Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Significado Social da Leitura

por Salomão Larêdo

Através da leitura temos a chance de alargar nossos horizontes profissionais, culturais e pessoais, pois a leitura deve desempenhar múltiplas funções sociais.
Podemos dar como exemplo dessas múltiplas funções sociais, a leitura para a fruição, prazer ou deleite, aquisição de conhecimento e informação; leitura para pesquisa/trabalho; leitura para fins religiosos, auto-ajuda e o que acho hoje mais importante é que a leitura é  uma condição básica para  formar sujeitos capacitados de se inserir na sociedade e exercitar sua cidadania, participando crítica e ativamente da construção da história de seu povo, formulando seus próprios critérios para se questionar como sujeito no seu ato de pensar, sentir e atuar, ultrapassando a fronteira da cultura local a partir da abertura a outras proporções culturais.

Pois, o sujeito que lê, sabe, planeja, direciona e faz a sua evolução/revolução, sua ação, sua construção, sua história de homem livre ( ah, a liberdade, bem maior do ser humano) , emancipado, independente de explorações e opressões.
Quem lê sabe que uma biblioteca pública desempenha papel fundamental no acesso ao livro e na disseminação da leitura nas classes menos favorecidas e por isso vai reivindicar mais bibliotecas públicas nos bairros,clubes, embarcações,  nos ônibus e outros locais.

Quem lê  não acredita que o brasileiro não é leitor – o leitor existe  antes mesmo de sua entrada na escola porque sempre esteve exposto à literatura oral - , que somos um povo analfabeto, que não temos bibliotecas ( isso é verdade, porém, devemos explicar porque não as temos na quantidade necessária, etc.) e outros espaços para o livro e para a leitura ; quem lê sabe, que, quando se  fala em crise  da leitura, não se trata de  um problema com a leitura, mas, sobretudo, de um problema econômico da leitura ( é papel dos governos, ampliar o número de bibliotecas públicas, cuidar de seus acervos, aumentando, etc.).
Quem lê, incomoda. E como diz Roger Chartier ( in  a ordem dos livros) ,”... a leitura é, por definição, rebelde e vadia...”

Na condição de leitor, nessa significação social da leitura, passo a ter subsídios para pensar e analisar quem devo eleger para os cargos de governo e representação popular, fiscalizar as ações dos governos, a atuação dos parlamentares, cobrando eficiência no serviço público, exigindo, manifestando, denunciando, reivindicando, indicando caminhos, alternativas, enfim, participando, porque a leitura me deu consciência social, política
Ler requer certa determinação, vontade, tirar tempo e claro, dá trabalho.

Mas, dá imenso e enorme prazer e aqui, já encerrando, quero inserir a expressão de Clarice Lispector utilizada por Maria Clara Machado em seu  livro “Ilhas no tempo”, de “... uma construção cultural deliciosa, uma aprendizagem do prazer...”
E como  na  vida social, também as  coisas se desenvolvem pelo exemplo e curiosidade, penso que podemos encaminhar a leitura por aí, pois entendo que é preferível associar leitura com prazer do que  permanecer na área da dominação e do poder, embora  a leitura  dê  poder, quem lê se torna poderoso pelo conhecimento que adquire.

Volto a repetir,  quem lê, incomoda.
Continuemos, então,   na construção deliciosa que é o aprendizado do prazer ( o texto pode dar prazer, entende Umberto Eco in lector in fabula) , o prazer de ler. Certamente que todos lemos, também, por necessidade e outros motivos.
Tomara que o livro se torne objeto do desejo – a leitura é um gesto afetivo e aciona nossos desejos  -.E o que está faltando para que  se efetive  a sedução do livro para  sempre entre nós ?
Salomão Larêdo é escritor e jornalista                                                                          Artigo publicado no jornal O Liberal / PA

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