Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CULTURA POPULAR - Reisados do Ceará

Reisados destacam religiosidade e cultura

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O cordão do Caroá é um dos mais tradicionais grupos de reisado do Estado
FOTO: JOÃO LUÍS (O4/01/08)
2/1/2011 
Os grupos de reisados ajudam na preservação da tradição religiosa e cultural em vários bairros da Cidade
Tradições religiosa e cultural mantidas. Fortaleza já vive o clima da comemoração de Reis, um festejo deste período, quando alguns grupos encenam o nascimento de Jesus e a visita dos três reis magos. Os vários grupos de reisado realizam cortejo pelas ruas de bairros da Cidade.

O reisado é uma dança popular religiosa que festeja a véspera do Dia de Reis, comemorado em 6 de janeiro. Pode ser dançado em qualquer época do ano, mas a tradição é no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro.

Os grupos que fazem esse ritual costumam sair de porta em porta anunciando a chegada do Messias e cumprimentando os donos das casas por onde passam cantando músicas características.

Apresentação
Cores, ritmo e muita alegria é o que prometem os brincantes do Cordão do Caroá, projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), que se apresentam dia 6 de janeiro, às 18 horas, nos jardins da reitoria, na tradicional Festa de Reis. Este ano, a festa contará com a participação do Reisado Sesc Nossa Senhora da Saúde, Boi Ceará (do Mestre Zé Pio), Brincantes do Mercado Velho, e de dois convidados de Juazeiro do Norte: Reisado São Miguel, do Mestre Valdir, e Reisado do Mestre Cicinho.

Decano
Com dez anos de atividades pautadas na preservação da cultura popular, o Cordão do Caroá tem em sua composição seis estudantes de graduação(Educação Musical, Pedagogia e Sociologia). Elementos da contemporaneidade vêm juntar-se às manifestações culturais, enriquecendo as apresentações.

Para o mestre dos brincantes do Cordão do Caroá, Paulo Henrique Leitão, o Reisado rememora a cearensidade, além de promover a socialização, resgatando a cultura popular.

"O Cordão ajudou a construir uma nova linguagem de difusão artística das culturas de tradição oral no Estado", disse Paulo Henrique Leitão. "Foi através da inserção do Cordão na cultura popular que resolvi aprofundar-me nos estudos do tema e escrever a minha dissertação de mestrado", concluiu. O Cordão do Caroá iniciou sua programação natalina no último dia 24, com um cortejo intitulado "O reisado seguindo a estrela". A concentração aconteceu ao lado da Reitoria da UFC. Depois, o grupo percorreu as principais ruas do Benfica. No dia 26 de dezembro, deu continuidade à programação com a atividade "O Reisado anuncia o nascimento do menino Deus". Neste dia 6, o grupo vai encerrar o ciclo de apresentações.

PERMANÊNCIA

Reisado de Couro é raridade no Nordeste

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Mestre Zé Gonçalo do Reisado de Couro, do Barro Vermelho, localizado no Município de Barbalha. Desde cedo, decidiu levar a brincadeira de reisado com muito respeito
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
3/1/2011 
A tradição do Reisado de Couro remonta mais de 100 anos no Município de Barbalha, no Cariri, e o costume resiste
Barbalha. Um dos mais raros tipos de reisado do Nordeste se encontra no Barro Vermelho, neste Município. É o Reisado de Couro. O grupo foi resgatado há mais de três décadas e resiste ao tempo com os seus brincantes. O Mestre José Pedro de Oliveira, Mestre Gonçalo ou Mestre Pedro, com 81 anos, luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro.

Final de tarde no Sítio Barro Vermelho, e está lá, sentado na varanda de casa no seu sítio, o receptivo brincante Zé Gonçalo, que já foi líder dos penitentes, o decurião, e Mateu de reisado. Desde cedo, mesmo sem o apoio do pai, decidiu levar a brincadeira de reisado com muito respeito. Chegava a fugir de casa, aos 14 anos, para brincar. E deixava a rede montada como se tivesse gente lá dentro dormindo.

O personagem do Mateu ficou só na lembrança. O Mestre fala da sua destreza na juventude e de um erro do adversário na dança. Isso resultou em sangue, já que um corte acima do olho fez o companheiro ir para o hospital. O nervosismo do Mestre Zé Gonçalo fez com que ele não quisesse mais encarar o personagem. Foi a única vez que tirou sangue de alguém, mesmo sem querer.

