Série: UM MUNDO DE LETRAS
Programa: UM MUNDO DE LETRAS - PGM. 5: CAMINHOS PARA LER O MUNDO
Sinopse: A Série "Um Mundo de Letras" aborda questões relativas à alfabetização, letramento e cidadania. Levando em conta as diferenças culturais do País e as peculiaridades da Língua Portuguesa em cada região.
O quinto episódio da série fala da necessidade do hábito de leitura para desenvolver a postura de leitor. Para que a leitura seja transformadora é preciso que a pessoa crie seu próprio caminho.
Duração: 26 minutos
http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_jumi&fileid=3&dia=03&mes=02&ano=2011&Itemid=235
Faixa de Ensino: FUNDAMENTAL
Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Livros e Leitura: 15 milhões de alunos sem Biblioteca
Quinze milhões de alunos estudam em escolas sem biblioteca no país
Demétrio Weber

O Centro de Ensino Fundamental em Sobradinho, região rural do Distrito Federal, onde não há bibliotecas, laboratórios científicos e o mobiliário está em mau estado de conservação. Foto: André Coelho / Agência O Globo
Na volta às aulas, milhões de alunos de todo o país vão estudar este ano em escolas onde não há laboratório de ciências, biblioteca, laboratório de informática ou quadra de esportes. O Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) mostra que, no ano passado, 27 milhões de estudantes de ensino fundamental e médio (70% do total) frequentavam estabelecimentos sem laboratório de ciências. A inexistência de bibliotecas era realidade para 15 milhões (39%), enquanto 9,5 milhões (24%) estavam matriculados em escolas sem laboratório de informática, e 14 milhões (35%), em unidades sem quadra esportiva.
Os dados foram divulgados pelo MEC em dezembro e consideram tanto a rede pública quanto a privada. No ensino médio, menos da metade das escolas tinha laboratório de ciências. Nas séries finais do ensino fundamental, a situação era mais grave: só 23% delas estavam equipadas. Nas séries iniciais do fundamental, apenas 7% dos estabelecimentos tinham laboratório de ciências.
“Os alunos possivelmente terão prejuízo na formação”
Falando em nome do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a secretária de Mato Grosso, Rosa Neide Sandes de Almeida, diz que as deficiências na infraestrutura prejudicam a aprendizagem. Ela culpa a falta de investimentos em governos anteriores, tanto em nível federal quanto estadual e municipal, mas ressalva que a situação começou a mudar na última década:
- Os alunos possivelmente terão um prejuízo significativo na sua formação. Isso com certeza tem consequências para o nível de escolaridade que a gente oferece à nossa população. O Brasil ainda está fazendo o dever de casa em aspectos primários da escola – diz Rosa Neide.
A falta de infraestrutura preocupa a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da SBPC, Isaac Roitman, considera a situação vergonhosa e defende o lançamento de um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) específico para recuperar escolas e formar professores. Até hoje, nenhum brasileiro foi agraciado com o prêmio Nobel.
- Deveria ser prioridade para quem pensa no futuro do Brasil – disse Roitman, por e-mail.
O consultor do movimento Todos pela Educação e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Mozart Neves Ramos, critica a falta de padrões mínimos para o funcionamento de escolas. Segundo ele, o poder público deveria estabelecer critérios e fazer a certificação das escolas.
Em maio, o CNE aprovou parecer definindo padrões de qualidade para a rede pública, o que exigiria aumentar investimentos em educação. O parecer só vale se for homologado pelo ministro Fernando Haddad, o que ainda não ocorreu. Segundo o MEC, o texto permanece em análise.
- A gente não pode oferecer escola de qualquer jeito. É preciso dizer quais são os insumos que se espera que uma escola tenha – diz Mozart.
Ele chama a atenção para outro ponto: não basta ter laboratórios e bibliotecas, é preciso que professores e alunos utilizem os recursos:
- O pior de tudo é que, mesmo nas escolas que têm laboratórios, eles são pouco usados – diz Mozart.
