Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

62 obras sobre os principais pensadores da educação para dowload

62 obras sobre os principais pensadores da educação para download 

    
O Mi­nis­té­rio da Edu­ca­ção, em par­ce­ria com a Unes­co e a Fun­da­ção Jo­a­quim Na­bu­co, dis­po­ni­bi­li­za pa­ra downlo­ad a Co­le­ção Edu­ca­do­res, uma sé­rie com 62 li­vros so­bre per­so­na­li­da­des da edu­ca­ção. A co­le­ção traz en­sai­os bi­o­grá­fi­cos so­bre 30 pen­sa­do­res bra­si­lei­ros, 30 es­tran­gei­ros, e dois ma­ni­fes­tos: “Pi­o­nei­ros da Edu­ca­ção No­va”, de 1932, e “Edu­ca­do­res”, de 1959. A es­co­lha dos no­mes pa­ra com­por a co­le­ção foi fei­ta por re­pre­sen­tan­tes de ins­ti­tu­i­ções edu­ca­cio­nais, uni­ver­si­da­des e Unes­co.
O cri­té­rio pa­ra a es­co­lha foi re­co­nhe­ci­men­to his­tó­ri­co e o al­can­ce de su­as re­fle­xões e con­tri­bui­ções pa­ra o avan­ço da edu­ca­ção no mun­do. No Bra­sil, o tra­ba­lho de pes­qui­sa foi fei­to por pro­fis­si­o­nais do Ins­ti­tu­to Pau­lo Frei­re. No pla­no in­ter­na­ci­o­nal, foi tra­du­zi­da a co­le­ção Pen­seurs de l’édu­ca­ti­on, or­ga­ni­za­da pe­lo In­ter­na­ti­o­nal Bu­re­au of Edu­ca­ti­on (IBE) da Unes­co, em Ge­ne­bra, que reú­ne al­guns dos mai­o­res pen­sa­do­res da edu­ca­ção de to­dos os tem­pos e cul­tu­ras.
 
In­te­gram a co­le­ção os se­guin­tes edu­ca­do­res/pen­sa­do­res: Al­ceu Amo­ro­so Li­ma, Al­fred Bi­net, Al­mei­da Jú­ni­or, An­drés Bel­lo, An­ton Maka­renko, An­to­nio Gram­sci, Aní­sio Tei­xei­ra, Apa­re­ci­da Joly Gou­veia, Ar­man­da Ál­va­ro Al­ber­to, Aze­re­do Cou­ti­nho, Ber­tha Lutz, Bog­dan Su­cho­dolski, Carl Ro­gers, Ce­cí­lia Mei­re­les, Cel­so Su­cow da Fon­se­ca, Cé­les­tin Frei­net, Darcy Ri­bei­ro, Do­min­go Sar­mi­en­to, Dur­me­val Tri­guei­ro, Ed­gard Ro­quet­te-Pin­to, Fer­nan­do de Aze­ve­do, Flo­res­tan Fer­nan­des, Fre­de­ric Skin­ner, Fri­e­drich Frö­bel, Fri­e­drich He­gel, Fro­ta Pes­soa, Ge­org Kers­chen­stei­ner, Gil­ber­to Freyre, Gus­ta­vo Ca­pa­ne­ma, Hei­tor Vil­la-Lo­bos, He­le­na An­ti­poff, Hen­ri Wal­lon, Hum­ber­to Mau­ro, Ivan Il­lich, Jan Amos Co­mê­nio, Je­an Pi­a­get, Je­an-Jac­ques Rous­se­au, Je­an-Ovi­de De­croly, Jo­hann Her­bart, Jo­hann Pes­ta­loz­zi, John Dewey, Jo­sé Mar­tí, Jo­sé Má­rio Pi­res Aza­nha, Jo­sé Pe­dro Va­re­la, Jú­lio de Mes­qui­ta Fi­lho, Liev Se­mio­no­vich Vygotsky, Lou­ren­ço Fi­lho, Ma­no­el Bom­fim, Ma­nu­el da Nó­bre­ga, Ma­ria Mon­tes­so­ri, Ní­sia Flo­res­ta, Or­te­ga y Gas­set, Pas­cho­al Lem­me, Pau­lo Frei­re, Ro­ger Cou­si­net, Rui Bar­bo­sa, Sam­paio Dó­ria, Sig­mund Freud,Val­nir Cha­gas, Édou­ard Cla­pa­rè­de e Émi­le Durkheim.
 
