Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Educar é empoderar pessoas para expandir suas liberdades


O que tem sido pensado e realizado nesta área, quem tem feito a diferença e por que é importante falar sobre ações que inovam e renovam a educação no Brasil e no mundo? Uma equipe multidisciplinar se reuniu em busca dessas respostas e apresenta agora o Porvir, um canal aberto e à disposição de quem se preocupa em melhorar a educação brasileira.

Reimers é venezuelano radicado nos EUA, professor de educação internacional e diretor de educação global e política de educação internacional na Universidade de Harvard. Suas pesquisas têm como foco as inovações em educação e seus impactos em políticas educacionais, qualificação de professores, formação para a liderança e a cidadania, desenvolvimento de competências e habilidades avançadas. Não por acaso, Reimers foi escolhido para estar na matéria de destaque do lançamento deste site. Além de especialista no assunto, ele também aceitou o convite para ser conselheiro editorial do Porvir. Em entrevista concedida à equipe, o especialista conceitua inovação em educação, cita exemplos e mostra o poder transformador dessas iniciativas.
crédito Harvard UniversityFernando Reimers fala sobre inovação em educação

O que você entende por inovação? E o que é inovar em educação?
Na origem, a palavra inovação é entendida como novos jeitos de se fazer algo. Mas o que seria isso em se tratando de educação? Para mim, educação significa empoderar indivíduos para que possam expandir suas liberdades e se tornar membros mais efetivos nas várias comunidades das quais fazem parte. Esse é o papel da educação. E inovar em educação é justamente encontrar formas mais efetivas de empoderar esses indivíduos.

Você pode dar exemplos de iniciativas que encontraram essas formas mais efetivas de empoderar os indivíduos?
Ser mais efetivo pode significar atender um grupo ainda atendido. Hoje, no curso que ministro sobre inovação em educação, conversamos com criadores de projetos que ilustram bem essa ideia. Um deles é uma plataforma on-line, You Visit, que permite que estudantes visitem virtualmente universidades nas quais têm interesse de estudar e tenham acesso à informações necessárias para fazer suas escolhas. Nem todos os estudantes têm dinheiro ou tempo para fazer essas visitas fisicamente. E por que não fazê-las on-line? A plataforma serve às universidades, que atingem outros estudantes e podem aumentar seu número de inscritos. Atende aos professores, que não têm tempo para orientar todos os alunos que os procuram. E, por fim, serve a um número grande de estudantes que não teria acesso a essas universidades no formato tradicional. Cerca de 60% dos estudantes que visitam esse site são de baixa renda. Ou seja, a plataforma está falando com um grupo que não era servido antes.

A inovação precisa ser sempre uma ruptura?
Algumas inovações podem ser disruptivas e transformar completamente a forma como fazemos certas coisas. Já outras podem melhorar e aprimorar “o jogo”, como é o caso do Roads to Reading, uma organização sem fins lucrativos que fornece livros para bibliotecas de escolas carentes.
Temos discutido como podemos educar os alunos para que eles aprendam por si mesmos
A beleza do projeto é que eles acharam uma metodologia de financiamento que os ajudou a crescer muito e rapidamente, chegando a US$ 45 milhões de dólares em doações. Levar bibliotecas para escolas não é inovador, mas criar uma forma de financiamento que potencialize a chegada desses livros nas escolas e, consequentemente, sirva a um maior número de crianças que não eram servidas, isso é inovador.

Como podemos inovar em educação? Estamos falando de metodologia? Ferramentas? Competências para ensinar?
Podemos inovar em todas essas frentes. Podemos inovar, por exemplo, no propósito. Aqui em Harvard, organizamos recentemente um encontro para saber o que devemos ensinar nas escolas. Acreditamos que, em geral, as escolas desenvolvem apenas as competências acadêmicas. Não há um trabalho voltado ao desenvolvimento de outras habilidades, tão fundamentais para que os alunos se tornem indivíduos independentes e atuem em suas comunidades. Faltam propostas para desenvolver o que chamamos de capacidades sociopsicológicas, como resiliência, perseverança, empatia, habilidade para trabalhar em grupo e aprender com os seus erros, entre outros.
Também podemos inovar nos currículos. Temos discutido como podemos educar os alunos para que eles aprendam por si mesmos. Uma das ideias que colocamos em prática é a do Laboratório de Inovações, um espaço para que estudantes de diferentes cursos se encontrem e desenvolvam juntos soluções para problemas relevantes. Enfim, podemos inovar com educação on-line, por meio de esportes, alterando a estrutura física de uma escola e até na forma como financiamos um projeto.

Quem são os principais atores da sociedade que estão inovando em educação?
A maior parte das inovações acontece quando você reúne pessoas que pensam de forma diferente sobre a causa e a solução de um mesmo problema. Mas isso não é algo fácil de se fazer no dia-a-dia, porque geralmente nos agrupamos por disciplinas, áreas de interesse, visão de mundo, preconceitos. Isso limita nossa capacidade de sermos criativos e inventivos.
Tenho menos chances de inovar aqui [Harvard] do que se estivesse em uma universidade on-line
Outro fator importante é atrair o grupo certo de pessoas, já que nem todos têm o desejo ou a disposição para serem criativos e solucionar problemas. Mesmo que o contexto seja favorável, é preciso que as pessoas tenham essa predisposição.
Um terceiro ponto diz respeito à criação de um contexto que reconheça esse desejo e ajude a modelar esses encontros, para que seja possível inovar, como é o caso do laboratório de inovação. Alguns autores dizem que existem cidades extremamente criativas porque, de alguma forma, elas atraíram e reuniram pessoas de múltiplas disciplinaridades e com o mesmo desejo de inovar.

Onde estão as pessoas que mais inovam? Na área de tecnologia? Nas empresas?
O que sabemos é que a inovação acontece mais facilmente na periferia. É muito difícil inovar em núcleos de forte tradição, onde já existe um reconhecimento, uma expectativa e a pressão de vários grupos de interesse. Na periferia, fica muito mais fácil. Eu, por exemplo, trabalho numa universidade reconhecida, onde os alunos chegam naturalmente, independentemente de eu estar ensinando bem ou mal, e onde existem muitos recursos. Tenho menos chances de inovar aqui do que se estivesse em uma universidade on-line, tentando construir credibilidade, atrair alunos, pensar novos formatos de aula.
E como confirmar que algo é realmente inovador?
Acredito que algumas das perguntas que devem ser feitas são: Qual o propósito do projeto? O que está tentando fazer? O que existe de novo nessa abordagem? Qual o impacto que ele pode causar? Vivemos em um tempo cujas métricas e resultados são muito enfatizados e podem matar uma inovação no seu início. E o propósito das inovações é expandir esse conceito. Avaliar um projeto inovador dentro dessas métricas pode não trazer resultados positivos. Claro que avaliar é importante, mas precisamos primeiro saber se estamos usando a métrica correta e se estamos avaliando no tempo certo, ou se estamos fazendo isso com a ferramenta errada e de forma prematura.

http://porvir.org/porpessoas/fernando-reimers/20120428

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