Em escola no DF, computadores sem uso
O Distrito Federal, unidade da Federação que lidera rankings de avaliação do MEC, não foge à realidade revelada pelo censo. O Centro de Ensino Fundamental Fercal, na cidade-satélite de Sobradinho, não tem biblioteca nem laboratório de informática. A escola recebeu 20 computadores do MEC no ano passado, mas dez máquinas permanecem nas caixas, e as demais não são usadas.
O vice-diretor Samuel Wvilde diz que a rede elétrica não suporta o funcionamento simultâneo dos computadores. Há um projeto de reconstrução da escola. Os livros de literatura ficam guardados junto com o material esportivo. O resto do acervo foi transferido para outra escola, onde está sem uso. O centro atende a 1,1 mil alunos de ensino médio e dos anos finais do fundamental.
A Escola Classe Engenho Velho, com 420 alunos, não tem biblioteca nem laboratório de informática. A vice-diretora Susan Fernandes conta que o MEC já ofereceu computadores três vezes, mas a doação foi recusada porque o prédio não tem sala disponível. Os livros de literatura ficam guardados em caixas, que são levadas pelos professores para as salas de aulas.
O MEC informa que investiu R$ 774 milhões na compra e distribuição de computadores capazes de beneficiar 30 milhões de alunos, entre 2004 e 2010.
Fonte: O Globo
domingo, 30 de janeiro de 2011
CULTURA POPULAR : a Capoeira é coisa nossa
Abaixo, entrevista com o Mestre da Capoeira Claudio Queiroz, professor da UnB - Universidade de Brasília, que falou de arquitetura e de capoeira para o Jornal Correio Brasiliense, publicado em http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/01/30/interna_diversao_arte,234860/claudio-queiroz-professor-da-unb-fala-de-arquitetura-e-de-capoeira.shtml
Jonas Banhos
Publicação: 30/01/2011 08:00 Atualização:
Com a sua fluência barroca torrencial, o paraibano Claudio Queiroz, professor de arquitetura da UnB e mestre de capoeira, é um defensor apaixonado de Brasília. Estudou arquitetura no Rio de Janeiro, morou na Argélia — onde trabalhou com Oscar Niemeyer —, foi superintendente do Iphan e se orgulha de ter sido o primeiro a introduzir o ensino da capoeira nas escolas públicas do DF. Claudio viaja por vários pontos do mundo para falar sobre Brasília, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e capoeira. Discutiu, aliás, as duas artes em sua tese de doutorado. Nesta entrevista, ele fala sobre a singularidade da capital, as ameaças à qualidade de vida dos brasilienses e a ginga brasileira.
Arquiteto com ginga
Você é arquiteto e mestre de capoeira. O que capoeira tem a ver com arquitetura?É engraçado porque em minha tese de doutorado eu discuti a relação entre a capoeira, que é expressão da cultura popular, com a arquitetura, que tem uma forma erudita. O que faz a sofisticação da arquitetura é o fato de não ser um campo de conhecimento em si, mas sim o de ser um território do entre, que o filósofo alemão Heidegger chamou de dasein. Ou seja: a arquitetura é formada pelo diálogo com outros campos de conhecimento, harmoniza áreas contraditórias, as tecnologias, as ciências exatas, a matemática e as belas artes. Com a capoeira ocorre algo semelhante. Capoeira não é só dança, luta ou jogo, mas sim as três coisas interagindo de maneira indissociável, da mesma maneira que, na arquitetura, a estética, a racionalidade e a funcionalidade são indivisíveis.