Clique no link pa­ra aces­sar: 62 obras sobre os principais pensadores da educação para download

fonte:
http://www.revistabula.com/831-62-obras-sobre-os-principais-pensadores-da-educacao-para-download/?fb_action_ids=287912851362411&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B143431115865990%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

domingo, 9 de fevereiro de 2014

"Apostila do Educador Agroflorestal": disponível para download gratuito!!!





http://biowit.files.wordpress.com/2010/10/apostila-do-educador-agroflorestal.pdf


fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=362318223908300&set=a.325968664209923.1073741828.325400724266717&type=1&theater

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

Por Antonio Candido*, no blog da Boitempo 

Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.



Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.

Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução:História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.

Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.

Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler tambémFormação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.

Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) eO movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).

Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império(1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República(1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.

A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras.

Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.

Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) éCoronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).

O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes,A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.

Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.

No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.

* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000

Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta.

fonte:
http://revistaforuantonio-candido-indica-10-livros-para-conhecer-o-brasilm.com.br/blog/2013/05//

Saber Cultural etc e tal - Sustentabilidade




Álbum de partilha colaborativa de materiais que sirvam para estudos e pesquisas em Sustentabilidade nas áreas de Arte e Cultura.

Aqui todos podem PARTICIPAR com dicas e materiais como livros, artigos (disponíveis para download), entrevistas e o que mais existir de interessante, para que produtores, pesquisadores, artistas, estudantes e afins tenham mais acesso a conteúdos gratuitos e informativos.

Se você tem alguma dica, passa pra cá que repasso pra todos. Envie por mensagem e coloque junto o link com a fonte da informação.

Lembrando que sustentabilidade não é apenas ambiental, o que existir que possa contribuir para esse esclarecimento é bem vindo!

Tem ainda mais 3 álbuns sobre Produção, Gestão e Empreendedorismo, Diversidades e Economia Criativa.

Vamos lá! Bom proveito, ótimas pesquisas e realizações!
:)
 
 
 

Los beneficios de leer en voz alta a los niños

padreniña

Leamos en voz alta a los niños

La lectura en voz alta conlleva grandes beneficios tanto para quien lee como para quien escucha. Sintetizamos algunos de estos beneficios:
1.   Contar cuentos a los niños hace que los niños se vuelvan más reflexivos en relación con lo que sus padres u otros adultos  les están explicando a cerca de cualquier situación o  comportamiento.
2.  Los cuentos ayudarán  a los niños a vencer sus propios temores.
 3.  Facilita que los niños ejerciten su memoria  desde edad temprana.
4.  Les transmite tranquilidad. De hecho, es muy habitual contar cuentos en voz alta para  que los nños puedan conciliar el sueño, puedan dormir de forma tranquila y durante toda la noche.
5.  Los cuentos son una de las bases para el desarrollo intelectual del niño, ya que si se le lee estas historias cuando todavía no han aprendido a leer, con el paso del tiempo van a entender  diferentes temas con rapidez.
6.  El hecho de compartir los momentos de lectura con sus mayores, hace que los niños se sientan más queridos, porque alguien les está dedicando su tiempo.
7. Despierta en los nños la imaginación, la curiosidad y hace que se desarrolle su capacidad crítica ante lo que escuchan, y después leen.
8. Cuando los niños aprenden a escuchar, mejoran su capacidad de expresión. Además adquieren mayor vocabulario que les va a permitir expresar mejor sus ideas y sus sentimientos. Estas habilidades van a ser fundamentales para su desarrollo a lo largo de la vida.
9. Leer a los niños les va a animar a leer por sí mismos.
leer en famlia

Site "Um Brasil de Viola" de Cacai Nunes

O Projeto UM BRASIL DE VIOLA – Tradições e Modernidades da Viola Caipira tem como missão retratar o Brasil que toca Viola Caipira. O sertão e a cidade. O Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e o Sul. A equipe do Projeto irá registrar e disponibilizar em fotografias, áudio e vídeo, depoimentos, toques tradicionais, músicas, entrevistas com mestres, professores, músicos, alunos que fazem do instrumento a sua maior forma de expressão e informações sobre antigas tradições do instrumento, a magia que o envolve, sua ligação com o homem e a natureza, as formas rústicas e artesanais de construção, seus mestres, a tradição oral no sertão brasileiro. Tudo isto correlacionando com um novo jeito de tocar viola, com instrumentistas que se destacam por composições contemporâneas, professores que ensinam em Escolas de Música e modernas formas de lutheria.

