Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Encontro Marcado de Fernando Sabino


O livro de Fernando Sabino sobre trajetória de um jovem surpreendeu a crítica na época por sua aderência ao real e por retratar as desilusões de uma geração em crise


11/07/2011 19:41
Texto Daniel Schneider e Thiago Minani
Bravo
Foto: Ricardo Chaves
Foto: Mestre das crônicas, Fernando Sabino esteve ligado a grandes escritores desde sua juventude
Mestre das crônicas, Fernando Sabino esteve ligado a grandes escritores desde sua juventude
Segundo o escritor Tristão de Athayde, O Encontro Marcado (1956), de Fernando Sabino, constituiria o "drama de uma geração". Embora a afirmação esteja correta, é preciso explicá-la melhor: o romance se afirma como sinal de uma época, mas de uma época plasmada pelos olhos de um único personagem, o do escritor Eduardo Marciano. Há dezenas de outras figuras na história, entre amigos, namoradas, a esposa, mas todos servem para esclarecer a trajetória do protagonista. Como bem disse o crítico Wilson Martins: "Os demais personagens do romance, mesmo os que se criou com maior felicidade, se confundem numa espécie de segundo plano brumoso e vago. Eles não têm fisionomia: são corpos fluidos, flutuando na neblina (...) O drama de Eduardo não é o de viver um destino comum com sua geração, mas o de viver uma solidão que o separa irremediavelmente dos homens".

A época de Eduardo Marciano, sua biografia enfim, confunde-se bastante com a do autor, a ponto de muitos acreditarem que se trata de um romance semi-autobiográfico. Nas confusões do grupo escolar em Belo Horizonte; nos papos posteriores com os amigos, em que a boemia se mistura a discussões literárias; na busca por um emprego por meio do qual pudesse se sustentar para levar adiante a vocação para a escrita; no matrimônio em crise — em cada um desses momentos, pode-se imaginar se Sabino não estava descrevendo situações pelas quais passou. Na verdade são situações pelas quais o autor poderia ter passado, tal o nível de aderência ao real que caracteriza o texto.

Encontro Marcado mostra, principalmente, a angústia de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Nesse sentido, é, sim, o drama de uma geração; uma geração dilacerada entre os altos anseios e o muro de uma realidade turva, que teima em quebrar-lhe as expectativas. "De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar", diz o narrador sobre Eduardo. A geração de Sabino bebeu em Jean-Paul Sartre e em Albert Camus, e o existencialismo dos dois filósofos franceses foi seu néctar amargo. Por isso, é precisa a definição do também escritor mineiro Lúcio Cardoso ao dizer que o livro é "a violenta história de uma náusea", referindo ao título de um romance de Sartre.

Nascido em 1923 em Belo Horizonte, Sabino uniu-se na juventude a Hélio Pelegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos em intensa convivência que perduraria a vida inteira. Chamou a atenção dos críticos com a novela A Marca, de 1944, ano em que se casou com Helena Valadares, filha do então governador de Minas. No Rio de Janeiro, para onde se mudou, se liga à roda de escritores, da qual faziam parte Aníbal Machado e Carlos Drummond de Andrade.

Sabino foi um mestre também nas narrativas curtas e nas crônicas, publicando nesses gêneros O Homem Nu, A Mulher do Vizinho, A Inglesa Deslumbrada e Deixa o Alfredo Falar!. Em 1979 lançou seu segundo romance, O Grande Mentecapto, retomando uma história iniciada 33 anos antes. Morreu em outubro de 2004, no Rio de Janeiro. Encontro Marcado, seu maior êxito, hoje se encontra na 67ª edição.

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/encontro-marcado-402981.shtml?utm_source=redesabril_educar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_educar&utm_content=fds

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