E o que ocorre quando se rompe com a harmonia dos três elementos da capoeira?As capoeiras que existiam sem som se acabaram, porque eram brutais. Elas ocorriam quando os índios e caboclos fugiam para as florestas, tentando escapar de um pelotão de bugres comandado pelo capitão do mato, um bandeirante que tinha todas as maldades humanas a serviço de uma empresa. Com a abolição dos escravos, ela foi para os centros urbanos e era violenta. Mas aí caiu no berimbau e no pandeiro árabe na Bahia, o que criou um sistema ético e melódico para a capoeira. Cada sistema de ritmo é uma estratégia de luta, esses mantras transformam qualquer sujeito em um monge budista, que descobre o zen caboclo e se descola da realidade. Tem de aprender o ritmo para jogar a capoeira e, finalmente, o jogador se torna o rimo, se torna intocável. Isso é a capoeira, um produto só nosso.
É mesmo verdade que há muitos estrangeiros apaixonados pela capoeira?Olha, eu tenho sido convidado para realizar palestras em vários lugares do mundo sobre capoeira. Fiz uma palestra no Trinity College de Dublin e o embaixador avisou: aqui as pessoas não resistem a mais de 40 minutos de palestra. Falei uma hora e quarenta minutos e ninguém saiu. Em Estocolmo, na saída de uma palestra, um rapaz sueco me procurou e disse: “Vocês vão conquistar o mundo”. Eu respondi a ele que nós não tínhamos nenhuma chance, não produzimos armas de contato e tampouco temos dinheiro para distribuirmos o Prêmio Nobel. Aí, ele disse: “Mas a cultura de vocês é muito sedutora”. Há mais de 500 capoeiristas só em Estocolmo. Perguntei a um deles como havia aprendido a falar o português e ele me respondeu: “Cantando, mestre”. Eu disse a ele: “Mas você não entende o significado das palavras”. E ele me explicou que “entendia a mandinga”. Talvez a difusão do português esteja crescendo assustadoramente por causa da capoeira. Eles aprendem a cantar, a aplicar os golpes e a falar o português.
Como é a história de que você teria sido guarda-costas do Honestino Guimarães na década de 1960?Ah, isso era uma brincadeira que a gente fazia. Fui o primeiro professor a dar aula de capoeira nas escolas de Brasília. Era uma época em que Brasília vivia o tempo da nova capital, mas também o do Cinema Novo, o da Bossa nova, com muita intensidade. Dava aulas no colégio Elefante Branco e o Honestino Guimarães aparecia muito por lá para se encontrar com a Marlui Miranda ou a Eliane Menezes (que se casou com o fotógrafo Mário Carneiro). Quando havia passeatas estudantis, eu e o irmão do Honestino brincávamos de ser segurança dele. Mas eu tive de sair de Brasília.
Por quê?Certo dia, uma pessoa tentou pegar o Honestino, houve um entrevero, fizemos um esparramo na rua, livramos o Honestino, mas nós fomos reconhecidos. Eu tive de ir para o Rio de Janeiro, porque a coisa estava perigosa. O meu pai era militar. Só voltei a Brasília 17 anos depois.
Como você se ligou a Brasília?Cheguei aqui em 1961, aos 13 anos, vindo de Petrópolis, uma cidade montanhosa e monárquica. Tinha visto recentemente o filme Ben-Hur e aqueles postes inclinados, a perspectiva gigantesca, os prédios dando aquele ritmo me fizeram sentir como o Ben-Hur entrando nos circos romanos. Senti a monumentalidade de Brasília, uma cidade republicana no altiplano central do país. Fui perceber que Brasília não tinha fios, o era formidável para soltar pipa. Brasília é uma imensa pipa no céu gigantesco que é o Brasil.
O que distingue Brasília como cidade?
Tenho três filhos, tivemos dois nascidos na Argélia e uma em Brasília. A minha filha chegou a Brasília com 8 anos e aos 18 foi morar no Rio de Janeiro, em Copacabana, para estudar arquitetura. Ela disse que a maior dificuldade era ver o céu, quando saía de casa, pois ficava com dor no pescoço. E outra coisa que incomodava é que ela tinha de andar como cavalo de xadrez, fazendo uma espécie de ziguezague o tempo todo. É o trajeto de qualquer cidade tradicional. Em Brasília, você anda em qualquer direção.