O objetivo principal do projeto é oportunizar o acesso a um elaborado conteúdo de pesquisa voltado à viola caipira, seus saberes e fazeres. O projeto pretende abarcar diversas regiões do Brasil, registrando em fotografias, áudio e vídeo os encontros com mestres que vivem no sertão, estudantes em centros urbanos, professores em diversas Escolas que criaram os próprios métodos de ensino. As informações que alimentam o site advém de pesquisas sobre os diversos tipos de viola existentes em regiões distintas do Brasil, como a Viola de Cocho, presente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, A Viola Machete, no Recôncavo Baiano, A Viola Nordestina que faz parte do contexto do poeta cantador de repente do Nordeste, A Viola de Fandango, do Litoral Paranaense e a viola caipira do interior de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso.

Nos nossos registros, são abordados temas como:

1)                     As diversas formas de aprendizado e a perpetuação do instrumento
2)                    A relação do violeiro com sua viola e a natureza: criação de toques com nomes de bichos.
3)                    A devoção: Religiosidade e música de viola.
4)                    Novas Linguagens Musicais na Viola.   
5)             Construção artesanal, novos Luthiers e a construção em série (Fábricas).
6)                   Mestres e aprendizes
7)                    Mitos, Pactos e Simpatias

É preciso considerar que a Internet introduz inovações nas formas de ensinar, aprender e nos modos de transmissão de conhecimentos; ela é, também, uma matriz de agregação de pessoas e de fortalecimento comunitário. A viola caipira é um caso de atividade cultural cuja prática não está restrita a apenas uma comunidade local; ao longo de sua história, ela se espalhou pelo território nacional, diversificando modos de ser tocada. Ainda assim, os violeiros de todo o Brasil guardam entre si a identidade de tocarem esse instrumento, ainda que cada um a seu modo. Sem dúvida, uns têm a aprender e a ensinar aos outros. A Internet se torna, então, um veículo prático e eficaz de criação efetiva de uma comunidade virtual que consiga agregar violeiros de todo o Brasil, contribuindo para a manutenção e renovação da tradição do instrumento.

Acreditamos que com este tipo de pesquisa se revelam grandes músicos, mestres, que se perpetuam os saberes e fazeres desta arte que é tocar viola.

A todos, desejamos um bom proveito !
 

Programa Ensaio, para quem gosta de música da melhor qualidade

 
 
Programa Ensaio da TV Cultura é maravilhoso para quem gosta de música da melhor qualidade. Músicos de verdade de todos os cantos do Brasil, mostrando o que há de melhor na música popular brasileira!
 
No vídeo acima, Patricia Bastos, cantora do Amapá, mostrando todo seu talento, acompanhada de músicos reconhecidos do Pará(Trio Manari) e de SP(família Ozetti).
 
Outros maravilhosos programas disponíveis em:
 

Luiz Antonio Simas: O gurufim do Blecaute

Luiz Antonio Simas: O gurufim do Blecaute

'O enterro foi no São João Batista e um fã mais afoito encheu a cara, errou de cemitério e parou no Caju'

O Dia

O cantor Blecaute, um dos maiores intérpretes de marchinhas e sambas de Carnaval de todos os tempos, morreu no dia 9 de fevereiro de 1983 (há exatos 31 anos). O velório foi uma fuzarca das boas. Em certo momento um corneteiro solou, em andamento lento e tom fúnebre, o samba ‘General da Banda’, maior sucesso do falecido, com a solenidade exigida pela ocasião. Logo depois o da corneta se animou, atacou de ‘Maria Candelária’, a alta funcionária que saltou de paraquedas e caiu na letra ó, emendou com ‘Maria Escandalosa’, outro sucesso do cantor, e transformou o cemitério em um salão dos mais animados. À exceção do próprio Blecaute, todos os presentes, numa reação em cadeia, levantaram os dedinhos e caíram no sassarico.
Blecaute marcou seu nome na história da MPB
Foto:  Arte: O DIA
O lance mais inusitado da morte do Blecaute, entretanto, não foi o fabuloso baile no cemitério. Sei do acontecido porque um amigo do meu avô testemunhou o que passo a relatar. Acontece que o enterro foi no São João Batista e um fã mais afoito, disposto a se despedir do ídolo, encheu a cara, errou de cemitério e parou no Caju, ao lado de dois companheiros de copo. Os três, pra lá de Bagdá, chegaram ao concorrido velório de um capitão do Exército e, apostando que aquele mar de gente só podia estar ali para se despedir do Blecaute, invadiram a capela mandando no gogó: “Chegou General da Banda, ê ê / Chegou General da Banda, ê a...”

