Domingo de Circo
Toda tua chegada nessa radiosa manhã de domingo embandeirada de infância. Solene e festivo circo armado no terreno baldio do meu coração.
As piruetas do palhaço são malabaristas alegrias na vertigem de não saber o que faço.
Rugem feras em meu sangue; cortam-me espadas de fogo.
Motos loucas de globo da morte, rufar de tambores nas entranhas, anúncio espanholado de espetáculo, fazem de tua chegada minha sorte.
Domingo redondo aberto picadeiro, ensolarado por tão forte ardor, me refunde queima alucina:
olhos vendados,
sem rede sobre o chão,
atiro-me do trapézio
em teu amor.
Do livro A Arte de Semear Estrelas, de Frei Betto.

sábado, 15 de junho de 2013

África em bom português

De um lado, pesquisadores que sentiram a necessidade de saber que tipos de publicações existiam sobre a África em língua portuguesa. Do outro, a Fundação Portugal-África, que procurava desenvolver projetos deste cunho. Da parceria surgiu o portal “Memórias da África e do Oriente”, que hoje já conta com cerca de 353.990 registros bibliográficos, entre 2.500 livros e revistas digitalizados.


Percebe-se hoje um grande empenho por parte de instituições, como a internacional Aluka (www.aluka.org) e a filial brasileira da Unesco – com seu programa intitulado “Brasil-África: Histórias Cruzadas” – em promover a valorização da cultura afrodescendente. Até meados dos anos 1990, estudiosos precisavam deslocar-se para os países que queriam pesquisar para até mesmo realizar o levantamento de informações. “Isso limitava muito as possibilidades de quem não conseguia, simultaneamente, grande disponibilidade de tempo para estar longe de casa e recursos financeiros”, argumenta o coordenador do portal “Memórias da África”, Carlos Sangreman.

Assim surgiu o projeto com o objetivo de realizar o levantamento e a catalogação de acervos documentais sobre o continente africano , com ênfase nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), no século XX. “Inicialmente, o âmbito restringiu-se apenas a instituições em Portugal, mas, progressivamente, foram sendo incorporados acervos de instituições de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe”, explica Sangreman, que reclama da falta de participação do Brasil e de Angola. Mas o programa não poderia focar apenas no mapeamento de acervos. A partir de 2005, observando-se que certos padrões de busca em sites, como o Google, levavam ao acesso imediato às obras e não apenas ao local onde se encontravam, veio a necessidade de rever as diretrizes do programa. “Esta mudança de paradigma contaminou o projeto, também porque as pessoas nos escreviam cada vez mais solicitando o acesso às obras digitalizadas”.
Em dezembro do ano passado, o “Memórias da África” já contava com 353.990 registros bibliográficos e 343.819 páginas digitalizadas. O trabalho conta com a colaboração de algo em torno de 70 instituições, sendo 35 portuguesas, 25 localizadas na Índia e as restantes distribuídas nos vários Palop. Para 2013, uma nova versão do portal está sendo planejada para facilitar disponibilização de informações atuais.

Pesquisadora responsável pelo “Programa Brasil-África”, semelhante ao da Unesco no Brasil, Marilza Regattieri afirma que a aproximação étnico-cultural promovida por iniciativas assim é fundamental, pois corrobora um entendimento mútuo. “O princípio é dar acesso ao continente africano e à sua história, permitindo o reconhecimento do papel que aquela cultura desempenhou na formação do nosso país. Mas não só isso, é importante também para que os próprios africanos passem a reconhecer a herança que seus ancestrais deixaram em outros continentes”.


http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/africa-em-bom-portugues

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