Percebe-se hoje um grande empenho por parte de instituições, como a internacional Aluka (www.aluka.org) e a filial brasileira da Unesco – com seu programa intitulado “Brasil-África: Histórias Cruzadas” – em promover a valorização da cultura afrodescendente. Até meados dos anos 1990, estudiosos precisavam deslocar-se para os países que queriam pesquisar para até mesmo realizar o levantamento de informações. “Isso limitava muito as possibilidades de quem não conseguia, simultaneamente, grande disponibilidade de tempo para estar longe de casa e recursos financeiros”, argumenta o coordenador do portal “Memórias da África”, Carlos Sangreman.
Assim surgiu o projeto com o objetivo de realizar o levantamento e a catalogação de acervos documentais sobre o continente africano , com ênfase nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), no século XX. “Inicialmente, o âmbito restringiu-se apenas a instituições em Portugal, mas, progressivamente, foram sendo incorporados acervos de instituições de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe”, explica Sangreman, que reclama da falta de participação do Brasil e de Angola. Mas o programa não poderia focar apenas no mapeamento de acervos. A partir de 2005, observando-se que certos padrões de busca em sites, como o Google, levavam ao acesso imediato às obras e não apenas ao local onde se encontravam, veio a necessidade de rever as diretrizes do programa. “Esta mudança de paradigma contaminou o projeto, também porque as pessoas nos escreviam cada vez mais solicitando o acesso às obras digitalizadas”.
Em dezembro do ano passado, o “Memórias da África” já contava com 353.990 registros bibliográficos e 343.819 páginas digitalizadas. O trabalho conta com a colaboração de algo em torno de 70 instituições, sendo 35 portuguesas, 25 localizadas na Índia e as restantes distribuídas nos vários Palop. Para 2013, uma nova versão do portal está sendo planejada para facilitar disponibilização de informações atuais.
Pesquisadora responsável pelo “Programa Brasil-África”, semelhante ao da Unesco no Brasil, Marilza Regattieri afirma que a aproximação étnico-cultural promovida por iniciativas assim é fundamental, pois corrobora um entendimento mútuo. “O princípio é dar acesso ao continente africano e à sua história, permitindo o reconhecimento do papel que aquela cultura desempenhou na formação do nosso país. Mas não só isso, é importante também para que os próprios africanos passem a reconhecer a herança que seus ancestrais deixaram em outros continentes”.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/africa-em-bom-portugues
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