Mas e do ponto de vista da arquitetura?Le Corbusier já dizia que a arquitetura é um grande espetáculo de luzes e sombras. E Brasília é isso.
Como vê a clássica crítica de que a arquitetura de Oscar Niemeyer é plástica e escultórica e não funcional?Discordo completamente e não propriamente por causa do Niemeyer, mas pela arquitetura moderna. Lucio Costa escreveu um texto chamado “As razões da arquitetura”. Entre outras coisas, o doutor Lucio dizia que as pessoas não percebem a grande diferença do moderno em relação ao clássico. Com ela, o plano livre não está mais subordinado às paredes. É como se fosse um esqueleto solto do corpo. Todo prédio pode ser destituído da função original e assumir outra função. A funcionalidade não está mais fixada nas paredes.
Mas há certos prédios que têm problemas de ventilação, que fazem um calor de rachar…Quem determinou com muita sabedoria a posição dos edifícios foi o doutor Lucio Costa. Ao colocar os ministérios justapostos lado a lado no eixo leste e oeste, ele criou um espaço de dignidade monumental. Oscar Niemeyer criou os edifícios com espaços vazados, se a janela de cá e de lá estiverem abertas, tem a ventilação cruzada, que é muito importante em clima seco e árido, como é o do Planalto Central. Mas as construções foram erguidas e apropriadas no ritmo de Brasília e, muitas vezes, isso compromete a funcionalidade dos edifícios.
Poderia dar um exemplo?Reclamam que o cheiro da cozinha do Palácio da Alvorada sobe para os outros andares. Mas ocorre que todos os vidros ficam fechados e eventualmente a cozinha é usada nas recepções. É claro que quando você abre as janelas o cheiro vaza para outros espaços. As pessoas vedam as aberturas superiores e colocam ar-condicionado. Não discordo que essas condições possam ser melhoradas, mas é preciso ver o que de fato ocorreu, pois o princípio da funcionalidade é correto.
O que há de mais belo em Brasília?Se não tivesse sido escolhida Patrimônio Cultural da Humanidade, a escolha do lugar para a criação de Brasília já mereceria ser distinguida. Achou-se um lugar que está no ponto mais próximo do centro do país, situado em um altiplano, o que se torna um ponto estratégico. A Catedral de São Pedro, em Roma, é o domo da cristandade; Brasília é o domo da brasilidade, o lugar onde nasce uma nova civilização.
Em que medida Brasília pode ser situada como marco de uma nova civilização?Existe um ditado de que Deus escrevia errado em linhas certas, mas, no nosso caso, escreveu certo em linhas erradas. Lucio Costa dizia que Brasília não tinha mar, mas o céu era o nosso mar. Quando eu era superintendente do Iphan, um grupo de jovens me procurou para saber como era possível tombar o céu de Brasília. E eu disse para eles: é simples, basta garantir a preservação dos padrões de arquitetura da cidade. Os primeiros brasileiros, os brasilíndios e negrilindios, filhos da cunhã indigena com os portugueses e os negros, já pensavam em uma capital no sertão. Brasília é uma resposta a um mito nacional. E me derreto de emoção quando vejo a capital do país ser representada na forma deste grande arco tupi atirando na direção de pássaros do céu. É a própria forma do Plano Piloto.
De que maneira isso acontece?Essas coisas não vêm do consciente, vêm do inconsciente. Vejo o arco tupi e vejo as formas de latente feminilidade das índias, das baianas ou das jangadeiras, no Palácio da Alvorada ou no Palácio do Planalto. Com isso, a gente entende por que, ao visitar Brasília, o escritor francês André Malraux afirmou que as colunas do Palácio do Alvorada seriam “cariatides libertárias”. Porque as colunas gregas eram colunas submetidas. Eles invadiram as ilhas de Carie, mataram os homens e deixaram as mulheres para o seu deleite e para perpetuar a raça dos helenos. As nossas colunas são libertárias. Nós somos a utopia de multiculturalismo dos norte-americanos e dos europeus.