Para horror da família do capitão, com direito a siricoticos da esposa e crise nervosa de uma amante até então discretíssima, alguns dos presentes, mesmo não entendendo bulhufas do que ocorria, acharam que era melhor cantar também. Na hora em que os bebuns, no embalo do ‘General da Banda’, puxaram ‘Pedreiro Waldemar’, que faz tanta casa e não tem casa pra morar, um familiar do morto deu o basta, foi tirar satisfações com os cachaças e o pau comeu.

Em meio a cenas de pugilato, a amante do defunto incorporou uma cigana e passou a dar consultas no cemitério, ao lado do túmulo do Barão do Rio Branco. A esposa deu uma de viúva das histórias do Nelson Rodrigues e desmaiou nos braços do coveiro. Os pinguços, quando perceberam a dimensão da encrenca, saíram em busca de alguma birosca.

A turma cantando para o defunto errado foi, no fundo, uma tremenda homenagem ao grande Blecaute. Não imagino prova de popularidade mais contundente. A família do milico, cá entre nós, não deveria ter se ofendido com o gurufim. O homem subiu de patente: viveu como capitão do Exército e virou, depois de morto, o General da Banda.
 
fonte:

Baixe grátis o livro de Tião Rocha "Volta ao mundo em 13 escolas"

 
Como disse o Tião Rocha, fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, de MG, rua é bom demais! E a gente concorda muito com isso

Esse é um trecho do incrível livro Volta ao mundo em 13 escolas do Coletivo Educ-ação e que pode ser baixado gratuitamente no site: http://educ-acao.com/

[esta arte foi adaptada da capa do livro, criada originalmente por Alice Vasconcellos e Manuela Novais (projeto gráfico), Andreia Marques (ilustração)]

fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=398248306977347&set=a.172785546190292.41537.169462313189282&type=1&theater

 

"Índio falou, tá falado" por José Bessa

A prova está no dicionário: dos 228 mil verbetes que o Houaiss apresenta em uma de suas edições, cerca de 45 mil são palavras emprestadas de línguas indígenas. Alguma dúvida de que o conhecimento dessa herança linguística é necessário para entender o português que falamos, e até mesmo para consolidar a nossa identidade?
“Há várias línguas faladas em português”, afirma José Saramago no documentário Língua: vidas em português. Basta olhar as variedades regionais para dar razão ao escritor. Como explicar tal diversidade? Parte dela reside no fato de que os índios que aqui moravam falavam centenas de línguas autóctones diferentes e quando começaram a usar um idioma que veio de fora – o português – nele deixaram impressas suas marcas, fruto de uma relação que a sociolinguística denomina de “línguas em contato”. Como as línguas indígenas eram diferentes em cada região, as marcas que deixaram não foram as mesmas.

No início do século XVI, o poeta Sá de Miranda lançou aos mares do futuro a nau da língua portuguesa, vinculando seu destino à expansão do comércio marítimo. Durante um par de séculos, o português passou a ser falado na Índia, na Malásia, na Pérsia, na Turquia, na África, no Japão e até na China e na Cochinchina. Tornou-se “língua franca”, isto é, um idioma usado para comunicação entre pessoas cujas línguas maternas são diferentes – como ocorre hoje com o inglês.

A língua portuguesa já veio para cá marcada por outras línguas com as quais havia convivido. Aqui, no território que é hoje o Brasil, encontrou mais de 1.300 línguas, faladas por cerca de 10 milhões de habitantes, segundo estimativas de pesquisadores da Escola de Berkeley que estudaram demografia histórica e consideram que ocorreu  no continente americano "a maior catástrofe demográfica da história da humanidade". Índios foram assassinados porque o colonizador queria ocupar suas terras e explorar sua força de trabalho.

As duas línguas gerais indígenas faladas no Grão-Pará e no Brasil – a Língua Geral Amazônica (LGA) e a Língua Geral Paulista (LGP) – nomearam conceitos, funções e utensílios novos trazidos pelos europeus com adaptações fonéticas e fonológicas: cavalo (cauarú), cruz (curusá), soldado (surára), calça ou ceroula (cerura), livro (libru ou ribru), papel (papéra), amigo ou camarada (camarára).

