Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Lêdo Ivo cobra uma poesia mais indignada com problemas sociais



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CARMEN SIGÜENZA
DA EFE, EM MADRI
O poeta Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), está em visita à Espanha. Em Madri, o poeta foi convidado para apresentar uma palestra na Residência de Estudantes, mesmo lugar no qual falou nesta segunda-feira (10) sobre a falta de consciência social e a de compromisso que a literatura possui atualmente.
"Existe um excesso de atenção ao eu próprio. Parece que a indignação acabou, que os problemas sociais e de coletividade não são mais dos criadores. Hoje em dia, os poetas acabam prestando mais atenção aos assuntos amorosos e sentimentais do seu próprio eu", explicou o poeta.
O poeta disse sentir uma devoção pela literatura espanhola desde criança, citando obras de García Lorca, Alberti e toda sua geração, além de Lope de Vega, Gonzalo de Berceo e Antonio Machado, seu preferido.
Lêdo Ivo é uma personalidade simbólica na sociedade, e, aos 87 anos, apresenta uma vitalidade e um discurso apaixonado de fazer inveja até aos mais jovens. O narrador, ensaísta, jornalista e, principalmente, poeta pertence à Geração de 45, um grupo de escritores que se mostrava contrário ao modernismo de 1922. Esse movimento literário contava com João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Rubem Braga, Clarice Lispector, entre outros.
"Nasci poeta e entendo que o mundo se divide entre os poetas, formados por literatos, arquitetos, pintores, dançarinos e músicos, e os que não têm voz. Esses são os poetas que dão voz e música para os que não têm", argumentou o autor de "As Imaginações", "Rumor da Noite" e "Ode e Elegia", vencedor do prêmio de Poesia da ABL.
Fernando Rabelo/Folhapress
Poeta Lêdo Ivo
Poeta Lêdo Ivo
Amante de sonetos, dos versos longos e adorador de T.S Eliot, Lêdo Ivo afirmou que seus escritores favoritos são originários mais de França e Inglaterra do que de Portugal e do próprio Brasil.
"Acreditamos que estamos mudando muito no Brasil, mas ainda existe uma grande desigualdade. Nosso futuro depende de uma melhor educação e de uma melhor formação. Esse é nosso grande desafio", acrescentou Ivo.
Poeta da nudez, da música e com mais de 66 anos de atividade, Lêdo Ivo disse que se sente melhor poeta na velhice do que na juventude. "Agora posso refletir mais, tenho mais sentimento de conciliação metafísica e vejo mais o minúsculo, o cotidiano. Além disso, estou mais marcado pelas emoções", destacou.
Para o escritor, a poesia tem um papel fundamental na memória do mundo. "Se não tivesse existido Gómez de Quevedo e Gonzalo de Berceo, por exemplo, saberíamos muito pouco sobre a Espanha", concluiu Ivo, exaltando que o poeta é uma espécie de "máscara", uma imagem que esconde sua face verdadeira.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/988510-ledo-ivo-cobra-uma-poesia-mais-indignada-com-problemas-sociais.shtml

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