aos Santos Reis. Desfazer lapinhas, presépios e árvores de Natal, além de completar o "giro" ou o "arremate" com o cortejo que segue pelas ruas e casas, cheio de cores e música, fazem parte do ritual que movimenta cristãos por muitos países.
O dia 6 de janeiro é a data oficial na qual, simbolicamente, encerra-se o ciclo da viagem dos Três Reis Magos até Belém, que, metaforicamente, teve início na véspera de Natal, dia 24. Conta a história, ou reza a lenda, que, guiados por uma Estrela Guia, os três reis, Gaspar, Balthazar e Melchior, teriam saído à procura do recém nascido que teria vindo ao mundo como messias.
O tema é vasto e a quantidade de mistérios e lendas que envolvem esse rito de adoração, assunto de exaustivas publicações, continuam sendo catalogadas em diversas vertentes e denominações, como: Reisado de Congo, de Caretas, Matuto, Damas, Folias ou Companhias de Reis, Tiração de Reis, Presépio, Pastor, Pastorinhas, Pastoris, Bumba meu boi, Cavalo Marinho, Boi de Reis, Reis de Boi, Terno de Reis, Reiadas e outras.
Pouca gente sabe, mas o Reisado propriamente dito, com seus ritos e passagens, nada mais é que a paga de uma promessa feita em devoção aos Santos Reis. E que deve ser paga fazendo as nove noites, o novenário, que vai do dia 26 dezembro e encerra 6 de janeiro, no Dia de Reis. Dentro do ritual cumprido, apesar de ser apenas uma parte dos desafios, um dos pontos mais animados da brincadeira é o peditório de porta em porta.
Tradição global
O professor Oswald Barroso, doutor em cultura popular, pesquisa Reisado de Congo, comum no Cariri, Reisado de Caretas, Bois Natalinos e outros, todos folguedos que giram em torno da figura do Rei.
"Essa adoração existe no mundo inteiro, porque o rei é uma figura que faz parte dos arquétipos centrais do homem, está gravada no inconsciente coletivo, isso se você definir reisado como rito ou folguedo. Esses reisados tomam muitas formas. No Brasil, existem os de predominância cristã, africana, indígena e outros, mas todos sincretizados", destaca Oswald. No Ceará, o Reisado de Congo, conhecido como "reisado da ida para Belém", há forte participação negra. Já nos Reisados de Caretas, "o reisado da volta", há grande inclusão indígena através das máscaras.
"A variação de reisados é grande", destaca o pesquisador. "Para ter ideia, somente no Juazeiro, atualmente, temos 36 reisados de Congo. Muita gente chegou a pensar que reisado estava em extinção, mas, o que vemos, é expansão. Em Sobral, existe um festival de bois que, na realidade, são reisados de caretas. Dentro da cidade eles chamam ´boi´, mas, na zona rural, é reisado de caretas mesmo. Nesses festivais, costumam disputar mais de 50 reisados".
E a festa é animada mesmo. Alguns reisados levam para as ruas estrutura de embaixada, composta de batalhão, grupo de guerreiros, mestre, contra-mestre, rei, rainha, princesa, guia, contra-guia, coice, contra-coice e, no fim, bandeirinha e cortejo. Todos seguindo em duas alas, e contando, também, na dianteira, com balizas, representados por dois "Mateus", um tipo de polícia invertida que vai abrindo alas para o reisado, auxiliando o mestre e fazendo graça para público e brincantes. Sem falar, claro, da banda cabaçal que acompanha todo o cortejo. E, quando eles se fixam no lugar, entra viola, rabeca, pandeiro e zabumba.
"Um grupo, em uma noite, pode apresentar o reisado em três, quatro casas, e vão recolhendo as prendas. Esses mestres fazem isso por missão, rezam antes, se sagram aos Santos Reis, entram nas casas com respeito. Já participei de um reisado no Interior, onde as prendas renderam bode, cabra, carneiro, galinha, jerimuns e muita outras coisas. Foi uma festa para mais de 500 pessoas, e muito farta. Essa é uma festa de devoção e alegria, e que se fortalece a cada ano", finalizou Oswald.
E viva os Santos Reis!