Qual o maior desafio de Brasília para manter a sua qualidade de vida?É preciso evitar que o Plano Piloto seja Washington e as cidades-satélites virem Nova York. Quer dizer, é preciso manter a qualidade de vida do Plano Piloto nas cidades-satélites. Águas Claras é verticalizada. É importante cuidar da saúde, mas o governo do Distrito Federal precisa zelar de Brasília na condição de Patrimônio Cultural da Humanidade. Isso não é algo menor.
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Arquiteto com ginga
Você é arquiteto e mestre de capoeira. O que capoeira tem a ver com arquitetura?É engraçado porque em minha tese de doutorado eu discuti a relação entre a capoeira, que é expressão da cultura popular, com a arquitetura, que tem uma forma erudita. O que faz a sofisticação da arquitetura é o fato de não ser um campo de conhecimento em si, mas sim o de ser um território do entre, que o filósofo alemão Heidegger chamou de dasein. Ou seja: a arquitetura é formada pelo diálogo com outros campos de conhecimento, harmoniza áreas contraditórias, as tecnologias, as ciências exatas, a matemática e as belas artes. Com a capoeira ocorre algo semelhante. Capoeira não é só dança, luta ou jogo, mas sim as três coisas interagindo de maneira indissociável, da mesma maneira que, na arquitetura, a estética, a racionalidade e a funcionalidade são indivisíveis.
E o que ocorre quando se rompe com a harmonia dos três elementos da capoeira?As capoeiras que existiam sem som se acabaram, porque eram brutais. Elas ocorriam quando os índios e caboclos fugiam para as florestas, tentando escapar de um pelotão de bugres comandado pelo capitão do mato, um bandeirante que tinha todas as maldades humanas a serviço de uma empresa. Com a abolição dos escravos, ela foi para os centros urbanos e era violenta. Mas aí caiu no berimbau e no pandeiro árabe na Bahia, o que criou um sistema ético e melódico para a capoeira. Cada sistema de ritmo é uma estratégia de luta, esses mantras transformam qualquer sujeito em um monge budista, que descobre o zen caboclo e se descola da realidade. Tem de aprender o ritmo para jogar a capoeira e, finalmente, o jogador se torna o rimo, se torna intocável. Isso é a capoeira, um produto só nosso.
É mesmo verdade que há muitos estrangeiros apaixonados pela capoeira?Olha, eu tenho sido convidado para realizar palestras em vários lugares do mundo sobre capoeira. Fiz uma palestra no Trinity College de Dublin e o embaixador avisou: aqui as pessoas não resistem a mais de 40 minutos de palestra. Falei uma hora e quarenta minutos e ninguém saiu. Em Estocolmo, na saída de uma palestra, um rapaz sueco me procurou e disse: “Vocês vão conquistar o mundo”. Eu respondi a ele que nós não tínhamos nenhuma chance, não produzimos armas de contato e tampouco temos dinheiro para distribuirmos o Prêmio Nobel. Aí, ele disse: “Mas a cultura de vocês é muito sedutora”. Há mais de 500 capoeiristas só em Estocolmo. Perguntei a um deles como havia aprendido a falar o português e ele me respondeu: “Cantando, mestre”. Eu disse a ele: “Mas você não entende o significado das palavras”. E ele me explicou que “entendia a mandinga”. Talvez a difusão do português esteja crescendo assustadoramente por causa da capoeira. Eles aprendem a cantar, a aplicar os golpes e a falar o português.
Como é a história de que você teria sido guarda-costas do Honestino Guimarães na década de 1960?Ah, isso era uma brincadeira que a gente fazia. Fui o primeiro professor a dar aula de capoeira nas escolas de Brasília. Era uma época em que Brasília vivia o tempo da nova capital, mas também o do Cinema Novo, o da Bossa nova, com muita intensidade. Dava aulas no colégio Elefante Branco e o Honestino Guimarães aparecia muito por lá para se encontrar com a Marlui Miranda ou a Eliane Menezes (que se casou com o fotógrafo Mário Carneiro). Quando havia passeatas estudantis, eu e o irmão do Honestino brincávamos de ser segurança dele. Mas eu tive de sair de Brasília.