Os portugueses começaram a falar essas duas línguas e também tomaram delas muitos empréstimos, hoje usados pelos brasileiros, que nem desconfiam de sua origem. Desde o século XVI, os portugueses, que tinham interesse econômico em comunicar-se com os índios, começaram a usar uma língua de base tupi que se tornou a Língua Geral. Os missionários fizeram então uma gramática, explicando como funcionava essa língua e passaram a usá-la na catequese. Traduziram para ela orações, hinos e até peças de teatro. Essa e outras línguas legaram uma herança ao português.

De origem tupi é a palavra carioca, nome de um rio que, segundo alguns especialistas, significa “morada(oca)do acari”, um peixe que cava buracos na lama e ali mora como se fosse um anfíbio. Para outros, é o nome de uma aldeia, a "morada dos índios carijó". Da mesma origem são os nomes de muitos lugares, como locais atuais do Rio de Janeiro que conservaram as denominações de antigas aldeias: Guanabara (baía semelhante a um rio), Niterói (baía sinuosa), Iguaçu (rio grande), Pavuna (lugar atoladiço),Irajá (cuia de mel), Icaraí(água clara) e tantos outros, como Ipanema, Sepetiba, Mangaratiba, Acari, Itaguaí.

Mas muitos topônimos indígenas adquiriram novos sentidos ou perderam seu sentido original. Os tupinambás denominaram de Itaorna uma área em Angra dos Reis, onde na década de 1970 foi construída a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, cujo  solo minado por águas pluviais provocou deslizamentos de terra das encostas da Serra do Mar. Somente em fevereiro de 1985, quando fortes chuvas destruíram o Laboratório de Radioecologia que mede a contaminação do ar na região, descobriram o que significa itaorna: “pedra podre”.

A influência das línguas indígenas nas variedades usadas no Brasil não se resume a uma listagem de palavras exóticas ou "folclóricas". Além do léxico, existem outras influências entranhadas nas camadas profundas da língua, que penetraram em seus alicerces, mexendo com seu sistema sintático, fonológico e morfológico. É o que os linguistas chamam de "substrato".

No caso da fala individual, o substrato é o conjunto de transferências adquiridas pela primeira língua, ou língua materna, depois do contato com uma segunda língua. Do ponto de vista coletivo, o substrato é o conjunto de vestígios que uma língua, quase sempre extinta, deixa sobre outra língua, em geral a de um povo invasor. É a influência da língua perdida sobre a língua imposta, que só se estabiliza após diversas gerações. Exemplos disto são alguns processos de modalização do nome, característicos do tupi, que deixaram suas marcas no português não pela via do empréstimo cristalizado, mas pelo próprio mecanismo. Tanto na palavra netarana, usada no Pará, quanto em outras do português regional, como sagarana, canarana, cajarana, tatarana, há o uso do sufixo tupi rana (“como se fosse”).

Essas influências ainda não foram completamente inventariadas, embora algumas tenham sido identificadas. O indigenista Telêmaco Borba recolheu, em 1878, dados sobre a língua oti, que era então falada no sertão de Botucatu (SP). Descobriu que aquela língua, do tronco Jê, possui sons que os grupos de língua tupi não tem, como o r retroflexo. E seus falantes levaram esse traço para o português quando adquiriram a nova língua. Ele ali permanece até hoje no r paulista, conhecido como r caipira. A atriz Vera Holtz sabe disso.

No interior do Amazonas, no rio Madeira, há o processo de “alçamento” e "abaixamento" de vogais, "Alçamento" é o fechamento vocálico, visível em casos como “popa da canoa”, que se pronuncia pupa da canua, o que também é atribuído ao substrato de língua indígena.

Nem sempre tais mudanças, consagradas pelo uso, foram aceitas pelos puristas da língua. Da mesma forma que o Império Romano considerou como “línguas estropiadas” as variedades do latim faladas na Península Ibérica (que deram origem ao português, ao espanhol, ao catalão, ao galego, ao mirandês), assim também os portugueses consideraram a variedade aqui falada como “língua mutilada”.

No Sermão do Ano Bom, em 1642, o jesuíta Antonio Vieira, que viveu no Grão Pará, afirmou que “A língua portuguesa (…) tem avesso e direito; o direito é como nós a falamos, e o avesso como a falam os naturais”. Classificou as variedades locais do português de "meias línguas, porque eram meio políticas [civilizadas] e meio bárbaras: meias línguas, porque eram meio portuguesas e meio de todas as outras nações que as pronunciavam, ou mastigavam a seu modo”.