NATERCIA ROCHAREPÓRTER
Aqueles que viveram, ou vivem, nas cidades do interior do Ceará e, com alguma sorte, na Capital, sabem exatamente o significado e a dimensão da festa dedicada aos Santos Reis. Desfazer lapinhas, presépios e árvores de Natal, além de completar o "giro" ou o "arremate" com o cortejo que segue pelas ruas e casas, cheio de cores e música, fazem parte do ritual que movimenta cristãos por muitos países.
O dia 6 de janeiro é a data oficial na qual, simbolicamente, encerra-se o ciclo da viagem dos Três Reis Magos até Belém, que, metaforicamente, teve início na véspera de Natal, dia 24. Conta a história, ou reza a lenda, que, guiados por uma Estrela Guia, os três reis, Gaspar, Balthazar e Melchior, teriam saído à procura do recém nascido que teria vindo ao mundo como messias.
O tema é vasto e a quantidade de mistérios e lendas que envolvem esse rito de adoração, assunto de exaustivas publicações, continuam sendo catalogadas em diversas vertentes e denominações, como: Reisado de Congo, de Caretas, Matuto, Damas, Folias ou Companhias de Reis, Tiração de Reis, Presépio, Pastor, Pastorinhas, Pastoris, Bumba meu boi, Cavalo Marinho, Boi de Reis, Reis de Boi, Terno de Reis, Reiadas e outras.
Pouca gente sabe, mas o Reisado propriamente dito, com seus ritos e passagens, nada mais é que a paga de uma promessa feita em devoção aos Santos Reis. E que deve ser paga fazendo as nove noites, o novenário, que vai do dia 26 dezembro e encerra 6 de janeiro, no Dia de Reis. Dentro do ritual cumprido, apesar de ser apenas uma parte dos desafios, um dos pontos mais animados da brincadeira é o peditório de porta em porta.
Tradição global
O professor Oswald Barroso, doutor em cultura popular, pesquisa Reisado de Congo, comum no Cariri, Reisado de Caretas, Bois Natalinos e outros, todos folguedos que giram em torno da figura do Rei.
"Essa adoração existe no mundo inteiro, porque o rei é uma figura que faz parte dos arquétipos centrais do homem, está gravada no inconsciente coletivo, isso se você definir reisado como rito ou folguedo. Esses reisados tomam muitas formas. No Brasil, existem os de predominância cristã, africana, indígena e outros, mas todos sincretizados", destaca Oswald. No Ceará, o Reisado de Congo, conhecido como "reisado da ida para Belém", há forte participação negra. Já nos Reisados de Caretas, "o reisado da volta", há grande inclusão indígena através das máscaras.
"A variação de reisados é grande", destaca o pesquisador. "Para ter ideia, somente no Juazeiro, atualmente, temos 36 reisados de Congo. Muita gente chegou a pensar que reisado estava em extinção, mas, o que vemos, é expansão. Em Sobral, existe um festival de bois que, na realidade, são reisados de caretas. Dentro da cidade eles chamam ´boi´, mas, na zona rural, é reisado de caretas mesmo. Nesses festivais, costumam disputar mais de 50 reisados".
E a festa é animada mesmo. Alguns reisados levam para as ruas estrutura de embaixada, composta de batalhão, grupo de guerreiros, mestre, contra-mestre, rei, rainha, princesa, guia, contra-guia, coice, contra-coice e, no fim, bandeirinha e cortejo. Todos seguindo em duas alas, e contando, também, na dianteira, com balizas, representados por dois "Mateus", um tipo de polícia invertida que vai abrindo alas para o reisado, auxiliando o mestre e fazendo graça para público e brincantes. Sem falar, claro, da banda cabaçal que acompanha todo o cortejo. E, quando eles se fixam no lugar, entra viola, rabeca, pandeiro e zabumba.
"Um grupo, em uma noite, pode apresentar o reisado em três, quatro casas, e vão recolhendo as prendas. Esses mestres fazem isso por missão, rezam antes, se sagram aos Santos Reis, entram nas casas com respeito. Já participei de um reisado no Interior, onde as prendas renderam bode, cabra, carneiro, galinha, jerimuns e muita outras coisas. Foi uma festa para mais de 500 pessoas, e muito farta. Essa é uma festa de devoção e alegria, e que se fortalece a cada ano", finalizou Oswald.
E viva os Santos Reis!
NATERCIA ROCHAREPÓRTER
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