Por quê?Certo dia, uma pessoa tentou pegar o Honestino, houve um entrevero, fizemos um esparramo na rua, livramos o Honestino, mas nós fomos reconhecidos. Eu tive de ir para o Rio de Janeiro, porque a coisa estava perigosa. O meu pai era militar. Só voltei a Brasília 17 anos depois.
Como você se ligou a Brasília?Cheguei aqui em 1961, aos 13 anos, vindo de Petrópolis, uma cidade montanhosa e monárquica. Tinha visto recentemente o filme Ben-Hur e aqueles postes inclinados, a perspectiva gigantesca, os prédios dando aquele ritmo me fizeram sentir como o Ben-Hur entrando nos circos romanos. Senti a monumentalidade de Brasília, uma cidade republicana no altiplano central do país. Fui perceber que Brasília não tinha fios, o era formidável para soltar pipa. Brasília é uma imensa pipa no céu gigantesco que é o Brasil.
O que distingue Brasília como cidade?
Tenho três filhos, tivemos dois nascidos na Argélia e uma em Brasília. A minha filha chegou a Brasília com 8 anos e aos 18 foi morar no Rio de Janeiro, em Copacabana, para estudar arquitetura. Ela disse que a maior dificuldade era ver o céu, quando saía de casa, pois ficava com dor no pescoço. E outra coisa que incomodava é que ela tinha de andar como cavalo de xadrez, fazendo uma espécie de ziguezague o tempo todo. É o trajeto de qualquer cidade tradicional. Em Brasília, você anda em qualquer direção.
Mas e do ponto de vista da arquitetura?Le Corbusier já dizia que a arquitetura é um grande espetáculo de luzes e sombras. E Brasília é isso.
Como vê a clássica crítica de que a arquitetura de Oscar Niemeyer é plástica e escultórica e não funcional?Discordo completamente e não propriamente por causa do Niemeyer, mas pela arquitetura moderna. Lucio Costa escreveu um texto chamado “As razões da arquitetura”. Entre outras coisas, o doutor Lucio dizia que as pessoas não percebem a grande diferença do moderno em relação ao clássico. Com ela, o plano livre não está mais subordinado às paredes. É como se fosse um esqueleto solto do corpo. Todo prédio pode ser destituído da função original e assumir outra função. A funcionalidade não está mais fixada nas paredes.
Mas há certos prédios que têm problemas de ventilação, que fazem um calor de rachar…Quem determinou com muita sabedoria a posição dos edifícios foi o doutor Lucio Costa. Ao colocar os ministérios justapostos lado a lado no eixo leste e oeste, ele criou um espaço de dignidade monumental. Oscar Niemeyer criou os edifícios com espaços vazados, se a janela de cá e de lá estiverem abertas, tem a ventilação cruzada, que é muito importante em clima seco e árido, como é o do Planalto Central. Mas as construções foram erguidas e apropriadas no ritmo de Brasília e, muitas vezes, isso compromete a funcionalidade dos edifícios.
Poderia dar um exemplo?Reclamam que o cheiro da cozinha do Palácio da Alvorada sobe para os outros andares. Mas ocorre que todos os vidros ficam fechados e eventualmente a cozinha é usada nas recepções. É claro que quando você abre as janelas o cheiro vaza para outros espaços. As pessoas vedam as aberturas superiores e colocam ar-condicionado. Não discordo que essas condições possam ser melhoradas, mas é preciso ver o que de fato ocorreu, pois o princípio da funcionalidade é correto.