A tradição do Reisado de Couro remonta mais de 100 anos em Barbalha, segundo o Mestre, que recebeu o título de Mestre da Cultura Popular no Estado, em 2005. Zé Gonçalo agora busca incentivar os novos brincantes, o que não é uma tarefa fácil. O medo é que a tradição fique sem continuidade.

As apresentações do grupo aconteciam na sede dos agricultores do bairro e depois nas ruas da cidade de Barbalha. Na principal festa da cidade, no dia 13 de junho, é de lei o grupo se apresentar. Na data também se comemora o aniversário do líder do grupo.

"Estou perto de viajar e o importante é que fique a cultura", diz. Ele afirma que sempre procura estar nas apresentações para dar o comando com o seu pandeiro. Para o Mestre, os brincantes fazem as apresentações, mas nunca é como se o mesmo estivesse presente. O velho agricultor se empolga quando o assunto é reisado. "A cultura popular não pode acabar porque vem do começo do mundo. Se acaba se o mestre não se interessar de passar para as próximas gerações", ressalta.

Criação
Zé Gonçalo teve a preocupação de aprender com os outros. Foi decorando os passos e as letras de cabeça com outros mestres. Quando decidiu montar o Reisado de Couro, foi criando com os outros colegas, como Chiquinho Bernardo. As vestimentas e as máscaras de couro foram sendo confeccionadas aos poucos.

O grupo foi assumindo uma identidade e alegria. "A diferença do reisado do couro é que os caretas entram gritando", diz Zé Gonçalo. As vestimentas do grupo foram sendo criadas aos poucos, e também as máscaras de couro de boi.

Além do Mestre, tem os caretas, um babau (cavalo) e uma burrinha, o boi careta, o urubu e o jaraguá. São personagens que contam a história de uma tradição rara. É uma dança diferente. "Só de animação", completa o Mestre.

No comando da batida do pandeiro, no ritmado da sanfona e do bumba, os personagens entram em cena. É a entrada da chegada na casa: "Ô de casa, ô de fora, menina vem ver quem é...". Tem também a chegada do boi.

Elementos distintos
De acordo com o folclorista Cacá Araújo, o reisado se apresenta com estrutura ou elementos distintos nas várias regiões do Estado. No Cariri, a presença do negro na cultura da cana-de-açúcar faz aparecer o reisado como Reis de Congo. No sertão, a cultura do gado o transforma no Reis de Couro ou Reis de Careta. No litoral, surgem novas figuras como os "papangus" e o "folharal".

As dificuldades de manutenção das tradições desses grupos, segundo Cacá, tem como vilão e um dos principais entraves ao desenvolvimento de qualquer folguedo a carga midiática. "Difundindo saberes e costumes estranhos à nossa cultura, muitos deles carregados de futilidade consumista e pornografia", constata ele.

Idade
81 anos tem o mestre José Pedro de Oliveira, conhecido como mestre Gonçalo ou mestre Pedro. Ele luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro

MAIS INFORMAÇÕES 
Secretaria de Cultura do Município de Barbalha
Região do Cariri - Estado do Ceará
Telefone: (88) 3532.1708

ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTER
CARETAS

Mascarados de Potengi enriquecem folguedo

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O Reisado do Sassaré ou os Caretas do Sassaré, em Potengi, resistem ao tempo. São décadas de um trabalho por amor à cultura, um dos grupos raros no Brasil
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
3/1/2011 
O Reisado do Sassaré usa máscaras ou caretas, mas numa produção diferenciada. Encanta pelo amor à cultura
Juazeiro do Norte. Outro grupo raro no Cariri se encontra no Município de Potengi, no Sítio Sassaré, a 3 quilômetros da cidade. É o Reisado do Sassaré. O grupo também usa máscaras ou caretas, mas numa produção diferenciada.

Confeccionada em madeira e couro, os antepassados resistem ao tempo, por amor à cultura e a preservação de uma arte. Quando vem o chamado para o grupo se apresentar, começa todo um ritual de organização do material para seguir viagem, que resulta mesmo num grande divertimento. É a brincadeira se transferindo para outro terreiro.

São seis agricultores do Sítio Sassaré, mais os músicos e os personagens. Ao todo, são 12 personagens que eles conseguem formar. No entanto, conforme o formato anterior, seriam 12 caretas, além dos outros integrantes. A preocupação é pela permanência do grupo, mesmo com o número reduzido dos personagens.

