Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Brasil lidera economia da cultura


Brasil lidera economia da cultura

Ao longo dos seis anos, o Brasil aumentou tanto o volume de exportação quanto o de importação de bens e serviços ligados à indústria criativa
Por Paulo Daniel*
O Brasil é o país da América Latina com o maior saldo positivo no comércio exterior de produtos e serviços ligados à indústria criativa – que abrange áreas tradicionais da cultura (como música, TV, cinema e artes plásticas), mas também artesanato, comunicação, design, arquitetura e itens ligados às novas tecnologias.
Em 2008, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 1,74 bilhão, segundo o Relatório de Economia Criativa de 2010, publicado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).
Das 13 nações da região com volumes mais expressivos de fluxo comercial nessa área, apenas quatro registraram superavit: Peru (US$ 251 milhões), Argentina (US$ 55 milhões) e Bolívia (US$ 4 milhões), além do Brasil. Os maiores déficits são de Venezuela (US$ 2,19 bilhões) e México (US$ 1,51 bilhão).
Ao longo dos seis anos analisados no estudo, o Brasil aumentou tanto o volume de exportação quanto o de importação de bens e serviços ligados à indústria criativa. Mas o grande responsável pelo resultado brasileiro são os serviços, cujo superavit saltou de US$ 477 milhões em 2002 para US$ 2,24 bilhões, em 2008.
No período analisado, o país foi sempre o que mais importou e mais exportou serviços da indústria criativa na América Latina, e registrou superavit todos os anos. O segmento que mais alavanca as exportações é o arquitetônico, que em 2008 respondeu por 88% das vendas (US$ 5,59 bilhões) e 71% das compras (US$ 2,92 bilhões).
Nos produtos o cenário é um pouco diferente. O Brasil tem grande participação nessa área, mas fica atrás do México – as exportações mexicanas alcançaram US$ 5,17 bilhões, e as brasileiras, US$ 1,2 bilhão. O país vizinho aos Estados Unidos, contudo, também importa mais (US$ 6,54 bilhões em 2008, contra US$ 1,72 bilhão do Brasil) e tem deficit maior. A balança comercial brasileira de produtos da indústria criativa vinha sendo positiva até 2007, mas ficou no vermelho em 2008 (déficit de US$ 506 milhões).
O estudo da UNCTAD e do PNUD afirma que o Carnaval é um dos principais impulsionadores da indústria criativa no Brasil. O impacto se dá pela “produção direta de artigos e performances gravadas para a venda para a população local e aos turistas, e pelos efeitos indiretos dos gastos dos turistas cujas visitas foram estimuladas pelo Carnaval”.
A festa ajuda ainda a desenvolver as habilidades dos artistas locais, e impulsiona a venda de produtos e de negócios elaborados por conta da celebração. “O Carnaval oferece uma concentração de performances de música e dança ao vivo e gravadas que têm um significado cultural considerável para o público nacional e internacional”, destaca o relatório.
Uma pesquisa, mencionada no estudo, sobre a cadeia associada ao Carnaval no Rio de Janeiro aponta que a festa, com retorno anual estimado em US$ 600 milhões, emprega quase meio milhão de pessoas e tem impacto direto e indireto na economia, não apenas da cidade, mas do estado.
Outra contribuição para o aumento das exportações de bens e serviços criativos na América Latina foi a retomada da produção cinematográfica na região, particularmente em Argentina, Brasil e México. Porém, o relatório avalia que os filmes nacionais continuam lutando por um espaço na tela com os grandes sucessos estrangeiros. Raramente ficam entre os dez mais vistos nos países, e a participação deles no mercado fica bem atrás das produções internacionais.
A novela é outro produto que ajuda a impulsionar a economia criativa latino-americana. “Na produção televisiva, há casos de sucesso, como a Televisa, no México, e a TV Globo, que são os maiores exportadores de programas de televisão – em sua maioria, novelas – para mercados mundiais”, diz o texto.
* Matéria originalmente publicada no blog Além da Economia

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