O que há de mais belo em Brasília?Se não tivesse sido escolhida Patrimônio Cultural da Humanidade, a escolha do lugar para a criação de Brasília já mereceria ser distinguida. Achou-se um lugar que está no ponto mais próximo do centro do país, situado em um altiplano, o que se torna um ponto estratégico. A Catedral de São Pedro, em Roma, é o domo da cristandade; Brasília é o domo da brasilidade, o lugar onde nasce uma nova civilização.
Em que medida Brasília pode ser situada como marco de uma nova civilização?Existe um ditado de que Deus escrevia errado em linhas certas, mas, no nosso caso, escreveu certo em linhas erradas. Lucio Costa dizia que Brasília não tinha mar, mas o céu era o nosso mar. Quando eu era superintendente do Iphan, um grupo de jovens me procurou para saber como era possível tombar o céu de Brasília. E eu disse para eles: é simples, basta garantir a preservação dos padrões de arquitetura da cidade. Os primeiros brasileiros, os brasilíndios e negrilindios, filhos da cunhã indigena com os portugueses e os negros, já pensavam em uma capital no sertão. Brasília é uma resposta a um mito nacional. E me derreto de emoção quando vejo a capital do país ser representada na forma deste grande arco tupi atirando na direção de pássaros do céu. É a própria forma do Plano Piloto.
De que maneira isso acontece?Essas coisas não vêm do consciente, vêm do inconsciente. Vejo o arco tupi e vejo as formas de latente feminilidade das índias, das baianas ou das jangadeiras, no Palácio da Alvorada ou no Palácio do Planalto. Com isso, a gente entende por que, ao visitar Brasília, o escritor francês André Malraux afirmou que as colunas do Palácio do Alvorada seriam “cariatides libertárias”. Porque as colunas gregas eram colunas submetidas. Eles invadiram as ilhas de Carie, mataram os homens e deixaram as mulheres para o seu deleite e para perpetuar a raça dos helenos. As nossas colunas são libertárias. Nós somos a utopia de multiculturalismo dos norte-americanos e dos europeus.
Qual o maior desafio de Brasília para manter a sua qualidade de vida?É preciso evitar que o Plano Piloto seja Washington e as cidades-satélites virem Nova York. Quer dizer, é preciso manter a qualidade de vida do Plano Piloto nas cidades-satélites. Águas Claras é verticalizada. É importante cuidar da saúde, mas o governo do Distrito Federal precisa zelar de Brasília na condição de Patrimônio Cultural da Humanidade. Isso não é algo menor.
CLÁSSICOS: Rigoberta Menchú - prêmio nobel da Paz
Rigoberta Menchú Tum (Uspantán, El Quiché, 9 de janeiro de 1959) é uma indígena guatemalteca do grupo Quiché-Maia. Foi agraciada com o Nobel da Paz de 1992, pela sua campanha pelos direitos humanos, especialmente a favor dos povos indígenas, sendo Embaixadora da Boa-Vontade da UNESCOe vencedora do Prêmio Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional.
Biografia
Filha de Vicente Menchú Pérez e de Juana Tum Kótoja, duas personalidades bastante respeitadas em sua comunidade natal. Seu pai foi um ativista em defesa das terras e direitos indígenas e Juana, a mãe, uma parteira indígena, saber adquirido de geração em geração.
Em 12 de fevereiro de 2007 anunciou que postularia o cargo de Presidente nas Eleições gerais daquele ano. Tinha a esperança de ser a primeira mulher a ocupar o cargo máximo de seu país - e terceira indígena (depois do mexicano Benito Juárez e do boliviano Evo Morales, como o terceiro ganhador do Nobel a concorrer a uma Presidência (os dois outros foram o costa-riquenho Óscar Arias e o israelense Shimon Peres) - mas obteve apenas 2,7% dos votos.
[editar]Lutas e obra
O Nobel foi-lhe outorgado em reconhecimento aos seus trabalhos por justiça social e reconciliação étnico-cultural baseado no respeito aos direitos dos povos indígenas, coincidindo com o quinto centenário da chegada de Cristóvão Colombo à América, com a declaração de 1993 como Ano Internacional dos Povos Indígenas.