Mestre Antônio Luiz de Sousa, de pequeno, que há mais de 23 anos conduz o grupo, deixava muitas vezes de dançar para escutar os chamamentos do mestre Raimundo Maximiniano. As músicas soavam ao seu ouvido como um aviso do destino. O menino só não aprendeu a fazer as máscaras.

A sua preocupação constante é de como fará para dar continuidade a um trabalho. A arte que atravessou décadas e, segundo o mestre, desde o seu bisavô tem notícia do envolvimento da família com o que ele chama de brincadeira.

A tradição nasceu no Município, na comunidade do Sítio Rosário. Lá se realizavam grandes espetáculos aos olhos dos visitantes até de outras cidades da região. Junto com o grupo, a lapinha da comunidade também chamava a atenção.

No grupo, personagens como o jaraguá, guriabá e a margarida estão ausentes, além dos caboclinhos. Há a presença do violeiro, que tem um papel importante nas apresentações.

Seu Francisco José de Amorim, um dos mais antigos na brincadeira, junto com o mestre, também tem a preocupação de juntar as roupas e incrementar os chapéus. Até para comprar os papéis coloridos para enfeitar as indumentárias é preciso buscar ajuda da comunidade. Todo esse movimento dá um tom especial e comunitário às brincadeiras. Chico percebe a importância de se valorizar os grupos de tradição. (ES)

MAIS INFORMAÇÕES 
Prefeitura de Potengi
Diretoria de Cultura
culturapotengi@gmail.com
Telefone: (88) 3538.1225

CRATO E JUAZEIRO
Cortejo de grupos acontece até dia 6
Juazeiro do Norte. O cortejo dos grupos de tradição popular acontece tradicionalmente de 25 de dezembro até 6 de janeiro, Dia de Reis, um dos raros momentos de encontro dos integrantes nas ruas das cidades caririenses. Os brincantes mostram, no passo da resistência, a história que atravessa séculos.

Em Juazeiro do Norte, são cerca de 70 grupos que saem de bairros como o João Cabral, Pio XII e do Frei Damião. A maioria deles urbano. O encontrão acontece na Rua São Pedro, no Centro, mas um dos problemas ainda está relacionado a violência reservada a alguns grupos rivais. Os mestres estão sendo chamados à responsabilidade. O importante é ter uma festa bonita.

Segundo a Secretaria de Cultura deste Município, dentro desse caldeirão cultural, com lapinhas, bandas caçais, entre outros, são pelo menos 20 grupos de reisados. O bailado dos reis também recebe a cadência dos toques das bandas cabaçais.

As ruas se transformam num grande festejo. O gerente de tradição de cultura popular da Secretaria, André de Andrade, aguarda uma confirmação da Secretaria de Cultura do Estado sobre verba para subsidiar a apresentação dos grupos, para ajudar na compra de vestimentas, lanches e transporte, apoio necessário e incentivador.

Mas a reverência ao Dia de Reis é o mais importante dentro do projeto natural. A religiosidade popular da terra do Padre Cícero é o grande incentivo e esse fator se estende também para outras cidades da região, que cumprem o ritual de festa, entre o sagrado e o profano, pois nos grupos existem personagens que dão esse tom, mas dentro de uma dramatização que enfoca o sagrado como principal fundamento.

No Crato, os desfiles dos grupos começam no início da tarde, com trajetos pelas ruas e o encontro no fim da tarde na Praça da Sé. Segundo o folclorista Cacá Araújo, o Crato e o Cariri constituem território de resistência cultural em todas as frentes. Os mestres de reisado Aldenir de Aguiar e Mazé Luna são exemplos de dedicação e liderança na preservação e desenvolvimento das tradições.

CongoO Reisado Decolores Dedé de Luna do Muriti (Mestra Mazé Luna) e o Reisado do Mestre Aldenir são reisados de Congo. Esses dois tradicionalmente fazem suas apresentações tanto nas localidades de origem e também nas ruas.

Têm sua estrutura baseada na hierarquia social de uma corte, com Rei, Mestre e Contramestre ao centro, ladeados por duas fileiras de brincantes, compostas de Embaixador, Guia, Contraguia, Coice, Contracoice e Bandeirinhas (representados pelas crianças). Portam espadas e se vestem como guerreiros medievais. No Reis de Congo, o Boi é a principal figura. Com tudo isso, o Cariri reverencia o Dia de Reis. (ES)

Distinção"O reisado se apresenta com estrutura ou elementos distintos em todo o Estado do Ceará"
Cacá Araújo
Professor e folclorista




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