Uma resposta a Vieira está na letra da canção “Língua”, de Caetano Veloso: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões / (…) E deixe os Portugais morrerem à míngua / 'Minha pátria é minha língua'/ Fala Mangueira! Fala! / Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó/
O que quer / O que pode esta língua?/ (…) Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas”.

As línguas indígenas permanecem no substrato do português e guardam informações e saberes, funcionando como uma espécie de arquivo. Conhecer a contribuição efetiva que legaram à língua portuguesa é entender como viviam os povos que as falavam e se apropriar dessa experiência milenar.

P.S. – Solidariedade irrestrita aos familiares e amigos das três pessoas assassinadas em dezembro de 2013, cujos corpos foram encontrados na área indígena Tenharim no sul do Amazonas. No entanto, não podemos permitir que sentimentos tão profundos como a dor, o luto e a tristeza pela perda de entes queridos sejam manipulados para destilar ódio, preconceito racial e violência boçal contra os índios, como pretendem alguns discursos que circulam nas redes sociais.

Esse tipo de discurso tem alimentado o genocídio que em cinco séculos trucidou centenas de milhares de índios. Nossa solidariedade às três pessoas assassinadas só adquire legitimidade se ela se estende à tragédia vivida pelos povos indígenas da Amazônia. Entendendo que uma forma de combater o preconceito é conhecer o outro, apresentamos aqui versão do artigo que publicamos na Revista de História da Biblioteca Nacional (n° 100, jan. 2014).
 
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Acadêmicos amestrados por Idelber Avelar

Acadêmicos amestrados
Idelber Avelar

Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli. Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre, armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o seu histórico na disciplina seja bastante modesto.
Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz, uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman, economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma fórmula neoliberal e pontificavam sobre a “morte de Marx”. Foi ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo, Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a  desqualificação que eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são, nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar – cada vez menor, diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não é um deles. Visite,  em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa, pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de “vagabunda” pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como “o filósofo” pelo jornal O Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de “terrorismo de Estado”. Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10 de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma vítima de terrorismo de Estado real – por exemplo, uma família palestina expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses – se lhe disséssemos que um filósofo qualifica como “terrorismo de Estado” a inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de “trapalhadas” e chamava Celso Amorim de “líder estudantil” e “cavalo de troia de bufões latino-americanos”. Poucos dias depois, a respeitadíssima revista Foreign Policy – que não tem nada de esquerdista – apresentava o que era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula: Celso Amorim, o “melhor chanceler do mundo”, nas palavras da própria revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações raciais como o Brasil. Na mídia, os “especialistas” sobre isso – agora sim, com aspas – são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele? Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira, as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.

Este artigo é parte integrante da Edição 80 da Revista Fórum


http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2010/09/30/academicos-amestrados/

O cineasta Eduardo Coutinho por Alan Pauls: CÓMO ESTAR JUNTOS

CÓMO ESTAR JUNTOS

DESPEDIDAS Hace una semana murió el documentalista brasileño Eduardo Coutinho, en un final trágico, asesinado a los 81 años por su propio hijo esquizofrénico. Durante sus cuarenta años de carrera y con películas como Edificio Master, Boca de Lixo, Santo Forte o el clásico Cabra Marcado Para Morrer, construyó una obra lejana del paternalismo y basada en una creencia denodada en el valor de la palabra del otro.
   