Na leitura do prêmio, reivindicou os direitos históricos negados aos povos indígenas e denunciou a perseguição sofrida desde a chegada dos europeus ao continente americano, momento em que destruiu uma civilização plenamente desenvolvida em todo os âmbitos do conhecimento; finalmente, refletiu pela necessidade de paz, desmilitarização e justiça social em seu país, assim como o respeito pela natureza e a igualdade para as mulheres.
Grande parte de sua popularidade adveio do livro auto-biográfico de 1982-83 "Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia (em inglês I, Rigoberta Menchú - numa versão literal: Me chamo Rigoberta Menchú e assim me nasceu a consciência). O livro foi, em verdade, escrito por Elisabeth Burgos, a partir de entrevistas com Rigoberta.
Neste livro, Rigoberta explica como iniciou a vida como trabalhadora numa plantação de café aos cinco anos de idade, em condições tão péssimas que foram a causa da morte de seus irmãos e amigos. Recebeu certa educação católica, o que a vincularia, mais tarde, a trabalhos junto à Igreja.
Já adulta, participou em manifestações de protesto contra o regime militar por seus abusos contra os direitos humanos. A Guerra Civil da Guatemala teve lugar entre 1962 e 1996, embora a violência tenha se iniciado antes daquela data. As ameaças forçaram-na ao exílio no México, em 1981. Neste mesmo ano seu pai foi assassinado na embaixada espanhola na cidade da Guatemala. Em 1991 participou da elaboração da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas pela ONU.
Quando findou a guerra civil, intentou levar aos tribunais espanhóis políticos e militares que haviam assassinado cidadãos espanhóis, e por genocídio contra o povo Maia da Guatemala. As acusações incluíam o ditador ex-militar e candidato à Presidência Efraín Ríos Montt.
Em 1998 foi galardoada com o Prêmio Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional, junto a Fatiha Boudiaf, Fatana Ishaq Gailani, Somaly Mam, Emma Bonino, Graça Machel e Olayinka Koso-Thomas "por su trabajo, por separado, en defensa y dignificación de la mujer".
Em 2006 participou, como Embaixadora da Boa-Vontade da UNESCO no governo de Óscar Berger.
Rigoberta Menchú escreveu o livro O Pote de Mel, sobre fábulas Maia, dirigido ao público infantil. É um livro que está no Plano Nacional de Leitura e é recomendado no programa de português do 6º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade II. Em O Pote de Mel, Rigoberta Menchú Tum traz as histórias que sua Avó lhe contava, as histórias que seu Avô contava. "Conto-vo-las tal como me foram contadas. São histórias antigas, antigas como o mundo, para ouvir de noite, à volta da lareira, um momento antes de fechar os olhos e começar a sonhar."
![[O+pote+de+mel+de+Rigoberta+Menchú.jpg]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXA5LQs9enmU0PpI9kv1lZ_-7kB4VMvpKrXMaDvoYt7lpiDfRXbjPp7vQkbw7Su2qAlg75Le3EjFSC0EXodDnriiRzOWPwcIzhLCX0YnqHjY3j4QbKu-nQZlQud-CNDSLjfTV9gKBKz_H_/s1600/O+pote+de+mel+de+Rigoberta+Mench%C3%BA.jpg)
[editar]Aspirações políticas
Rigoberta Menchú foi candidata à Presidência da Guatemala no partido político Encuentro por Guatemala (EG), de ideologia esquerdista, nas eleições gerais de 9 de setembro de 2007[1].
Para este projeto fez-se necessário o pacto entre o partido indígena criado por ela (WINAQ) e o EG, dirigido pela deputada e ativista humanitária Nineth Montenegro.
A III Cúpula Indígena Mundial, realizada no mês de março de 2007, decidiu não apoiar as aspirações políticas de Rigoberta, já que os indígenas não se sentiam representados por suas propostas [2].
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