 Por Alan Pauls
“Yo hago películas sobre mujeres porque no soy mujer, sobre negros porque no soy negro. Hago películas sobre los que no son como yo, ni social ni culturalmente.” Así, haciéndola propia, encarnándola, refrescaba el paulista Eduardo Coutinho la gran tradición de curiosidad social del cine documental en el siglo XX. “Desde Grierson, hace 80 años, desde Nanouk, el otro –el que no es el cineasta– es el pobre. Siempre son víctimas.” La lista de otros a los que Coutinho dedicó su obra es larga y variada y debería incluir también a obreros metalúrgicos (Peones), pescadores (Boca de lixo), etc. La semana pasada, cuando se enteró de su muerte, alguien se preguntó si habría filmado alguna vez algo sobre psicóticos, esos otros de la razón. Coutinho murió en su casa, a los 81 años, apuñalado junto a su esposa por su propio hijo, que era esquizofrénico y vivía con ellos.
Es un final desgraciado y macabro, pero parece extraña, macabramente entrelazado con una ética personal y artística de una notable radicalidad. A lo largo de unos cuarenta años, Coutinho se acostumbró a vivir con otros en sus películas y, como muchos de los artistas contemporáneos más interesantes, concibió su arte –el cine documental– como un lugar común, un espacio que a su modo intentaba responder a una pregunta ciento por ciento contemporánea: cómo vivir juntos. Pero nunca condescendió a filmar un solo fotograma que ocultara o disimulara la diferencia que lo separaba (a él, el cineasta) de su otro de turno (la víctima). Coutinho no filmaba para achicar esa distancia; filmaba para encontrar, y poner en escena, todas las posibilidades que nacen de esa distancia.
No hay voz popular, no hay acento de clase ni habitus callejero que no se hagan oír en las películas de Coutinho, verdaderas cámaras de resonancia donde repercuten los dichos de trabajadores, mucamas, costureras, jubilados, inválidos, amateurs, desempleados: las voces “de los que no tienen voz” (como rezaba el slogan del viejo periódico fundado por el senador Saadi), o, en palabras de Coutinho, “los que no tienen nada que perder”. Pero es difícil encontrar una obra menos sospechosa de pietismo, de sentimentalidad, de mimetismo caritativo que la suya. Coutinho busca, castea, elige y filma a esos otros cuyas historias le interesan, pero jamás quiere ser como ellos, ni siquiera como estrategia metodológica, para romper el hielo, ganárselos o arrancarles la confesión que les vedaría la distancia. Pero, a diferencia de los etnógrafos –esos profesionales de la intrusión que, para bien o para mal, modelaron la relación de los documentalistas con el mundo–, los otros tampoco le interesan como objetos de saber, materias primas de teoría o campo de corroboración de hipótesis. Así, Coutinho elude (o resuelve) varios de los peligros típicos que acechan a todo proyecto documental: el populismo y el paternalismo epistemológico.
Queda un tercero, el más complicado: el televisionismo, superación o fusión extrema, amnésica, de los dos anteriores. Sabemos hasta qué punto el “retorno de lo real” que afectó al cine y a las artes a partir de los años ’90 trenzó, en un parentesco siempre equívoco pero siempre productivo, las innovaciones más audaces del arte con los experimentos más demenciales de la biomediática: documentales y reality shows, bioinstalaciones y American Idols, etc. Hay mucho en el cine de Coutinho que tiende a la televisión-realidad: el dispositivo talking heads (todos los films de Coutinho están hechos de gente que habla), la hegemonía formal del plano medio, la sensibilidad por las menudencias de la actualidad social, la creencia denodada, casi ciega, en el valor de la palabra del otro. Sólo que cuando la televisión sale a la calle y entrevista a un portero, una maestra, un travesti o un obrero sin trabajo, no hace otra cosa que producir gente. (Gente –del Doña Rosa de Neustadt al “La Gente” de Lanata– es el nombre de esa bruma vaga, informe, en la que la tele evapora a sus entrevistados mientras los entrevista, y también, por supuesto, esa instancia de soberanía quejosa e irreflexiva en nombre de la cual se jacta de hablar, mostrar, informar, denunciar, inventar el mundo, etc.)
Cuando Coutinho va en busca de los militantes obreros que acompañaron a Lula en la construcción del PT (Peones), o se mete en un colmenar de Copacabana a interrogar a sus moradores (Edificio Master), lo que produce son singularidades. Es singular él, el cineasta, que sólo se permite entrar en cuadro para preguntar, y para preguntar siempre en su propio nombre, y son singulares las voces que registra, las caras y los cuerpos que encuadra, y sobre todo la relación entre esas voces y esos cuerpos y los lugares o historias o experiencias que atravesaron y que los marcaron.
El cine de Coutinho es invulnerable a la televisión porque, aun cuando su repertorio de otros –pobres, marginales, freaks sociales: “víctimas del sistema”– sea el mismo que puebla los decorados de talk shows y los informes de los noticieros, lo que busca de ellos, lo que les pide, lo que convoca cada vez que los convoca, no es la tipicidad, ni el “caso”, ni la anomalía como espectáculo, sino una materia para la que la televisión-realidad no tiene sensibilidad ni sensores: relatos. Si los otros en Coutinho son singulares, es básicamente porque son narradores. Cuentan cosas –una vida en tres líneas, un asalto en veinte minutos, un desengaño amoroso, un chiste, la pérdida de un hijo, una anécdota de viaje–, y es ese contar y sus protocolos peculiares –rodeos, repetición, atajos, arrepentimientos, postergaciones, suspensos, golpes bajos– lo que las películas de Coutinho describen con paciencia, con tiempo, con detalle. En ese sentido, una vez más, Coutinho es profundamente antipopulista: cree mucho menos en la voz (signo “natural”, inmediato, transmisor y garante de “verdad”) que en la narración (que, por espontánea que sea, siempre es fabricada, artificiosa, estratégica). Aquí el punctum de la singularidad no es el grano de la voz; es el grano del relato.
Narrar en Coutinho es una operación que singulariza, pero no porque conduzca necesariamente a la verdad sino porque el que narra, al narrar, se pone en escena, se estiliza, se estetiza, y en ese trabajo de autoproducción refunda una subjetividad y, con ella, su derecho a la palabra. Es la lección magistral de un film como Jogo da cena, donde Coutinho filma a una serie de mujeres comunes, reclutadas a través de un casting, que cuentan episodios más o menos traumáticos de sus vidas familiares, y sin aviso, como quien desliza en el mazo un par de naipes marcados, intercala a un puñado de actrices brasileñas, algunas célebres, que retoman y reinterpretan algunos de esos testimonios con todo el arsenal expresivo de su profesión. Lo que está en juego, por supuesto, no es el límite entre mentira y verdad, o entre ficción y testimonio. El documental filma “lo que ocurre”, y todo lo que ocurre “frente a la cámara” es verdad, no importa que sea actuado o sincero, urdido o espontáneo. Lo que está en juego es la posibilidad de una comunidad de relatos: un cierto comunismo narrativo en el que documento y ficción sólo sean coeficientes aleatorios de singularidad.
De ahí que las “víctimas” que Coutinho filma nunca sean víctimas, no inspiren misericordia, no nos vuelvan más cristianos. De ahí la extraña alegría que despiertan estas películas sobrias, a la vez salvajes (Coutinho artista del jump-cut) y rigurosas, de una inteligencia tan vital como subrepticia: una alegría experimentada, alerta, que recuerda siempre, que no niega nada. Alegría crítica. Los “informantes” de Coutinho pueden sufrir, pueden haber sido dejados de lado, maltratados, traicionados. Pero pueden narrar, y esa potencia es la que los rescata definitivamente de esa segunda miseria a la que suele condenarlos la televisión. Pueden narrar, y esa potencia es también el capital que les permite participar de la situación entrevista (y no sufrirla), hacer frente al otro (el cineasta), medirse y encontrarse con él en un terreno nuevo, inventado por la película, que no es ni el del deseo del cineasta ni el de la debilidad de la víctima y donde parece asomar algo parecido a una negociación feliz.
Hoy nadie le pregunta nada a nadie sin culpa. Ultraimpugnada por etnógrafos y sociólogos (los primeros que la usaron como una “herramienta de conocimiento” neutral, eufemismo que disfrazaba la relación de fuerzas instituida entre el que pregunta y el que contesta), hoy no hay alma progre que encare una entrevista sin tomar la precaución de entrecomillarla y entrecomillarse. Coutinho no. Coutinho muere por entrevistar, y el énfasis militante con que asume el papel del que pregunta (un papel en el que sólo puede comparársele Erroll Morris, otro pesado genial) es el mismo con el que desafiaba a sus entrevistadores cuando decía que no, que él no estaba “del lado de” las mujeres y los negros, que hacía películas sobre mujeres y negros porque él no era mujer ni negro. Ese es el secreto, en realidad. Porque no es mujer ni negro (ni quiere serlo), no tiene miedo de entrevistarlos. Por eso, y también porque la entrevista –situación, procedimiento, juego de lenguaje, técnica de manipulación– es en su cine el teatro de una suerte de economía primitiva utópica, fundada, quizás, en el más antiguo de los intercambios: una pregunta por una narración.

fonte:
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/radar/9-9486-2014-02-09.html

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Como tratar gastrite, segundo a Mestra raizeira, benzedeira e puxadeira, a Dona Castorina(Macapá/Amapá/Amazônia)

foto:  Jonas Banhos

Dona Castorina é uma mestra raizeira, benzedeira e puxadeira que vive em Macapá, no Estado do Amapá. Atende com muito carinho as pessoas que a procuram em sua humilde e abençoada casa para colocar em prática seus saberes medicinais populares, baseados na mãe natureza Amazônia!

Neste vídeo, Joca Monteiro, que já foi atendido por Dona Castorina, resolve compartilhar os ensinamentos apreendidos com a mestra para tratar uma gastrite.


Tome nota dos ingredientes e veja como fazer no vídeo:

-  1 maço de mastruz
-  1 maço de hortelãzinho
-  3 folhas de babosa...